A maior perda salarial foi registrada por vendedores que passaram a receber R$ 740 a menos
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), identificaram que, das 11 ocupações que mais abriram vagas de trabalho entre 2012 e 2022 no país, somente três apresentaram ganhos reais na remuneração. Seis tiveram redução no salário médio pago, ou seja, a maioria. E nos demais, o rendimento ficou estável, não indicando alterações significativas.
Apenas o cargo de escriturário apresentou ganho acima da inflação. A renda média da categoria saltou 63% no período, passando de R$ 7.303,67 em 2012 para R$ 11.921,65 em 2020. Em segundo lugar, estão os trabalhadores da área da beleza e afins, com aumento de 26%. O rendimento médio do setor passou de R$ 1.281,14 em 2012 para R$ 1.621,21 em 2020.
A maior perda foi registrada por vendedores (-27%). O salário destes profissionais caiu de R$ 2.691,17 em 2012 para R$ 1.951,07 em 2020. Isto equivale a R$ 740,00 a menos no bolso dos trabalhadores. A área que mais contabilizou novos postos de trabalho entre 2012 e 2022, foi a de comerciantes, aproximadamente 1,8 milhão de contratações. Porém, o ganho também diminuiu 10%. Há dez anos, os trabalhadores do segmento recebiam, em média, R$ 3.618, 20. Já em 2022, o valor caiu para R$ 3.248,71.
A pesquisa evidencia, portanto, que a geração de vagas de trabalho no Brasil foi concentrada em ocupações de baixa qualificação, alta informalidade e com remuneração cada vez menor. A economista Juliana Rezende Peixoto, considera que os números são reflexos do baixo crescimento econômico alcançado no último ano, aliado, sobretudo, a extrema concentração de renda e a medidas que impactaram o mercado de trabalho, precarizando ainda mais as jornadas e restringindo o acesso de trabalhadores a direitos.
“A economia brasileira registrou crescimento de 2,9% em 2022, segundo o IBGE. O índice demonstra uma desaceleração da economia nacional em relação ao ano anterior, quando o PIB [Produto Interno Bruto] aumentou 5%. A retratação agrava ainda mais uma das principais características do mercado de trabalho que é a desigualdade de renda entre postos mais valorizados e outros menos, geralmente estes últimos associados a ocupações braçais, demonstrando a herança escravocrata. Além disso, reformas como a Trabalhista pauperizaram ainda mais os trabalhadores, deixando-os ainda mais vulneráveis”, avalia.
Contudo, o estudo também observou que o pagamento de profissionais de nível superior como médicos e advogados sofreram retrações de 13%. Já o salário de engenheiros encolheu 37% na última década. Conforme noticiado pelo Portal Verdade entre 2021 e 2022, o contingente de pessoas sem instrução e com menos de um ano de estudo ocupadas saltou 31,4%. Entre os que possuem ensino médio incompleto, a taxa de empregabilidade subiu 14%. Já entre os que possuem ensino superior incompleto, a ocupação cresceu 6,1% e entre pessoas graduadas, o índice registrou menor expansão: 3,6% (relembre aqui).
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.