Mobilizações acontecem em todo o estado e também reivindicam direitos do funcionalismo público e proposta de educação mais humanizadora
Nesta terça-feira (30), professores da rede estadual do Paraná ocupam as ruas de Curitiba para lembrar a marca de 34 anos do massacre ocorrido contra a categoria em 1988. Na época, o então governador, Álvaro Dias (atualmente, candidato ao Senado pelo Podemos), ordenou que a Polícia Militar avançasse com cavalos, cães e bombas contra trabalhadores da educação que protestavam por melhores condições de trabalho e mais qualidade no ensino público. Ao menos, 12 educadores ficaram gravemente feridos em decorrência da violência.
“Foi uma cena chocante, estávamos reivindicando direitos e numa determinada hora, precisamos nos proteger porque o governador autorizou, foi o mandante de um massacre. Parecia filme de terror, bombas pipocando, professores fugindo de um lado para o outro também da cavalaria. Eles tentavam acuar a gente, a alternativa era correr”, rememora Lúcia Helena Abelha, servidora aposentada que esteve no massacre de 1988.
Além do ato estadual na capital, marcado para às 8h30, na praça 19 de Dezembro, de onde os manifestantes irão marchar até a sede do governo do Paraná, também ocorrem atos regionais em núcleos do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) presentes em diversas cidades do estado.
Bruno Garcia, diretor da APP-Sindicato em Londrina, indica que 79% das escolas estaduais na cidade e região amanheceram sem atividades como forma de protesto à repressão. Ele pontua também que, além do ataque da cavalaria há mais de três décadas, a data relembra episódio mais recente que ficou conhecido como “Batalha do Centro Cívico”.
Em 29 de abril de 2015, a Polícia Militar, sob o comando de Beto Richa, reprimiu com extrema truculência manifestação do funcionalismo público contra a aprovação da Lei 18.469, que visava alterar o plano de previdência dos servidores estaduais do Paraná. Mais de 200 trabalhadores ficaram feridos. Em 2017, o Ministério Público decidiu arquivar a representação contra o governador sob alegação de que as forças policiais estavam protegendo a sua integridade física e a ordem.
“O 30 de agosto neste ano faz esta memória, mas também a reinvindicação dos mais de 34% da data-base que está atrasada referente à inflação e repudia o desmonte da política educacional via Secretaria do Estado de Educação. Hoje, nós temos um ensino engessado, há uma engrenagem para que torne o aluno uma mão de obra barata para o mercado de trabalho”, afirma Garcia.
Na avaliação de Sidneiva de Lima, dirigente estadual da APP-Sindicato, mesmo após mais de 30 anos, a categoria continua lutando pelas mesmas pautas: melhores condições de trabalho e salariais e outro modelo de educação de perspectiva mais humanizadora, opondo-se aos projetos de ensino executados pelas gestões de Beto Richa (PSDB) e Ratinho Junior (PSD) no estado.
“Um modelo de educação empresarial, que só busca números, não importa se está havendo ensino-aprendizagem. Existe a utilização de plataformas virtuais e o governo só de preocupa com a quantidade de acessos e não com o conteúdo que está sendo colocado. Há também um adoecimento da categoria e dos estudantes porque tem muita cobrança, ameaça, punição e isso tem trazido, inclusive, para os professores dificuldade para que possam trabalhar os conteúdos que são necessários. Ficamos muito presos a um programa determinado pelo governo, não temos liberdade pedagógica. Cada dia que passa, a categoria fica mais doente”, observa.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.