Ação “Abraço na escola” foi alterada devido à chuva; estudantes consideram que o evento atingiu o objetivo principal que é mostrar a importância de dizer não à privatização
Na manhã desta sexta-feira (2), estudantes do Colégio Estadual Professora Olympia Morais de Tormenta, um dos escolhidos para integrar o projeto “Parceiro da Escola” (Edital 03/2022) em Londrina, realizaram um ato na quadra da escola em repúdio ao programa que concede a administração de 27 escolas públicas para iniciativa privada no estado. A princípio, estava marcado a ação “Abraço na escola”, mas a chuva fez com que os alunos mudassem o local da manifestação para o interior do prédio. Acompanhe:
Para a estudante Maria Clara Valoto, apesar da mudança, a mobilização foi importante para chamar atenção sobre a rejeição dos alunos à proposta. “Nós tivemos esta iniciativa porque a gente é contra o governo atual vender a nossa escola. A gente queria um movimento maior, mas não conseguimos porque faltou muita gente e também por conta da chuva. Mas conseguimos fazer um barulho”.
“Nós alunos tomamos a iniciativa de correr atrás desta manifestação porque somos contra a terceirização, não queremos que vendam a nossa escola. A nossa educação não é um produto que eles podem pegar e vender. As escolas públicas são da nossa comunidade e não de empresários. A escola é como uma segunda casa e não podemos deixar que vendam o nosso lar”, indica Júlia Trindade, estudante do Colégio.
Ela acrescenta que novas ações estão planejadas como um apitaço na manhã deste sábado (3). A ideia é caminhar até o Colégio Estadual Professora Lúcia Barros Lisboa, também escolhido pela Secretaria Estadual de Educação (SEED) para integrar o projeto na cidade.
Professores, estudantes, dirigentes sindicais têm promovido encontro com pais e demais responsáveis para apontar as consequências do programa. Entre as principais levantadas, está a ampliação das desigualdades socioeducacionais e, consequentemente, a evasão dos estudantes, já que diferentemente da busca da inclusão, o setor privado privilegia a obtenção de lucro.
“A gente estava com dúvidas de como aconteceria, se daria certo, mas no fim das contas foi muito bom ver os alunos se enturmando, nos ajudando nesta causa porque eles também são contra esta ideia. Estamos otimistas em articular novas ações com os outros grêmios, APP-Sindicato. O que é lucro para uma empresa dentro de uma escola? Aquele aluno que tem déficit de atenção, autismo, notas abaixo da média, onde ele vai estudar?”, questiona João Pedro Castro, presidente do grêmio estudantil.
Entre as vantagens apresentadas pela direção de grupos empresariais está apontada “gestão com metas e desempenho”. Na quarta-feira (23), o Núcleo Regional de Ensino de Londrina também chamou as comunidades escolares para um encontro a fim de debater o modelo de gestão proposto pela SEED. A fala da coordenadora, Jéssica Pieri, foi acompanhada de protestos de estudantes e docentes.
“A nossa escola tem mais de 30 anos e conquistamos muitas coisas. Eles querem vender e apagar toda história que construímos com a nossa escola. No dia que teve um bate-papo com o Núcleo Regional de Educação, não deixaram nós, estudantes, perguntarmos sobre a metodologia de ensino e muitas questões que os pais fizeram, eles não souberam responder. Se eles querem tanto privatizar, por que eles não veem explicar? Mandam pessoas que não sabem responder ou até mesmo não querem”, observa Jader Dias, aluno do sétimo ano.
Na avaliação de uma professora da escola, que preferiu não se identificar devido receio de sofrer sanções do Núcleo Regional de Educação, os pais estão divididos quanto à iniciativa. “Tem bastante pais criticando e outros apoiando, inclusive, a gente tem um WhatsApp e uma mãe mandou mensagem hoje de manhã falando que não queria que o filho dela participasse [do ato]. Alguns pais acham que a escola vai se tornar particular”, afirma.
A docente que é desfavorável à terceirização, lembra que este modelo já foi testado em outros estados e não promoveu melhorias nos índices de aprendizagem. “Eu não concordo com a privatização de nenhuma instância no Paraná e a nível de Brasil. Para nós, tudo que ensinamos em sala de aula está caindo por Terra. A gente acredita em uma educação pública de qualidade e esse modelo já foi tentado em todos estados e não deu certo”, adverte.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.