Município argumenta que eles não se interessam mais pelos processos seletivos. Órgão de fiscalização, por sua vez, destaca que é preciso melhorar as condições de trabalho justamente para atrair a atenção dos profissionais
O Observatório de Gestão Pública de Londrina passou os últimos meses analisando a crise da falta de médicos na cidade, agravada, principalmente, pela ausência de interesse dos pediatras pelo serviço público. Durante este período, o órgão de fiscalização pediu explicações à Secretaria Municipal de Saúde e também ouviu a Associação Médica de Londrina (AML), entidade que representa os profissionais.
Num primeiro momento, o Observatório apontou pela necessidade da realização de novos concursos para a contratação de médicos no município, mas recebeu em resposta, em reunião com o secretário de Saúde, Felippe Machado, a informação de que os testes seriam pouco viáveis, uma vez que não atraem mais a atenção dos profissionais. Nos últimos seis anos, por exemplo, de acordo com dados divulgados pela secretaria em abril, foram realizados cinco chamamentos, com a oferta de 36 vagas para pediatras, mas apenas cinco delas foram preenchidas.
Diante da resposta, o Observatório procurou então a Associação Médica, que confirmou a falta de interesse dos médicos. Conforme a entidade, eles se afastaram do serviço público por conta das precárias condições de trabalho. Em ofício encaminhado ao órgão de fiscalização, a AML listou uma série de melhorias que devem ser colocadas em prática pela Prefeitura para chamar a atenção dos médicos. A principal delas envolveria a criação de um novo Plano de Cargos, Carreira e Vencimentos, mudando o atual expediente de 40 horas semanais de trabalho por um menor e abolindo o sistema de contratação dos médicos como “promotores de saúde”. Quem explica é a diretora de Controle Social do Observatório, Jacira Tonello.
Os médicos, segundo a associação, também pedem por uma melhor estrutura física para trabalhar, principalmente no Pronto Atendimento Infantil (PAI) e nos postos de saúde; pela reposição das perdas salariais acumuladas entre os anos 2000 e 2009; e pela complementação dos percentuais pagos pelo exercício de Atividade de Responsabilidade Técnica (ART). De acordo com a entidade, os médicos recebem hoje 25% de ART enquanto os demais funcionários de nível superior alcançam 70%. Associação Médica e Observatório também defendem que é preciso repensar a saúde pública no município, por meio de maiores investimentos nas Unidades Básicas de Saúde e na Estratégia de Saúde da Família que, de acordo com as entidades, é mais barato e muito mais resolutivo.
Jacira Tonello também criticou o atual modelo adotado pelo município para a contratação de pediatras, que envolve a contratação emergencial de uma empresa terceirizada para o preenchimento das chamadas horas médicas.
Os apontamentos feitos por Observatório e Associação Médica já foram encaminhados ao Ministério Público (MP), que, até o momento, não os respondeu. A CBN tentou contato com o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, para repercutir o assunto, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.
Fonte: CBN Londrina