Elas também representam a maior parcela de trabalhadores sobrevivendo na informalidade e desempregados
Dados do 2º trimestre de 2022 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstram que a população negra corresponde a maioria dos brasileiros: 55,8%. Os estados do Maranhão e Bahia possuem a maior e mesma proporção: 80,9% dos habitantes nas duas unidades federativas é composta por negros. Já o Rio Grande do Sul é a localidade com menor presença: 20,6%.
Negros também constituem a maior parte da força do trabalho em atividade no país. De 98,2 milhões de ocupados, mais de 53 milhões são negros, sendo: 31,3 milhões homens e 21,9 mulheres. Embora, elas sejam minoria quando comparadas ao sexo masculino, mulheres negras são maioria em postos de trabalho desprotegidos: 47,5% estão na informalidade, ou seja, empregadas, porém sem carteira assinada e, portanto, sem contribuir com a Previdência Social. Mulheres brancas, por sua vez, representam 34,9% dos trabalhadores sem acesso a direitos, isto é, 12,6% a menos do que as primeiras.
Segundo a antropóloga Thaís Oliveira, a persistência das desigualdades intragênero, ou seja, entre mulheres, ressalta a necessidade dos feminismos negros cuja atenção é voltada, especificamente, para a realidade das mulheres negras, considerando as múltiplas opressões as quais estão submetidas.
“Não se trata de criar hierarquizações, mas desenvolver um olhar mais aprofundado e cuidadoso sobre as condições de vida das mulheres negras que são ainda mais vulnerabilizadas do que as brancas, seja nos índices de violência, inserção no mercado de trabalho, meios de comunicação, espaço no qual ainda são minoria e quando aparecem são estigmatizadas, majoritariamente, em papeis de subalternidade, com menor prestígio social. Há uma exploração do corpo da mulher negra que é abordado de maneira hipersexualizada”, explica.
Entretanto, se mulheres negras são minoria em cargos de direção e gerência (2,1%), elas formam a maior parcela da sociedade desempregada: 13,9%. A desigualdade também pode ser observada no rendimento. Enquanto homens não negros ganharam em torno de R$ 3.708, mulheres negras tiveram pagamento médio mensal de R$ 1.715. A diferença de valor totaliza R$ 1.993, ou seja, mulheres negras receberam apenas 46% da quantia paga a homens brancos no período.
Paraná
No Paraná, negros representam 35% da população. Contudo, mulheres negras totalizam 32,2% dos trabalhadores desassistidos no território. O índice é menor do que taxa nacional (47,5%). Ainda, de acordo com o estudo, no estado, elas ocupam somente 2,5% dos postos de liderança. Já o rendimento médio atingiu R$ 1.806 enquanto entre homens brancos, a remuneração chegou a R$ 3.530.
“A mulher negra sofre processos de exclusão e violência advindos do sexismo, ou seja, pela condição de ser mulher em uma sociedade patriarcal e do racismo, por ser negra em uma ordem social cuja branquitude é sinônimo de poder. Levantamentos como este são muito importantes, pois salienta as desigualdades e ao mesmo tempo permite apontar as diversas formas de resistência criadas”, reforça Oliveira.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.