Em 2022, mulheres dedicaram 9,6 horas a mais do que homens a afazeres domésticos ou cuidado de pessoas por semana
Levantamento realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com base em dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) sobre formas de trabalho, identificou que, no último ano, as mulheres dedicaram 9,6 horas a mais do que homens a afazeres domésticos ou cuidado de pessoas por semana.
Em 2022, elas destinaram, em média, 21,3 horas por semana ao trabalho doméstico ou de cuidado. Entre os homens, o índice foi de 11,7 horas voltadas a mesmas atividades. Desde que o estudo começou a ser desenvolvido, em 2016, é a primeira vez que a diferença fica abaixo de dez horas. Mas o IBGE considera que a redução da desigualdade ocorre em ritmo lento.
A antropóloga Rosane Lacerda indica que a desigualdade não é uma especificidade do Brasil. De acordo com ela, atividades domésticas e de cuidado são historicamente atribuídas às mulheres. “Embora a participação da mulher no mercado de trabalho tenha crescido, ainda temos a compreensão de que ela é a principal responsável pela organização do ambiente privado, doméstico. Esta noção está assentada no ideal hegemônico de feminilidade que associa à mulher ao cuidado de espaços e pessoas. Na prática, o que acontece é que mulheres são submetidas a ainda mais sobrecarga de trabalho”, diz.
Chama atenção que entre homens que moram sozinhos, a quantidade de horas dedicadas aos afazeres é menor, chegando a 14,3 horas. Ou seja, são quase três horas a mais. Para a pesquisadora, o dado evidencia a desigualdade. “É interessante notar que no caso dos homens que dividem a casa com mulheres sejam companheiras, mães, irmãs, a diferença é maior, o que indica que mesmo compartilhando o mesmo espaço e sendo igualmente responsáveis pela manutenção, o cuidado ainda recai mais sob elas”, diz.
No geral, brasileiras e brasileiros gastaram 17 horas semanais com tarefas domésticas e de cuidado no período. O número é o maior desde que a investigação foi iniciada. O estudo abrange aproximadamente 148 milhões de pessoas com 14 anos ou mais que realizam trabalho doméstico na própria casa ou de parentes.
Escolarização influencia
Também segundo a pesquisa, o nível de instrução impacta no desenvolvimento do trabalho doméstico. Mulheres com ensino médio completo e superior incompleto são as que mais realizam as tarefas (93,3%). Em seguida, sem diferença significativa, estão as que possuem ensino superior completo (93%).
Entre homens com ensino superior completo, o contingente atinge 86,2%. Já entre aqueles sem instrução ou com ensino fundamental incompleto cai para 74,4%.
Atividades
Preparar e servir alimentos, arrumar a mesa e levar a louça são as atividades mais frequentes entre as mulheres (95,7%). Entre os homens as mesmas funções são exercidas por 66%. A diferença é de 29,7 pontos percentuais.
Já entre os homens, a realização de pequenos reparos ou manutenção do domicílio, automóvel e eletrodomésticos é mais recorrente (60,2%). Entre as mulheres, a proporção ficou em 32,9%. Esta é a única modalidade de afazer doméstico em que os homens atribuíram mais horas do que as mulheres.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.