As fortes chuvas que atingiram o litoral Norte de São Paulo, no último final de semana, ainda deixam rastro de destruição e sofrimento. O trabalho de resgate continua na região.
Até o momento, a tragédia deixou 48 vítimas fatais, quase a totalidade delas em São Sebastião, cidade mais atingida, e uma criança em Ubatuba. Há ainda cerca de 50 pessoas desaparecidas, segundo o governo de São Paulo. 1.730 pessoas estão desalojadas e 766, desabrigadas.
Para Camilo Terra, do Coletivo Caiçara de São Sebastião, esta tragédia não é resultado apenas da força da natureza. O número de mortes elevado está diretamente associado a um processo histórico de ocupação desordenada do território e da expansão da especulação imobiliária.
“A gente tem denunciado que não é uma tragédia. É um crime. Claro que a chuva foi muito forte. Mas se as pessoas estivessem em condições ideais de moradia, como a grande parte das pessoas que tem dinheiro, não teria ocorrido este dano social.”, explicou o líder.
Ele conta que, ao longo dos últimos cinquenta anos, a intensificação de projetos imobiliários e construção de mansões deixaram grandes impactos negativos, sociais e ambientais.
“Em São Sebastião, a faixa entre a serra e o mar é muito pequena. Os caiçaras moravam nas praias, nos lugares melhores. A partir da abertura da Rio-Santos, na década 1970, foram expulsos de lá, seja por violência de jagunços, seja por violência de dinheiro. Eles foram pros sertões, que são os locais mais baixos, e foram obrigados a ficar lá”.
A cidade de São Sebastião, onde Terra atua, foi a mais atingida pelas fortes chuvas. Ele conta que, diante dessa inédita tempestade, o grupo mais prejudicado é o de pessoas mais pobres e marginalizadas na região.
“A burguesia, que costuma vir para cá, construiu suas casas nos melhores lugares, tanto que poucas mansões estão com lama na calçada. A grande população afetada não são nem caiçaras. São migrantes que vieram construir as casas desses milionários, e que não tem como morar perto dessas casas, porque não é permitido fazer casa popular”, denunciou.
“Quem está morrendo soterrado é a população trabalhadora, são aqueles que vieram de fora para trabalhar como empregados e que foram morar nesses locais”.
Fonte: Brasil de Fato