Em média, defasagem representa R$ 926 a menos por mês no bolso das trabalhadoras
Neste mês de março, que marca o Dia Internacional da Mulher (8M), o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (DIEESE), tem publicado uma série de levantamentos que permitem melhor compreender a realidade das trabalhadoras brasileiras. Segundo dados obtidos através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), em 2022, o Brasil contava com 89,6 milhões de mulheres com 14 anos ou mais, sendo que 47,9 milhões integravam a força de trabalho do país.
Conforme demonstrado pelo Portal Verdade, aproximadamente 42 milhões de mulheres estavam fora do mercado de trabalho no último ano e entre as que buscavam uma vaga, a maioria era negra (3,4 milhões). Também o número de mulheres desalentadas, ou seja, que gostariam de trabalhar, mas desistiram de procurar uma vaga porque acham que não vão encontrar, chegaram a 2,3 milhões. A maior parte é de mulheres negras (1,6 milhão) enquanto brancas representam 672 mil. Observamos, portanto, que 69% da força de trabalho feminina inativa e sem perspectiva no país, é constituída por mulheres negras (saiba mais).
A pesquisa também traz informações sobre diferentes regiões do país. No Paraná, em 2022, existiam 2,6 milhões de mulheres no mercado de trabalho. Já 182 mil estavam desempregadas. O índice de desocupação alcançou 6,7%. Na região Sul, o estado fica em segundo lugar, já que o Rio do Grande do Sul lidera com a maior proporção de mulheres desempregadas (7,7%). Já Santa Catarina possui a menor taxa de trabalhadoras desocupadas (4,7%).
Também no território paranaense, mulheres ganharam 28% menos do que homens no mesmo período. Enquanto o salário delas ficou em R$ 2.359, o deles chegou a R$ 3.285. A defasagem representa R$ 926 a menos por mês. Entre os três estados sulistas, a maior diferença salarial entre mulheres e homens ocorre no Paraná. Santa Catarina e Rio Grande do Sul acumulam o mesmo índice: 24%.
Ainda, no Paraná, a proporção de mulheres que recebem até um salário-mínimo é de 29,8%. Entre mulheres negras, o contingente salta para 35,6%, contabilizando, aproximadamente 925 mil. Também no último ano, 74% contribuiram com a Previdência Social no estado e 34,1% sobreviviam na informalidade, isto é, sem acesso a direitos trabalhistas como descanso semanal remunerado, férias, 13º salário.
Para a advogada trabalhista, Julia de Almeida, os dados evidenciam a necessidade de políticas interseccionais, ou seja, que considerem identidade de gênero, classe, pertencimento étnico-racial, orientação sexual, localidade, também para o mercado de trabalho.
“Historicamente, temos visto que pessoas negras têm ocupado os postos mais precarizados, estando mais condicionadas ao desemprego e informalidade. Porém, fazendo o recorte de gênero, as mulheres negras encontram-se ainda mais vulnerabilizadas do que homens negros em termos de desocupação, menor renda, são as que menos têm possibilidade de contribuir com a Previdência, justamente pelos salários mais baixos e altos índices de informalidade”, explica.
A profissional também salienta a importância de investigações mais aprofundas que considerem a identificação étnico-racial das trabalhadoras e trabalhadores. “Quem é a classe trabalhadora hoje no Brasil? É sabido que não estamos falando de um grupo homogêneo, muito pelo contrário. Em determinados segmentos há maior participação de mulheres, inclusive, de mulheres negras, como o trabalho doméstico, setor extremamente desvalorizado. É preciso conhecer com quem estamos falando e definir projetos que atendam as demandas destes segmentos específicos”, reforça.
Nesta quarta-feira (22), o Senado aprovou projeto que determina a inclusão de informações sobre pertencimento étnico-racial nos registros administrativos direcionados aos empregadores e aos trabalhadores do setor privado e do setor público, a fim de subsidiar programas e políticas públicas. O Projeto de Lei 6.557/2019, altera o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288, de 2010) para determinar procedimentos e critérios de coleta de informações relativas a cor e raça no mercado de trabalho.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.