Sorteados para receber terrenos no Jardim Jequitibá , na Zona Norte de Londrina, se sentem enganados pela companhia de habitação
Moradores que foram sorteados em dezembro de 2021 para receber terrenos da Companhia de Habitação (Cohab) no Jardim Jequitibá, na Zona Norte de Londrina, farão um protesto no local neste sábado (1). Eles se queixam de uma série de problemas que não esperavam enfrentar para construir suas casas.
Segundo a babá Greice Crismara, que vive no Aparecidinha – ocupação ao lado do Jardim São Jorge (Zona Norte) -, a insatisfação é geral. Os moradores reclamam que estão tendo despesas inesperadas, que não teriam sido comunicadas pela Companhia de Habitação na época do sorteio.
Primeiro foi o IPTU, que começou a ser cobrado antes do prazo de um ano dado pela Cohab para eles começaram a construir. “Em janeiro (de 2022) já ligaram para a gente falando do imposto.”
Segundo ela, os carnês foram entregues com os números dos lotes impressos e com os nomes dos “proprietários” escritos à caneta o que representaria, na opinião da babá, pressa exagerada do Município em começar a cobrar imposto.
No primeiro ano, segundo Greice, os valores foram de R$ 200 a R$ 800, conforme o terreno. Em 2023, o menor valor teria subido para R$ 271 e o maior passaria de R$ 1 mil.
A babá diz que os moradores esperam a aprovação de um projeto na Câmara Municipal incluindo os lotes urbanizados pela Cohab no IPTU Social, que já beneficia os moradores do programa Minha Casa Minha Vida. A proposta prevê um valor fixo de R$ 50 no imposto dessas residências.
O Jequitibá foi entregue com água, rede de esgoto e asfalto. Para ter acesso à energia elétrica, a Cohab informou que os futuros moradores precisariam comprar postes. “Antes, diziam que a gente não precisava se preocupar com nada, mas quando gente foi providenciar os postes, eles custavam R$ 1,8 mil. De onde a gente ia tirar esse dinheiro?”, questiona.
De acordo com a babá, depois de intermediação feita por meio da vereadora Mara Boca Abera, a Cohab sorteou postes para cerca de 90 famílias. “Mas vieram com uma caixa só. Por que não puseram duas como em todo lugar para que o vizinho também pudesse usar? Aí dava para beneficiar o dobro de famílias”, critica.
Ela também alega que os moradores se surpreenderam com a quantidade de pedras que encontraram nos terrenos. “Tivemos que pagar para tirarem as pedras. Como a gente não tem dinheiro para alugar maquinário, tiraram na mão. São pedras muito grandes”, afirma.
Outra descoberta tardia, segundo a moradora, foi que parte dos lotes exigem muro de arrimo para a construção das casas. “Fomos saber quanto custa e descobrimos que são R$ 45 mil. Pensa, se eu tenho R$ 45 mil, você acha que eu vou participar de sorteio da Cohab? Vou é dar entrada numa casa em outro lugar”, declara.
Além de tirar as pedras da área, os “proprietários” precisaram colocar terra nos terrenos. “Foram mais de 20 caminhões. A Prefeitura deu a terra que veio de obras da cidade. Mas não levou até os terrenos. Deixou num ponto e tivemos de pagar o transporte. A Cohab nunca falou para a gente que iria precisar dessas coisas”, reclama.
Protesto: babá se arrependeu do negócio
Recentemente, os moradores do Aparecidinha tiveram uma reunião com representantes da Cohab e o proprietário da área onde fica a ocupação. E descobriram que há um projeto bem adiantado para regularização do assentamento.
Desde então, Greice está arrependida de ter aceitado o terreno do Jequitibá no qual já construiu o baldrame e as paredes da futura casa. “Se eu soubesse que iam regularizar aqui eu não tinha investido o dinheiro lá. Aqui é melhor porque é perto do posto de saúde. Lá nem tem sinal de celular”, alega.
Ela não tem ideia de quando vai mudar para a nova casa. “Vou construindo conforme o dinheiro vai entrando”, conta. Greice cuida de crianças de outras famílias numa espécie de creche que montou na própria casa (foto em destaque). “Vivo de Bolsa Família e de mais R$ 150 que ganho por cada criança”, explica.
Ela tem uma filha de 12 anos e um menino de 4 anos. A moradora do Aparecidinha ainda está pagando um empréstimo consignado de R$ 2.470 que tomou para financiar a obra. São R$ 200 por mês a menos no Bolsa Família de R$ 600.
O consignado no benefício foi uma das medidas tomadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na tentativa frustrada de se reeleger no ano passado. Parece bom, mas pode tornar-se um pesadelo. Ao final de dois anos, Greice terá pago R$ 3.800 ao banco, ou seja, vai arcar com mais de R$ 1.300 em juros.
Fonte: Rede Lume