Mesa contará com representação da UEL, docentes da educação básica e estudantes do ensino médio. Convidada para integrar a mesa, SEED não indicou participante até o momento
Nesta quarta-feira (12), a partir das 19h, no Anfiteatro Maior do Centro de Letras e Ciências Humanas (CLCH) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) ocorre debate intitulado “Novo ensino médio: os impactos para a educação pública”. A atividade é organizada pela Rádio UEL FM, Rede Lume de Jornalistas, Portal Verdade e conta com o apoio do Observatório do Ensino Médio, vinculado a UEL. O evento será transmitido ao vivo pela Rádio, podendo ser acompanhado também pelo canal da emissora no YouTube (disponível aqui).
Anunciada, em 2016, como Medida Provisória nº 746, e virando Lei (nº 13.415) no ano seguinte, a reforma do ensino médio tem sido amplamente criticada por docentes, pesquisadores e estudantes. Entre os desacordos, está o esvaziamento dos currículos, já que conhecimentos científicos, que contribuem para melhor compreensão da realidade social, inserção no mercado de trabalho e exercício da cidadania, estão sendo substituídos por conteúdos sem validação.
Privilegiando, assim, um modelo de educação tecnicista, conforme aponta Rogério Nunes da Silva, docente de Sociologia da rede estadual de educação no Paraná, secretário de assuntos jurídicos da APP-Sindicato Londrina e um dos participantes do debate.
“Primeiro, de forma coletiva, nós vamos poder perceber quais os efeitos do novo ensino médio nas escolas públicas do Paraná. Aquilo que a gente criticava, infelizmente se concretiza. Há um esvaziamento curricular, uma negação dos estudantes aos saberes cientificamente acumulados. As disciplinas de Pensamento Computacional, Projeto de Vida, entre outras, são sinais deste projeto privatizante e mercadológico que está por trás da reforma”, observa.
Nunes também destaca que a intensificação da precarização do trabalho docente é outra preocupação decorrente da reforma. “Por conta deste esvaziamento curricular, os professores são obrigados a ministrarem conteúdos e conhecimentos, os quais eles não têm formação nenhuma. Aliado, especificamente, na rede estadual do Paraná, ao processo de plataformização que é crescente. Os alunos do ensino médio precisam lidar no seu dia a dia, por meio de imposição da SEED [Secretaria de Estado de Educação] com aproximadamente cinco, seis plataformas, onde os conteúdos estão pré-estabelecidos e o professor não tem nenhuma autonomia docente”, afirma.
Ainda, irá compor a mesa, Sandra Garcia, professora do Departamento de Educação da UEL, coordenadora na UEL da Rede EMpesquisa (Ensino Médio em Pesquisa), que reúne cerca de 150 pesquisadores de mais de 20 universidades brasileiras. Também é responsável pelo Observatório do Ensino Médio na Universidade.
“O que professores, pesquisadores, estudantes anunciaram em 2016 se concretizou, grande descompasso sobre o que a Lei propunha e o que as escolas realmente implantaram. Uma minimização do conhecimento básico e a criação de uma porção de penduricalhos no currículo das escolas. O protagonismo juvenil tão falado não se concretizou, os itinerários não partem dos estudantes e sim das secretarias e, consequentemente, do que as escolas podem oferecer”, ressalta.
Com a iniciativa, a carga horária passa a ser de 3.000 horas, sendo que 1.800 horas devem ser destinadas a uma grade curricular comum, ofertada a todos os estudantes. Já as outras 1.200 devem ser preenchidas por “itinerários formativos”, os quais, teoricamente, os alunos poderiam escolher quais disciplinas desejam cursar.
O ministro da Educação, Camilo Santana, confirmou a suspensão do novo ensino médio ao menos até o fim do prazo da consulta pública aberta pelo governo no dia 9 de março, com duração de 90 dias. Porém, não foi indicada a revogação da medida.
Estudantes querem escola
Representando os alunos, também integrará o debate, Kainan Ferreira de Araújo, estudante do Colégio Estadual Maestro Andréa Nuzzi, presidente do Grêmio Estudantil Diversidade. Ele evidencia que a nova carga horária, prevista pela reforma, desconsidera a realidade dos estudantes trabalhadores.
Outra discordância apontada é ampliação das desigualdades socioeducacionais, visto que diferentemente do alunado das escolas particulares, os estudantes da rede pública deixarão de ter acesso a saberes historicamente acumulados pela humanidade e que permanecerão sendo exigidos em provas para ingresso no ensino superior como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
À época do anúncio, alunos ocuparam suas escolas em diversos estados, como São Paulo e Paraná, demarcando contrariedade e solicitando que fossem ouvidos sobre a mudança. O movimento ficou conhecido como “Primavera Secundarista”.
Organizadores comentam expectativas
“Pensar sobre qual sentido de ensino médio está sendo proposto para estes estudantes é fundamental. E o modelo que se desenha através desta reforma não é um projeto que tem como horizonte uma formação mais humanística. Quando estudantes ocuparam as escolas, em 2016, eles colocaram, que embora discursos enviesados digam que eles não querem a escola, ao contrário, eles desejam sim estar na escola e aprender. Mas eles não querem o ensino médio anunciado por esta reforma, mas uma educação integral. Por isso é muito importante ouvi-los”, indica Franciele Rodrigues, jornalista no Portal Verdade.
“Nós queremos dar voz neste debate para professores, estudantes, pesquisadores da educação pública. Também esperamos contar com representante da Secretaria de Estado de Educação para nós termos uma visão bastante ampla sobre quais os reais impactos do novo ensino médio para estudantes das escolas públicas e quais seriam os caminhos ideias para termos uma educação de mais qualidade”, assinala Cecília França, editora da Rede Lume de Jornalistas.
A SEED foi procurada pelos organizadores do evento, mas até o momento não indicou nenhum representante. O debate é aberto ao público e não há necessidade de inscrição prévia.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.