Entre homens, desistência dos estudos para cuidar de afazeres domésticos é inexpressivo
Em 2023, quase metade dos jovens de 14 a 29 anos com ensino médio apontou a necessidade de trabalhar como fator prioritário para ter abandonado ou nunca frequentado escola (41,7%). O índice subiu 1,5 ponto percentual em comparação a 2022.
Para a maioria dos homens nesse grupo etário, o principal motivo para deixar a escola foi a necessidade de trabalhar (53,4%), seguido pela falta de interesse em estudar (25,5%). Os dados foram coletados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Já para as mulheres, o principal motivo foi também a necessidade de trabalhar (25,5%), seguido pela gravidez (23,1%) e por não ter interesse em estudar (20,7%).
Ainda, para 9,5% das mulheres, os afazeres domésticos ou o cuidado de pessoas foram o principal motivo para terem abandonado ou nunca frequentado escola, enquanto entre homens, este percentual foi inexpressivo (0,8%).
A socióloga Carla Pedroso Almeida aponta que um dos fatores que historicamente tem afastado as mulheres das salas de aula e mercado de trabalho, sobretudo, concomitantemente, é o trabalho doméstico e de cuidado.
“O tempo dedicado por mulheres ao trabalho doméstico e cuidado de terceiros, sejam filhos, idosos, entre outros dependentes, tem aumentado e, portanto, a discrepância em comparação à carga horária destinada por homens as mesmas atividades, também tem crescido. Em um dos últimos mapeamentos do IPEA, observou-se que o fato de ser mulher leva a um aumento de 11 horas semanais voltadas ao trabalho doméstico. Com esta maior jornada, as possibilidades de ingressar no mercado de trabalho e dar sequência aos estudos tornam-se mais restritas”, avalia.
De acordo com a pesquisadora, esta desigualdade ainda está fundamentada na ideia de separação entre espaço público e privado. “Ainda caso certo espanto aqueles arranjos familiares em que o homem, pai fica em casa cuidando dos filhos enquanto a companheira sai para trabalhar, garantir o sustento da casa. Isto porque, no imaginário social dominante, a divisão sexual do trabalho, tende a destinar mulheres ao ambiente doméstico e os homens ao espaço público. Porém, esta visão além de machista, nem sempre condiz com a realidade, já que temos acompanhado o crescimento de lares chefiados por mulheres, mães solo”, acrescenta.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.