As primeiras lutas que a liderança do Partido dos Trabalhadores travará no Congresso Nacional é o combate à violência política e ampliação da lei de cotas
Carol Dartora é pioneira em diversas lutas: primeira mulher negra eleita para o Congresso Nacional pelo Paraná neste ano, com mais de 130 mil votos. Em 2020, foi também a primeira vereadora negra a chegar na Câmara Municipal de Curitiba, terceira candidata mais votada à época. Professora de História, integrante da Marcha Mundial das Mulheres e do Movimento Negro Unificado, foi secretária estadual da Mulher Trabalhadora e dos Direitos LGBTQIA+ do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato).
Ainda comemorando a eleição no último domingo (2) e trabalhando na articulação para a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, que ocorrerá no próximo dia 30, Dartora foi a convidada da estreia do nosso novo quadro “Passando a Visão”. O projeto trará uma série de lives com entrevistados que trazem contribuições para pensarmos as reinvindicações e resistências da classe trabalhadora e grupos subalternizados. Confira a seguir alguns trechos da conversa.
A liderança pontuou a violência do não pertencimento de, como mulher negra, não “se ver em nada”, a exemplo dos meios de comunicação e política. Para ela, as formas de invisibilização são consequências da escravização que silencia a população negra, lhe nega direitos e a valorização de seus saberes e experiências. Dartora lembra também do conservadorismo no estado paranaense, mas ressalta a importância dos movimentos de oposição e reeducação política para a construção de “outro Paraná”.
“A gente sabe que o Paraná faz parte de um dos três estados do Sul do país, que tem a maior quantidade de grupos neonazistas, de supremacia branca, que se constrói como um estado europeu, que invisibiliza a contribuição da população negra do Paraná, inclusive, vi movimento de historiadores dizendo que não existe população negra no Paraná, em Curitiba, que não houve escravização. Isso é reflexo do racismo estrutural que marca o Brasil inteiro”, afirma.
O aumento de candidaturas negras eleitas também foi indicado por Dartora, porém, ela salienta a necessidade de afinar o processo democrático para que a sub-representação, ainda muito presente na sociedade brasileira, seja superada. Para a representante, apenas quando as minorias sociais adentrarem os espaços de poder poderemos efetivamente considerar que vivemos uma democracia.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, para 2023, 135 candidatas e candidatos negras e negros foram eleitos para a Câmara dos Deputados, aumento de 9% em comparação ao pleito anterior, em 2018. Especificamente, mulheres negras, saltaram de 13 candidaturas eleitas para 29. No entanto, considerando que existem 513 cadeiras, o grupo representa somente 26% da Casa.
“A gente está comemorando muito que tivemos um aumento de candidatos negros eleitos para a Câmara, mas esse crescimento não significa ainda a proporcionalidade que temos que ter nesta representação. Se a gente pensar em mulheres, nós saltamos de 15% para 18% na Câmara. É muito pouco. Pensar que de 513 deputados apenas 77 são mulheres e 13 são negras. O Brasil, por ser marcado pelo racismo e machismo, não vê em mulheres e negros, possíveis lideranças. Na nossa sociedade quem tem voz de autoridade é o homem branco, acima de 45 anos. A gente tem que provar que tem competência dez vezes mais”, ela observa.
Dartora indica, ainda, a relevância de incentivos, a exemplo da Lei nº 12.034, que estabelece que cada partido deve apresentar percentual mínimo de 30% e máximo de 70% para candidaturas de cada sexo. Destaca também as contribuições de Benedita da Silva (PT), mulher negra, também eleita deputada federal pelo terceiro mandato consecutivo.
Assista a entrevista completa:
Para mais informações sobre as próximas lives, siga: @portalverdade.oficial
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.