Ação transforma bonecas em símbolos de afeto para crianças vítimas de enchentes
Uma iniciativa que combina solidariedade e valorização da identidade étnico-racial é desenvolvida por professores, servidores e estudantes da Universidade Estadual de Londrina (UEL) em parceria Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O grupo está confeccionando bonecas para crianças em abrigos, focando especialmente em bonecas negras. Este aspecto é crucial não apenas para refletir a diversidade das crianças atendidas, mas também para promover uma mensagem antirracista.
A ação é coordenada pela professora Tanara Lauschner, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) da UFRGS, juntamente com a professora Angela Maria de Sousa Lima, vinculado ao departamento de Ciências Sociais da UEL e coordenadora do Serviço de Bem-Estar à Comunidade (SEBEC) e a professora Marleide Perrude, associada ao departamento de Educação da UEL e responsável pelo NEAB-UEL.
A ideia surgiu após uma pesquisa conduzida pela professora Tanara e pelos estudantes da União Nacional dos Estudantes Afro-Brasileiros (UNEAB) da UFRGS. Eles visitaram abrigos e perguntaram às crianças sobre suas necessidades. A resposta foi surpreendente: as crianças pediram bonecas. Diferentes de outros itens, como roupas, as bonecas carregam uma carga emocional profunda e, por isso, são raramente doadas.
Luciane dos Santos, mestranda em Sociologia na UEL e bonequeira há mais de 30 anos, foi uma peça-chave no projeto. Ela destacou a importância emocional das bonecas e as contribuições que podem ter na autoestima e no desenvolvimento das crianças. “As bonecas são instrumentos afetivos, é difícil alguém se desfazer de suas bonecas, pois elas carregam muita simbologia”, explica Luciane.
A primeira etapa da ação ocorreu na Associação de Resgate e Reintegração de Usuários (ARRU) e envolveu uma ampla gama de voluntários – estudantes de diversas áreas, funcionários da universidade e membros da comunidade. Todos se uniram para confeccionar as bonecas.
“A boneca negra é muito importante para nós enquanto pessoas negras identidade, para nossa autoestima, para nossa ancestralidade”, afirma.
O trabalho é meticuloso e cada boneca é revisada cuidadosamente para garantir que esteja em perfeito estado antes de ser entregue. “Eu levo um dia para fazer uma boneca completa. Se fosse fazer sozinha, levaria em torno de dois meses e meio, no mínimo”, explicou Luciane.
O projeto não só atende a uma necessidade imediata das crianças em abrigos, mas também promove uma ação formativa e de conscientização sobre a importância da representatividade e respeito à diversidade.
Luciane está otimista sobre a continuidade da iniciativa e já considera novas ações, como a confecção de bonecos orixás, que representam figuras da cultura afro-brasileira.
“Essa ação cumpriu mais do que eu esperava. É lindo. São experiências marcantes”, disse Luciane refletindo sobre o impacto do projeto.
Para saber mais sobre o projeto, acesse: @zuribonecasartesanais
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*Matéria da estagiária da Sara Silva Santos sob supervisão.