O jornal Folha de S. Paulo publicou neste domingo (26) uma pesquisa do Imds (Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social) que mostra que “47,3 milhões de brasileiros terminaram o ano passado na pobreza”. Trata-se de nada menos que 22,3% do total da população brasileira, “o maior percentual em dez anos, segundo levantamento realizado pelo Imds”.
Quase 11 milhões caíram na pobreza em todo o país em 2021, mostra a matéria. Destes, 6,3 milhões, caiu para a extrema pobreza e passam fome. Os jovens são os mais prejudicados: “Brasileiros de zero a 17 anos estão entre os mais sacrificados. A pobreza infantil comprometia o futuro de 19 milhões de crianças e adolescentes ao final de 2021, 35,6% do total desse segmento da população”. E também os negros: “Ainda que a pobreza tenha avançado em todo o país e nos mais diversos segmentos, a parcela da população que mais sofreu é negra —73% do total— e se concentrava em regiões e estados mais pobres, o que ajudou a ampliar as desigualdades nacionais”.
Regionalmente o Nordeste apresenta a maior taxa de pobreza e o Sul, a menor: “No Nordeste, 5,5 milhões caíram na pobreza no ano passado, elevando o número de pobres na região para 22,8 milhões, quase 40% da população nesta parte do país. No Sul, o contingente aumentou em 400 mil, fazendo com que os mais pobres passassem a representar 10% do total da população nesta parte do país”.
Segundo a Folha, a avaliação da equipe do Imds é que um fator para a oscilação na renda foi o auxílio emergencial: “A concessão de um benefício de R$ 600 em 2020 teve o efeito de reduzir a pobreza. No ano passado, porém, o auxílio foi suspenso e, depois, teve o valor reduzido, além de ter um corte no número de beneficiários. Como a Covid não havia cedido, e a economia tão pouco reagido, houve repique na pobreza”.
Para o jornal, para o economista Paulo Tafner, presidente do Imds, disse que “O Brasil vinha numa trajetória histórica de redução da pobreza, mas no meio do caminho, apareceu uma pedra, a pandemia, e ainda estamos vendo os seus efeitos”. E o economista Sergio Guimarães Ferreira, diretor do Imds, disse que “Na pandemia, quem tinha trabalho com carteira assinada foi atendido mais rapidamente porque conta com estruturas de proteção já organizadas. Um sistema para os informais evitaria a pobreza temporária, causada pela falta repentina de trabalho.”
Duas observações sobre a matéria
Paulo Tafner disse que o Brasil vinha em uma crescente redução da pobreza até que “apareceu a pandemia”. E o economista Sergio Guimarães diz que “quem tinha carteira assinada contou com estruturas de proteção”. Então, não é que o país vinha em uma crescente redução da pobreza e a pandemia atrapalhou. Na verdade o que agravou a situação foi a destruição das estruturas de proteção pela reforma trabalhista e pelo teto de gastos, que tornaram mais ainda difícil a vida dos trabalhadores na pandemia assim como a retomada pós pandemia. Em outros países, como EUA e China, a retomada contou com proteção e geração de empregos.
Se consideramos que o auxílio emergencial de 600 e 300 reais tirou as pessoas da pobreza, temos que o quadro que se convencionou chamar de pobreza é extremamente chocante. Quem vive com 600 reais com a inflação e o custo de vida como está? 600 reais por mês ainda é muito pouco, suficiente talvez para a mera sobrevivência. A pesquisa aponta que os mais pobres são aqueles que vivem com 39 reais por mês. Ou seja, uma quantia irrisória para a vida de qualquer ser humano.
Fonte: Carolina Maria Ruy | Rádio Peão Brasil