Paraná é o terceiro estado com mais demissões no período
Neste mês de setembro, o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) divulgou nova edição da PEB (Pesquisa do Emprego Bancário). As informações partem do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), isto é, sistema utilizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego para o registro de admissões e demissões de trabalhadores com vínculo formal no Brasil.
De acordo com a investigação, somente em julho, o setor bancário perdeu 634 vagas de trabalho, decorrência de 2.951 admissões contra 3.585 desligamentos. É o décimo mês consecutivo com redução do número de postos. Entre outubro de 2022 e julho de 2023, os bancos fecharam 6.273 vagas. Já para o acumulado dos últimos 12 meses, o saldo negativo atingiu 5.120 vagas.
Ainda, segundo o levantamento, o fechamento de postos de trabalho ocorreu tanto nas pequenas agências bancárias quanto nas matrizes, onde há alocação de grande número de trabalhadores. Porém, de janeiro até julho deste ano, a maioria dos desligamentos aconteceu em estabelecimentos de menor porte com até 50 trabalhadores. No total, foram contabilizadas 3.494 dispensas no período (61%).
Já nas unidades com mais de 1.000 trabalhadores, foi observado o fechamento de 1.258 vagas no mesmo ínterim (22%). A maior parte das demissões ocorreu sem justa causa (57,4%). Em seguida, estão os pedidos de saída solicitados pelos próprios funcionários (36,5%) e demissão com justa causa (3,5%). O fechamento de vagas se deu em 16 estados, com destaque para São Paulo (-412 postos), Minas Gerais (-153 postos) e Paraná (-62 vagas).
Laurito Porto Filho, secretário de Formação do Sindicato dos Bancários de Londrina e Região e membro do Coletivo de Sindicatos de Londrina evidencia que, apesar empresários justificarem as demissões com o desenvolvimento da tecnologia e automação dos processos, a principal motivação é a redução de custos.
“Se você perguntar para os banqueiros, eles vão dizer que esta redução do quadro de funcionários se deve à Revolução 4.0, ou seja, à tecnologia. Mas o que a gente consegue ver na prática é que a diminuição do número de trabalhadores na categoria bancária é provocada, principalmente, pela busca incessante dos banqueiros em maximizar seus lucros. E a principal ferramenta que eles têm utilizado nos últimos 40 anos é diminuir o custo operacional representado pelo quadro de funcionários e locais de trabalho, ou seja, a manutenção das agências e departamentos dos bancos”.
Filho pontua que, nos últimos anos, marcas como Santander, Bradesco e Itaú têm fechado agências na região de Londrina, levando, assim, à demissão em massa de trabalhadores. O DIEESE não disponibilizou os dados estratificados por cidade. O sindicalista lembra que com a Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467), a obrigatoriedade de homologar as rescisões de contrato junto aos sindicatos foi retirada, o que também dificulta o acompanhamento das demissões. Ainda assim, é sabido que a quantidade de dispensas tem sido grande e arbitrária, afetando, inclusive, funcionários que possuem estabilidade devido a problemas de saúde.
“Nós não temos 100% da categoria sindicalizada, temos um percentual de aproximadamente 70% de sindicalizados então os outros 30%, a gente acaba não conseguindo levantar estes dados de forma tão rápida para saber como ficou o quadro de demissões. Mas a gente sabe que o quadro de demissões foi elevado e os problemas principais é que os bancos acabaram demitindo pessoas que tinham problemas de saúde e possuíam estabilidade de emprego diante de um problema de saúde. Temos olhado esta situação e conseguimos reintegrações ao trabalho”, conta.
Também com base no estudo, o desemprego tem ocorrido de forma mais acentuada entre mulheres, que representam 47,2% das admissões e 51,4% dos desligamentos. É possível notar diferenças entre as faixas etárias também. Entre jovens, com até 29 anos, foram abertas 667 vagas em julho último. Já para as faixas etárias superiores, foi notado movimento contrário, com fechamento de 1.301 vagas.
Procurar sindicato é fundamental
Filho ressalta que, mediante casos de demissão, a orientação é que o trabalhador, mesmo que não seja filiado, procure o sindicato que representa sua categoria. A entidade pode ajudar o colaborador na verificação do cálculo das verbas rescisórias bem como a identificar se há irregularidades. “Sempre orientamos o trabalhador a vir procurar o sindicato para gente orientá-lo quanto à homologação do seu contrato de trabalho”, assinala.
O salário mensal médio do bancário admitido em julho alcançou o valor de R$ 5.360,68 enquanto o do desligado foi de R$ 7.332,32.
Demissões também afetam população
Para o sindicalista, as demissões não impactam apenas os trabalhadores do segmento bancário, mas a população de maneira mais ampla, já que com o fechamento de agências, as pessoas precisam se deslocar para outras localidades a fim de ter acesso aos serviços bancários como saques e pagamentos. De acordo com ele, pelos menos cinco cidades nos arredores de Londrina não possuem nenhum posto de atendimento.
A indisponibilidade também prejudica o desenvolvimento das economias locais, pois a circulação de dinheiro diminui nos municípios. “Cidades onde ocorreu a diminuição do número de agências, mas ainda possui atendimento bancário, a gente acaba percebendo para a população em geral, uma dificuldade em conseguir atendimento, uma vez que a agência que continua aberta acaba recebendo os clientes das agências que foram fechadas, apesar de alguns trabalhadores permanecerem dentro do banco, ocorre uma diminuição no quadro de funcionários e a distribuição de clientes por trabalhadores acaba sendo maior”, diz.
Entre os reflexos, estão a demora e baixa na qualidade do atendimento. Por sua vez, as condições de trabalho da categoria tornam-se ainda mais precarizadas, com aumento de jornadas e cobrança por metas inatingíveis.
“Sempre que vem a campanha salarial dos bancários é levantada esse problema da contratação de trabalhadores para que não ocorra sobrecarga de trabalho do bancário e a população tenha atendimento adequado. Percebemos que os clientes estão procurando outras empresas do ramo financeiro para conseguir que seus anseios na intermediação financeira tenham uma solução. Vemos um aumento de clientes indo para bancos digitais e cooperativas de crédito. A movimentação que os bancos vêm fazendo, de uma certa maneira acaba alimentando a concorrência e não buscando uma solução que seja mais efetiva e não provoque um problema tanto para os clientes das suas instituições e, principalmente, não provoque problemas que afetam a saúde mental dos seus trabalhadores”, indica.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.