Comunicado ocorre, há menos de um mês, de a pasta informar que as atividades seguiriam no colégio. Estudante classifica decisão como uma “rasteira” do governo
Imagine chegar para mais um dia de aula e descobrir que a sua escola irá fechar? Esta foi a notícia dada pelo Núcleo Regional de Educação de Londrina a estudantes e professores do Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja) Professora Maria do Carmo Bocati, o único voltado a esta modalidade de ensino em Cambé, município vizinho a Londrina.
A decisão descumpre informação repassada pelo governo Ratinho Júnior (PSD) há menos de um mês. Conforme demonstrou o Portal Verdade, no final de outubro, a Secretaria Estadual de Educação (SEED) anunciou que diversas escolas voltadas ao ensino de jovens e adultos iriam encerrar as atividades a partir de 2024. O Ceebja Professora Maria do Carmo Bocati seria um deles (relembre aqui).
Após o comunicado da pasta, uma comissão formada por seis estudantes foi montada com a finalidade de tentar reverter o fechamento da escola. No último 1º de novembro, a comunidade escolar foi notificada que as aulas seguiriam no colégio no próximo ano.
Porém, nesta segunda-feira (27), Josiane Saraiva, aluna do último período do 8º e 9 º ano do ensino fundamental, procurou o Portal Verdade para denunciar que mais uma vez a direção foi informada do fechamento do Ceebja Professora Maria do Carmo Bocati, ou seja, após a finalização do ano letivo de 2023, previsto para 20 de dezembro, as atividades no colégio serão encerradas, afetando o direito à escolarização de mais de 200 alunos.
Josiane pontua que novamente a decisão da SEED foi tomada de forma arbitrária, sem nenhum diálogo. Para ela, a comunidade escolar levou uma “rasteira” do governo. “De novo, a gente ficou sabendo através da diretora da escola que vai fechar, ela também foi pega de surpresa”, relata.
De acordo com a aluna, não foi mencionada nenhuma justificativa para o encerramento das atividades tampouco os motivos que levaram a SEED a voltar atrás do anúncio de que os alunos poderiam permanecer no colégio por pelo menos mais um ano.
“A principal consequência é que muitos alunos não vão mais poder estudar, vão ser obrigados a deixar os estudos”, adverte Josiane.
De acordo com dados do Ministério da Educação, levantados pela APP-Sindicato (Sindicato dos Professores e Funcionários de escola do Paraná), entre 2019 – primeiro ano da gestão de Ratinho – até 2022, as matrículas na EJA caíram 59% na rede pública do Paraná. Em números absolutos, houve uma queda brusca de 125.881 para apenas 51.726 alunos em apenas quatro anos.
Ainda, com base no mapeamento, foram fechadas 27 escolas de EJA ensino médio no período. No ensino fundamental, o desmonte foi ainda maior: 54 estabelecidos de ensino interromperam as atividades. Já na rede privada, a quantidade de matrículas registrou um salto de 3%.
Atualmente, o Ceebeja Professora Maria do Carmo Bocati atende 229 alunos, entre adolescentes acima de 15 anos, adultos e idosos, distribuídos em 12 turmas.
A aluna acrescenta que mais uma vez o corpo discente e de funcionários do Ceebeja irá se mobilizar para tentar permanecer na escola. Uma manifestação está sendo chamada no próximo sábado (2) a partir das 10h no Calçadão de Cambé. “Íamos fazer a mobilização da outra vez, mas desistimos porque falaram que a gente não ia precisar sair da escola. E eu quero tentar passar para todas as mídias, televisão, rádio, o que eu puder fazer de novo, vou fazer para não deixar a nossa escola fechar”, ressalta Josiane.
A reportagem entrou em contato com a SEED que encaminhou a seguinte nota:
A Secretaria de Educação do Paraná prevê um plano de expansão da Educação de Jovens e Adultos (EJA) para o ano de 2024, com 81 autorizações previstas, oferecendo a EJA tanto em escolas regulares quanto em Centros Estaduais de Educação de Jovens e Adultos (CEEBJAs). Nos últimos anos, houve uma redução na demanda de estudantes matriculados em alguns CEEBJAs que funcionam em prédios compartilhados com escolas municipais.
Como parte do processo de efetivação do Planejamento Escolar 2024, que visa atender de forma mais eficiente às demandas educacionais do estado, a Seed-PR prevê a conversão de CEEBJAs com baixa demanda de estudantes e salas ociosas – como o CEEBJA General Rabelo em Rio Negro – em Escolas de Tempo Integral.
Outro fato determinante para a reorganização da oferta da EJA envolve os casos nos quais os Centros Estaduais de Educação de Jovens e Adultos (CEEBJAs) operam no turno da noite, compartilhando prédios com instituições de ensino municipais. Em situações onde existe uma instituição de ensino estadual nas proximidades com salas vazias (como é o caso do CEEBJA Paulo Leminski, na Lapa, e do CEEBJA Maria do Campo Bocatti, em Cambé), a Secretaria de Educação identificou a possibilidade de reorganizar a oferta.
É importante enfatizar que essa reorganização não implica na redução ou interrupção da oferta da Educação de Jovens e Adultos nos municípios mencionados. Trata-se, especificamente, de uma realocação gradual dessa modalidade de ensino entre instituições de ensino estaduais, garantindo que os estudantes matriculados concluam seus cursos e recebam a certificação correspondente.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.