Também são as mais atingidas pela informalidade e subutilização no estado
Em face do Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado nesta segunda-feira (20), o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) publicou boletim especial nomeado “As dificuldades da população negra no mercado de trabalho”.
O levantamento evidencia as múltiplas desigualdades que influenciam a entrada e permanência de trabalhadoras e trabalhadores negros no mercado. Os dados partem da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PnadC-IBGE) e referem-se ao 2º trimestre de 2023.
De acordo com o mapeamento, aproximadamente um terço da população paranaense é negra (34,6%). O índice coloca o estado com a maior proporção de negros na região Sul. Ainda, segundo o DIEESE, no Paraná, mulheres negras são as mais atingidas pela informalidade (34,4%). Entre homens negros, a taxa de trabalhadores desassistidos é de 29,4%. Deste modo, se considerarmos mulheres e homens negros que integram a mão de obra no estado, a maioria está sem acesso a direitos (63,8%).
Mulheres negras também são as mais afetadas pela subutilização (16,8%). Entre mulheres brancas, o percentual é de 11,2%. Já entre homens negros regride para 8,6% e entre homens brancos atinge o menor patamar: 7,2%.
O indicador demonstra o percentual da população com 14 anos ou mais que estava desempregada, em busca de emprego ou trabalhando menos do que 40 horas semanais.
Segundo a antropóloga Thaís Oliveira, a persistência das desigualdades intragênero, ou seja, entre mulheres, ressalta a necessidade dos coletivos e movimentos negros cuja atenção é voltada, especificamente, para a realidade das mulheres negras, considerando as diferentes opressões as quais estão submetidas, isto é, de gênero e pertencimento étnico-racial.
“Não se trata de criar hierarquizações, mas desenvolver um olhar mais aprofundado e cuidadoso sobre as condições de vida das mulheres negras que são ainda mais vulnerabilizadas do que as brancas, seja nos índices de violência, inserção no mercado de trabalho, meios de comunicação, espaço no qual ainda são minoria e quando aparecem são estigmatizadas, majoritariamente, em papeis de subalternidade, com menor prestígio social. Há uma exploração do corpo da mulher negra que é abordado de maneira hipersexualizada”, explica.
“A mulher negra sofre processos de exclusão e violência advindos do sexismo, ou seja, pela condição de ser mulher em uma sociedade patriarcal e do racismo, por ser negra em uma ordem social cuja branquitude é sinônimo de poder. Levantamentos como este são muito importantes, pois salienta as desigualdades e ao mesmo tempo permite apontar as diversas formas de resistência criadas”, reforça Oliveira.
Menos chances de liderar e salários mais baixos
Mulheres negras ocupando cargos de gerência no estado representam somente 1,6%. Entre homens brancos, a porcentagem chega a 5,1%. Isto é, homens brancos têm três vezes mais chances de desempenhar funções de liderança do que mulheres negras.
Ainda segundo o levantamento, enquanto homens brancos ganham, em média, R$ 3.895 por mês, mulheres negras possuem rendimento mensal de R$ 1.935. Isto quer dizer que, mulheres negras recebem quase metade do salário obtido por homens brancos no estado.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.