As imagens estarrecedoras da população Yanomami em estado de desnutrição descortinou uma série de violências estruturais. Logo, o sujeito social por trás apareceu, o garimpo! Depois, o Estado cúmplice que lhe havia dado suporte político, por meio da narrativa do ex-presidente Bolsonaro, de que o território indígena precisava ser explorado. No limite, então deveríamos ‘calçar tudo, fazer umas tantas rodovias e outro tanto shopping center’? Qual o sentido de ter tapete verde amazônico, se podemos ter esse ‘mar de cimento e bugigangas vendidas em vitrines’?
Esses elementos trazem à tona o que já defendi nessas colunas outras vezes, que o modelo bandeirante de exploração econômica no Brasil precisa ser superado e ser substituído por uma nova coordenada de desenvolvimento econômico, onde as classes populares orientem a forma de produzir e suas finalidades. E, na atual conjuntura de um novo governo, é essencial para vencer as sombras autoritárias que rondam o país.
Para retomar a ideia, defino esse modelo bandeirante como uma reprodução histórica de uma ocupação extensiva do território brasileiro, onde se configura uma lógica econômica de exploração e de poder econômico e social. Isto é, uma forma de produzir mercadorias a partir da invasão de terra indígenas, do desmatamento, do extermínio de populações tradicionais e da exportação de recursos naturais. É um modelo concentrador e antieconômico no longo prazo. Pois, quem ganha são uns poucos, à custa do ambiente que dá base física para a economia gerar bens e serviços. As cidades são contaminadas pela fumaça e pelo aquecimento global. Esses desequilíbrios impactam na produtividade da terra, tornando-a menos fértil (sugadas pelo monocultivo).
Por fim, os sujeitos sociais ganhadores matam para ganhar dinheiro e alimentam uma necroeconomia e necropolítica. Como se viu em várias dimensões dos conflitos amazônicos, desde a morte do ambientalista Bruno Pereira, até o genocídio da população Yanomami. São esses fascistas que foram para o ‘tudo ou nada’ no ano passado, explorando terras, expulsando povos originários e cometendo uma série de atrocidades e são eles que financiam os atos estapafúrdios dos golpistas.
O governo de Lula entrou de forma avassaladora, se comprometendo com a população Yanomami. Nesse processo, está sendo importante o ministério de populações originárias e a reestruturação do ministério do meio ambiente. Esses dois setores precisarão trabalhar juntos. Além de mantermos viva a pauta “sem anistia”, pois é necessário ir atrás desses sujeitos sociais, em sua natureza golpista.
Dessa forma, é vital para a economia e democracia brasileira enfrentar o garimpo, os grileiros, os desmatadores, ao mesmo tempo, defender a Amazônia e novos tipos de desenvolvimento socioambiental. Dessa forma, temos uma oportunidade histórica de acertar contas com formas de exploração que prejudicam o desenvolvimento econômico. Para isso, precisamos ir até às últimas consequências, sem ter tempo para passar panos quentes na radical barbárie desses atores sociais que prejudicam a soberania alimentar e ambiental do Brasil.
Venâncio Oliveira
Doutor em economia e escritor. Trabalha com assessoria sindical. Ministrou cursos em comunidades e organizações sindicais na América Central e no México de alfabetização econômica e economia política.