Para mulheres e mães, a dificuldade de encontrar uma vaga é ainda maior
Levantamento realizado pela ONG Visão Mundial, iniciativa que atua com foco nas crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, buscando a erradicação da violência, identificou que a maioria dos imigrantes que vivem no Brasil está fora do mercado de trabalho (67,4%).
O mapeamento ouviu 264 pessoas, na maior parte venezuelanos, e residentes nas cidades de Boa Vista, Manaus e São Paulo. Chama atenção o fato de que taxa de empregabilidade é ainda menor entre as mulheres imigrantes: apenas 42% estão inseridas na força de trabalho e aquelas que não conseguem um posto, majoritariamente, são mães.
Atualmente, o país tem aproximadamente 1,5 milhão de imigrantes, sendo que cerca de 650 mil são refugiados ou solicitantes de refúgio.
Entre 2011 e 2021, no Brasil, o número de imigrantes no mercado de trabalho formal saiu de 62 mil para 188 mil. Em 2017, o país criou o Estatuto do Imigrante (Lei nº 13.445), mas pesquisadores alertam sobre a situação precária dessa parcela da população mesmo após o estabelecimento da legislação.
Em 2022, em todo o país, foram criadas 35 mil vagas para imigrantes. A maioria dos imigrantes empregados é de venezuelanos, 147 mil. Os haitianos aparecem em segundo lugar, com 62 mil empregos. Ainda, foram concedidas 25 mil autorizações de residência com justificativa de trabalho no ano passado, principalmente para filipinos, chineses, americanos e britânicos, na maioria homens com ensino médio ou superior.
“O idioma é um elemento que frequentemente dificulta atrelado a emissão de documentos que são requeridos nas contratações. Muitas vezes, pessoas imigrantes não tem acesso a estas informações. Por isso é urgente a implementação de programas que forneçam esta rede de apoio e orientação”, alerta Luciana Medeiros, advogada, especialista em Direito Internacional.
“Diversos fatores levam uma pessoa a migrar como desemprego, fome, sair de uma zona de conflito, cuidados com a saúde. Entre camadas mais vulneráveis, geralmente, as razões estão associadas a procura por melhores condições de vida em primeira instância. Muitas vezes, além de si, com a renda gerada no país, o trabalhador imigrante mantém também o sustento de sua família que está distante”, assinala.
Informalidade
Ainda segundo a investigação, predominantemente os entrevistados afirmaram que não estão trabalhando no mesmo setor de experiência de seu país natal (85,3%). A maioria está desprotegida, ou seja, na informalidade com destaque para a função de diarista (65%), seguida de trabalhadores com vínculo formal (20%) e empreendedores (16%).
“Pessoas refugiadas têm somente 30% das chances de um brasileiro de conseguir uma vaga de emprego formal no Brasil, ou seja, explicitamente há uma grande desigualdade. Sem renda, estas pessoas que já estão em situação de vulnerabilidade, tornam-se ainda mais alvo de todas as formas de exploração”, acrescenta Medeiros.
Londrina
De acordo com dados do programa de Atendimento e Acompanhamento aos Migrantes, Refugiados e Apátridas, uma parceria entre a Cáritas Arquidiocesana e a Secretaria Municipal de Assistência Social de Londrina, a cidade tem, atualmente, cerca de 1.830 migrantes de 46 nacionalidades, principalmente, da Venezuela, Colômbia, Haiti, Angola, Argentina e Afeganistão.
Na cidade, também existe o Grupo de Trabalho para Migrantes, Refugiados, Apátridas e seus familiares de Londrina e Região, sendo uma de suas principais finalidades a inserção socioeconômica e promoção do trabalho decente.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.