Docente levou pancadas de policiais, sofreu um trauma no pulmão e precisou realizar drenagem
A greve dos trabalhadores da educação básica no Paraná foi suspensa nesta quarta-feira (5), mas deixa registrado mais um episódio de violência contra educadores no estado. É o que aponta relato exclusivo ao qual o Portal Verdade teve acesso.
Lucas Franco Moraes da Silva, professor do Colégios Nossa Senhora de Lourdes, na zona Leste de Londrina e do Colégio Euzébio Barbosa de Menezes, no distrito de São Luiz, esteve na marcha em defesa da escola pública, na última segunda-feira (3), em Curitiba. O ato “Não venda minha escola” reuniu aproximadamente 20 mil manifestantes entre educadores, estudantes, lideranças políticas, representantes de movimentos sociais e comunidade em geral.
O grupo contrário à aprovação de projeto de lei que autoriza a concessão da gestão de escolas públicas para iniciativa privada, se organizava para acompanhar a votação na ALEP (Assembleia Legislativa do Paraná). Porém, face ao indicativo de que apenas 300 pessoas poderiam participar da sessão, os manifestantes decidiram ocupar as galerias da Casa.
Em resposta, a Polícia Militar usou bombas para impedir o acesso dos manifestantes e uma barreira foi montada para bloquear que o grupo se aproximasse dos parlamentares que transferiram a votação para reunião remota, impossibilitando a participação popular.
“Assim que o pessoal começou a entrar eu fui junto e em certo momento a gente deu de cara com o Choque e eu fui tentar ajudar uma professora que estava mais para linha de frente e, então, fiquei em contato direto com os policiais. Nessa hora, eles começaram a estourar as bombas para dispersar todo mundo”, relata Lucas.
O docente compartilha que levou duas pancadas de cassetete, uma atingiu sua cabeça e a outra, a costela. Ele precisou ser internado, deu entrada no Hospital Universitário Cajuru, por volta das 15h30 desta segunda-feira, onde ficou sob observação da equipe médica até a tarde de ontem, quarta-feira.
Após realização de exames, o professor foi identificado com pneumotórax. A condição surge quando o ar, que devia estar dentro do pulmão, consegue escapar entre os pulmões e a parede torácica.
Quando isso acontece, o ar faz pressão sobre o pulmão, levando-o a colapsar, e, por isso, é comum o surgimento de intensa dificuldade para respirar, dor no peito e tosse. Geralmente, o pneumotórax surge após um trauma de grande impacto como um acidente de trânsito.
“Assim que eu fui ferido, um professor me ajudou, me levou para uma ambulância, fui atendido e encaminhado para o Hospital”, acrescenta.
Ainda, Lucas compartilha que durante todo período em que ficou hospitalizado teve apoio de lideranças da APP-Sindicato (Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do Paraná). O coletivo forneceu suprimentos como itens de higiene pessoal e roupas para que o professor permanecesse internado há quase 400 KM de casa.
A entidade também deu suporte para um colega, Cláudio Henrique Cabral Marsola, docente que acompanhou Lucas durante o período em que esteve internado.
“Quando a gente chegou no Hospital, achamos que tudo estaria resolvido para voltar no mesmo dia, porque viemos em um ônibus do Sindicato para fazer um bate e volta, mas aconteceu do Lucas ficar internado e eu acabei permanecendo para dar assistência para ele, o que ele precisasse”, compartilha.
A caravana de Londrina para a manifestação em Curitiba saiu no domingo à noite e retornou na segunda-feira. Ao todo, quatro ônibus partiram do município. A agressão fez com a estada do professor na capital paranaense aumentasse para além do tempo previsto.
O coletivo também deu assistência no processo de saída do Hospital. Os professores foram acolhidos na Casa da APP-Sindicato em Curitiba. Na manhã desta quinta-feira (6), eles retornaram para Londrina.
“A APP deu todo apoio tanto para mim quanto para ele na questão de transporte, alimentação, estadia”, pontua Cláudio.
“A manifestação era necessária, só não era necessária tanta agressão assim. Eu estou meio arrependido de ter ficado na linha de frente, de ter me exposto tanto. Eu não entendo por que a gente foi tão agredido dessa maneira”, complementa Lucas.
Denúncias têm indicado, ainda, vazamento de dados de pais e alunos das escolas públicas para fins políticos, monitoramento dos professores que aderiram à paralisação por parte do setor da inteligência da Polícia Militar e prisões de manifestantes.
O professor registrou boletim de ocorrência e o departamento jurídico da APP-Sindicato está acompanhando o caso.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.