A vida no Brasil só melhorará, se o salário mínimo voltar a ser valorizado. De fato, não é uma solução salvadora e total, no entanto, quero discorrer nesse artigo sobre o entendimento de sua importância para gerar empregos, distribuir renda e crescer a economia popular. Nesse sentido, a proposta de Guedes de ligar a valorização do salário às metas (fictícias e abstratas) de inflação resultaria em sua obsolescência. Isto é, para ter uma política de valorização salarial é necessário derrotar esse modelo nas urnas no dia 30 de novembro.
A constituição brasileira defende a importância de um salário mínimo que cresça pelo menos seguindo a inflação. No entanto, com os governos do PT, é que se retoma a ideia de que o salário mínimo teria uma valorização real, isto é, ser uma importante variável na economia capaz de crescer junto com a economia. Dessa forma, parte-se da ideia de que os trabalhadores estão ajudando a aumentar a produção de bens e serviços, por isso precisam participar desses ganhos.
Assim, o salário mínimo valorizou entre 2002-2016 em cerca de 76% (IPEADATA). E, nesse processo a inflação também era baixa, aí combinamos uma valorização com baixo custo de vida, o que mantinha o poder de compra ao longo do ano, pois como sabemos, a reposição salarial se dá anual, mas a inflação é mensal. Com as chegadas do governo Bolsonaro, a lógica muda, se abandona a ideia de valorização da inflação, cumprindo-se o básico da constituição de reposição inflacionária anual, o que na prática, ao longo do ano, se deteriora, pois há continua variação dos preços. Assim, o salário atual de R$ 1212,00 vale menos que em janeiro, dado os preços atuais, no começo do ano, ele valia R$ 1.255,00.
No entanto, a proposta do Guedes não apenas vai na contramão do que se viu nos anos 2000, da era PT, como pioraria a situação. É importante entender que os neoliberais detestam a ideia de salário mínimo. Remonta a lógica dos economistas burgueses vulgares, na expressão de Marx, de entender que o salário mínimo atrapalha o mercado, o que se expressa no entendimento de que um salário de pobreza é bom para os lucros dos capitalistas. Isto é, para eles, a lógica de desigualdade é vital para a economia. Isto é, para a economia deles.
Paulo Guedes é herdeiro radical dessas ideias, ele acredita que o salário mínimo é um estorvo. No limite, eles vinculam a ideia de que a inflação baixa é regulada pela depressão salarial, o que vemos ser também uma irrealidade, dado que os salários não aumentaram e a inflação continua crescendo. Se a proposta de Guedes passar, posso afirmar que em 10 anos, o salário vai equivaler hoje a um valor de R$ 400 reais, pois os preços cresceriam acima das metas inflacionárias, derretendo o poder de compra dos salários. Pense comigo, o que você faz hoje com o valor de R$ 400,00? Com o gás acima de R$ 100,00, com os boletos caros, sem contar com a comida que necessitamos.
Por isso, na contramão disso, precisamos escolher uma política diferente, não podemos ser pautados pela lógica da catástrofe. É possível uma política de valorização do salário acima da inflação, mas não apenas isso, é essencial para retomarmos um crescimento com distribuição de renda. Pois, o salário mínimo regula as outras variáveis, aposentadorias, etc. Os contratos e o mercado de trabalho olham o salário mínimo como referência no reajuste dos demais salários. E, à medida que temos uma salário valorizando, os sindicatos conseguem também uma margem de negociação. Por outro lado, se cria uma dinâmica de consumo popular, estimulando o atual depressivo setor de economia popular, isto é, do mercadinho, da quitanda, etc, estimulando lucros e investimento nesse setor.
É claro, o governo precisa administrar os preços básicos e estimular a oferta de alimentos, que são os preços essenciais que impactam na inflação da cesta básica. No entanto, como vimos durante os governos Lula, isso aconteceu e conseguimos crescer com inflação baixa. Agora, com os radicais neoliberais Guedes-Bolsonaro, temos ao contrário, salário estancado e inflação do custo de vida. O pior dos mundos, e no futuro, teremos salário em queda. Não é difícil escolher, né?