Representante da Educação diz que há possibilidade de levar formato para outros cursos técnicos. Hoje, três são assistidos pelo modelo polêmico
Depois de admitir falhas nas aulas por TV para cursos do novo Ensino Médio e, por consequência, confirmar a descontinuidade do projeto, o governo do Paraná fala agora em ampliar o modelo. No centro do vai e vem está um contrato de R$ 38,4 milhões homologado com a empresa privada Unicesumar, de Maringá, para a aplicação de conteúdos a mais de 20 mil estudantes de três cursos técnicos atendidos pelo novo currículo.
No mês passado, a Secretaria de Estado da Educação (SEED) confirmou a continuidade do programa apenas em escolas já englobadas onde não houver professores disponíveis para lecionar as disciplinas específicas – as de fora da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Aulas por TV
Em entrevista ao Plural, a representante do setor de Educação Profissional da pasta, Daiane Fraile, negou a existência de um recuo, afirmou que a iniciativa foi uma aposta certa “em todos os sentidos” e adiantou ainda estudos em andamento para turbiná-la. “Visamos a possibilidade, inclusive, de outros cursos [serem atendidos]. A gente não está fechado ainda, não está descartado, mas entende que é um modelo que precisa ter continuidade, só ajustando a forma”.
Segundo ela, a partir de 2023 as escolas atendidas pelo contrato com a Unicesumar poderão optar se querem manter ou abandonar o método. Se decidirem deixar de ter aulas televisionadas, precisarão ter no quadro professores aptos para ministrarem o conteúdo. Caso contrário, não terão como abrir mão.
Escolas do Paraná
A mudança, diz Fraile, não tem a ver com problemas detectados, sobretudo na aprendizagem, mas com a decisão de dar às escolas mais autonomia para decidirem sobre suas metodologias, muito embora críticas contra a forma de ministrar o conteúdo tenham se acumulado.
Nos primeiros meses do ano, alunos de diversas escolas do Paraná acusaram falhas e dificuldades e se mobilizaram em atos distintos contra o novo arranjo, centralizado em um professor que transmite a matéria de dentro de um estúdio para várias turmas ao mesmo tempo. Pela lógica do edital, uma mesma aula ser dada para até 700 adolescentes concomitantemente, dificultando, conforme os estudantes em protesto à época, interação com o docente e avanço no domínio do conteúdo.
SEED
A exigência de um intermediador dentro de sala de aula – um profissional também contratado pela empresa selecionada – nunca chegou a ser 100% cumprida. Para a representante da SEED, no entanto, os motivos de discordância dos estudantes não têm coerência, pois, “embora eles estivessem mediados por tecnologia, estavam, de fato, com professor”. Para ela, a mudança de rumo adotada pela pasta em relação ao programa não se trata de hesitação, mas um ajuste necessário para continuar com a proposta nos trilhos.
“Não é um passo atrás. A gente tomou decisão de ter aulas mediadas por tecnologia até para entender como esse processo aconteceria. Nós tivemos avanços muito significativos nesse projeto”, disse. “No Brasil todo não tínhamos esse modelo acontecendo. Fomos buscar até num cenário mundial esse processo. Inclusive, ele está servindo de aprendizado para outros estados também”.
Unicesumar
A inserção do setor privado no ensino público já era esperada por ter sido beneficiada pela reformulação do Ensino Médio, aprovada em 2017. O Paraná foi, de fato, o primeiro estado a aderir à alternativa, enquanto especialistas alertavam para a possibilidade de o formato adotado – de ensino a distância, apesar de a Seed não o definir assim – impactar em prejuízos para o ensino dos adolescentes.
De acordo com levantamento da Seed, 3.269 dos 22.390 matriculados inicialmente nas turmas dos técnicos em Administração, em Desenvolvimento de Sistemas e em Agronegócio – selecionados para as aulas da Unicesumar – desistiram dos cursos em 2022.
Das 446 escolas onde o formato foi implementado, duas agiram para retomar as aulas com professores em sala de aula. Além do Centro Estadual de Educação Profissional Pedro Boaretto Neto (Ceep), epicentro das mobilizações dos alunos, o modelo foi retirado de dois cursos (Desenvolvimento de Sistemas e Administração) do Colégio Estadual Izidoro Ceravolo, em Apucarana.
Processo Seletivo Simplificado (PSS)
De acordo com a SEED – sem considerar uma possível expansão –, o quanto a Unicesumar seguirá presente em 2023 na rede estadual depende da classificação final do Processo Seletivo Simplificado (PSS) aberto para recrutar professores interessados em assumir as disciplinas. O resultado será divulgado nesta quarta-feira (21). “É nesse momento que a Seed saberá quais escolas terão número suficiente de professores para os cursos técnicos”, informou a pasta. A distribuição de aulas acontecerá em janeiro.
Fonte: Redação Plural