Por Venâncio de Oliveira
Auxílio emergencial de R$ 600,00 e a política tributária visando o estancamento do crescimento do preço dos combustíveis e do gás denotam um giro desesperado do bolsonarismo, que intervém na economia numa suposta preocupação com o povo. Além disso, elas demonstram a falácia da ideologia neoliberal, assim como, são políticas fadadas a ceder frente ao dique da instabilidade internacional.
Primeiro, a falácia neoliberal de que o mercado se autorregula e garante uma racionalidade na produção, emprego e distribuição de renda se demonstra nesse ato de desespero. O governo tem de intervir, gastar e contribuir com uma transferência direta de renda, pois o mercado não gera emprego com salário suficiente para as pessoas. A Pandemia, o alto custo de vida e a inflação de preços sem ligação com a demanda demonstram desequilíbrios de um mercado dominado por monopólios e burguesias que manipulam e utilizam o Estado ao seu favor. E em uma sociedade democrática, a fome pesa nos votos, assim, em um ato de desespero, o governo de Guedes e Bolsonaro flexibilizam seus dogmas e intervém no mercado.
Por outro lado, e isso é importante, o neoliberalismo não é a ausência de Estado, mas sim uma redefinição de suas prioridades. A política de preços da Petrobrás é uma ação que orienta os recursos públicos em favor dos acionistas da Petrobrás. O corte de impostos é uma forma de manipulação para que a economia não aumente ainda mais seus desequilíbrios, à custa de retirar dinheiro para saúde e educação.
Porém, mesmo com esse intervencionismo tosco, a pressão inflacionária é alta, principalmente devido a desvalorização cambial e a fragilidade frente a dinâmica externa. O dique internacional e a instabilidade de um mercado que valoriza e desvaloriza em pouco tempo colocam em dúvida o poder de intervir do bolsonarismo. Pois, os R$ 600,00 do auxílio podem esfumar com um incremento do custo de vida, dado uma nova alta dos preços dos combustíveis.