Além do problema com a qualidade do agasalho, a mãe relata ainda que recebeu o kit com uniforme apenas em 2022 e que até agora não recebeu mais nenhuma peça
Com a aproximação do inverno, um novo capítulo no problema com uniformes das escolas cívico-militares ganha corpo e preocupa pais e mães de estudantes. A APP recebeu denúncias onde os responsáveis reclamam da qualidade das blusas dos uniformes e a proibição da utilização de moletons que não sejam do modelo solicitado pelas unidades escolares.
Uma mãe que não quis ser identificada por medo de represálias aponta que o filho, que estuda em uma escola cívico-militar de Curitiba, aponta que dias mais frios são uma preocupação, já que o agasalho é frágil.
“Não aceitam que entrem de moletom mais quente, a não ser a roupa do próprio uniforme e ele não é apropriado para o inverno”, explica a mãe.
Além do problema com a qualidade do agasalho, a mãe relata que recebeu o kit com uniforme apenas em 2022 e que até agora não recebeu mais nenhuma peça.
“Eles acham que os nossos filhos não crescem. Conheço mães com três filhos que têm que desembolsar mais de mil reais com uniformes porque o governo não enviou os kits conforme o prometido”, conta.
A responsável aponta que a escola inclusive já indicou uma empresa para que pais possam adquirir as vestimentas, que na ineficácia do Estado, lucra com a venda do uniforme prometido anteriormente.
Farra dos uniformes
Segundo denúncia apresentada pelo deputado estadual Requião Filho (PT), no começo de abril, mais de 95 mil uniformes comprados em 2021 foram inutilizados porque teriam sido entregues fora dos tamanhos e padrões.
A Triunfo Comércio e Importação Ltda venceu a licitação no valor de mais de R$ 45 milhões. O contrato foi assinado mesmo havendo condenações e suspeitas de irregularidades envolvendo os donos da empresa. O escândalo da farra dos uniformes também levanta suspeitas sobre a relação do governo com essa empresa.
Além de não ter sofrido nenhuma punição pelo descumprimento de obrigações contratuais, em 2023, a Triunfo venceu outra licitação milionária do governo do Paraná para, mais uma vez, fornecer uniformes aos(às) alunos(as) das escolas militarizadas.
As novas revelações vieram à tona na sessão da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) do dia 2 de abril. De acordo com o deputado, só agora, cerca de dois anos depois, a Seed firmou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) em que a empresa admite o problema e se compromete a recolher mais de 33 mil uniformes e entregar peças novas em até 180 dias.
A entrega gratuita de uniformes para os(as) estudantes das escolas cívico-militares é uma das estratégias utilizadas pelo governo Ratinho Jr para tentar chantagear a comunidade escolar a abandonar o modelo de ensino democrático e aderir ao militarizado.
Assim como outras mentiras e ocultação de informações envolvendo o programa, essa promessa nunca foi cumprida integralmente, obrigando as famílias dos (as) estudantes a desembolsarem valores altos para cumprir as exigências, já que os uniformes dessas escolas são mais caros do que os utilizados nos colégios democráticos.
Questionada se há uniformes a serem distribuídos e por quais motivos a distribuição não se deu de forma plena até o momento, a Seed teria respondido que “a respeito dos uniformes em estoque, eles estão distribuídos conforme ingresso dos estudantes nas unidades de ensino em que o programa colégios cívico-militares está implantado”.
Camisetas “transparentes” e condenações
As polêmicas envolvendo a compra de uniformes para as escolas cívico-militares arrastam-se com a falta de transparência e a forma autoritária de gestão do governo Ratinho Jr. O caso é investigado pelo Ministério Público desde outubro de 2021. Há suspeitas de que tenham ocorrido manobras ilegais para facilitar a vitória da empresa Triunfo no processo licitatório dos uniformes.
De acordo com informações divulgadas pelo jornal Estadão, a Triunfo é controlada pelos mesmos sócios da Nilcatex Têxtil, empresa condenada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) por cartel em licitação de uniforme escolar no período de 2007 a 2012.
Ainda em 2021, denúncias sobre a péssima qualidade do vestuário viralizaram na internet e tiveram destaque, inclusive, na imprensa nacional. Mães e pais dos estudantes reclamaram que as camisetas eram finas, “transparentes”, pequenas e descosturaram com facilidade.
Uma publicação do governo nas redes sociais, divulgando a entrega de 1.837 kits de uniformes na cidade de Umuarama, ganhou o mundo em novembro daquele ano. Nas imagens, chama atenção um buraco na altura da axila de uma estudante que usava a camiseta fornecida pelo governo, durante a cerimônia política. A postagem foi apagada.
Fonte: APP Sindicato