APP-Sindicato, ao lado da comunidade escolar, prepara resistência contra ataques à educação pública. Contra essas escolas há denúncias de abusos sexuais, autoritarismo, racismo e censura, entre outras
O governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), pretende militarizar mais 25 escolas no Paraná ainda neste ano. O anúncio ocorreu logo após 84 colégios em todo o estado serem militarizados por intermédio de uma consulta duramente criticada pela comunidade escolar por ser antidemocrático. Ao todo, 21 cidades estão na lista do projeto encampado pelo chefe do executivo paranaense, inspirado nos projetos de Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com a APP-Sindicato, que representa professores e funcionários de escolas no Paraná, há suspeitas de que a nova “consulta” acontecerá por pressão de vereadores e deputados ligados à extrema direita no Paraná.
“A educação transforma-se em um campo de batalha ideológico e deixa de fornecer o básico para os alunos, como conhecimento e cidadania. Estamos na luta para impedir outros retrocessos e sabemos que a barra será pesada, pois o Governo do Estado joga de todas as formas possíveis para fazer valer seu interesse”, destaca o secretário de comunicação da APP-Sindicato e da CUT Paraná, Daniel Matoso.
De acordo com ele, por um projeto pessoal o governador Ratinho Jr. e o secretário de estado da Educação, Roni Miranda, colocam a segurança de estudantes e educadores e educadoras em risco. Uma série de denúncias envolvendo assédio já pipocam desde o início da adoção deste modelo de administração nas escolas públicas paranaenses.
As chamadas consultas acontecerão na segunda (11) e terça-feira (12) para escolas dos municípios de Serranópolis do Iguaçu e Terra Rica. Já na quarta (14) e quinta-feira (15) será a vez das demais escolas. Elas estão situadas nos municípios de Almirante Tamandaré, Alto Paraná, Arapongas, Campo Magro, Curitiba, Diamante do Sul, Guarapuava, Imbaú, Londrina, Manoel Ribas, Paranaguá, Ponta Grossa, Rondon, São Pedro do Ivaí, Salto do Lontra, Santa Fé, Santa Helena, Serranópolis do Iguaçu, Telêmaco Borba e Terra Rica.
Violência
Desde o início da militarização de escolas públicas no Paraná uma série de denúncias pipocam por todos os lados. Em outubro deste ano, por exemplo, uma escola de Arapongas, na região Norte do Paraná, foi acusada de promover o nazismo durante um trabalho escolar sobre a 2ª Guerra Mundial. O caso ganhou destaque nacional.
“Militarização e educação são duas palavras que não combinam. A violência em vez de diminuir, aumenta. Os indicadores educacionais também não apresentam melhora. Trata-se de quem acusou, falsamente, a educação de fazer política agora adota esta prática. Educação é futuro e cidadania e estão brincando, jogando, com o futuro dos nossos jovens. Não fosse suficiente, o processo da chamada consulta é recheado de denúncias de manipulação e práticas antidemocráticas. A cara deste governo do Ratinho Jr”, critica o presidente da CUT Paraná, Marcio Kieller.
Outros casos envolvendo denúncias de abusos sexuais, racismo, censura e reiterados casos de abuso de autoridade e uma série de ameaças de morte foram registrados. Alguns dos casos estão sob investigação do Ministério Público. Um deles, inclusive, com agressão por parte de um Policial Militar contra um aluno. O cenário, contudo, não é exclusividade do Paraná. Em outros estados onde este modelo está sendo adotado as denúncias não param de chegar. No Amazonas, por exemplo, até outubro deste ano já registravam mais de 100 denúncias envolvendo abuso moral, sexual e casos de violência física praticada pelos militares.
Até mesmo durante as consultas realizadas nas escolas casos de violência são registrados. Grupos organizados a partir de aplicativos de troca de mensagens vão até os locais de votação, em horário comercial, e pressionam a comunidade escolar. Funcionários do governo do estado também se unem para agir de forma a constranger o processo democrático. O secretário de comunicação da APP-Sindicato e da CUT Paraná, Daniel Matoso, foi uma das vítimas deste modelo de gestão que o governo do Paraná chama de democrático. Matoso e uma estagiária de jornalismo foram coagidos por um funcionário do Núcleo de Educação durante uma das consultas.
Indicadores
Ao contrário do que tentam fazer a comunidade escolar acreditar a mudança de gestão não tem apresentado nenhum impacto positivo na educação dos jovens. Uma análise realizada pela APP-Sindicato a partir de dados do Ideb 2021 divulgados pelo Ministério da Educação, mostra que no ranking das 30 escolas com maior nota no ensino médio, por exemplo, nenhuma é cívico-militar.
Na liderança da lista está o Colégio Estadual de Laranjeiras do Sul. Com nota 6,2 ele alcançou um índice 34% maior do que a média do estado. Por sua vez, o colégio militarizado com a melhor pontuação está em Campo Mourão, o Cândido Rondon. Contudo, seu índice de 5,5 manteve-se estável em relação ao levantamento anterior, quando registrou 5,4.
“Analisando o histórico do Ideb da escola Cândido Rondon, além de concluir que a presença dos militares dentro da escola não resultou em melhoria significativa no Ideb, também é possível observar uma queda no ritmo de crescimento que os alunos e as alunas vinham registrando nas avaliações. Isso fica demonstrado pela nota do Saeb, indicador que mede o desempenho em português e matemática e que é utilizado no cálculo do Ideb. Em 2017, a média da escola foi 5,02. Em 2019, cresceu 0,43 e alcançou a nota de 5,45. Já em 2021, na gestão militarizada, o incremento foi de apenas 0,1, resultando na média de 5,55”, destaca nota produzida pela APP-Sindicato sobre a avaliação.
“O governo Ratinho Júnior, nós precisamos admitir, tem algo que faz muito e muito bem: mentir. A falácia do crescimento do Ideb 3% acima da média da rede nestas escolas é resultado da exclusão de milhares de estudantes do ensino noturno. As instituições que aderem o programa perdem esta modalidade cujos altos índices de evasão tem impacto direto nos indicadores. Ou seja, retira a possibilidade de jovens e adultos estudarem e ainda faz propaganda em cima disso. Nós da APP-Sindicato e da CUT Paraná seguiremos em luta contra este absurdo que estão implantando em nosso estado”, concluiu Matoso.
Fonte: CUT Paraná