Estudo captou problemas que vão desde falta de infraestrutura a agravamento de transtornos psicológicos
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) publicou relatório com resultados da II Pesquisa Nacional sobre Home Office dos Bancários. Assim como a primeira edição, realizada em 2020, a investigação buscou identificar as mudanças nas condições de trabalho da categoria a partir da implementação do trabalho remoto (acompanhe documento completo aqui).
Face ao avanço do novo coronavírus, Comando Nacional dos Bancários buscou regulamentar o teletrabalho na sua Convenção Coletiva de Trabalho. O estudo considerou apenas bancários que estavam efetivamente desenvolvendo trabalho remoto em 2021, chegando a 11.151 participantes.
A maioria dos respondentes são homens (54%) e brancos (66%). Quanto à faixa etária, houve predominância de trabalhadores com idade entre 31 e 40 anos (37%). As funções mais frequentes foram: analistas e assistentes (33%); gerentes (25%); escriturários e técnicos bancários (12%) e caixas (8%). A maior parte possui carga horária semanal contratada superior a 30 horas (56%). O local de trabalho mais preponderante foram as agências (54%).
Laurito Porto Filho, representante do Sindicato dos Bancários de Londrina e Região, pontua que na cidade sede, a maioria dos bancos adotaram o teletrabalho. “O impacto maior foi na cidade de Londrina. Com o fim da pandemia muitos trabalhadores voltaram ao trabalho presencial, porém, os trabalhadores de área especializada como a plataforma PJ do Itaú permaneceram em trabalho remoto. As financeiras, por exemplo, como a BV e o banco Pan adotaram o trabalho remoto e hoje não possuem mais espaço físico próprio para atendimento”, conta.
Falta de infraestrutura
Mesmo após mais de um ano de pandemia, os bancos ainda apresentavam problemas no fornecimento de equipamentos para o trabalho. Um em cada três funcionários informou que, o banco para o qual trabalhavam não se responsabilizou por nenhum item de infraestrutura ou suporte necessário ao trabalho (36%).
Entre os que receberam algum equipamento ou melhoria, a maioria declarou ter recebido notebook ou computador (52%). Ainda, segundo o estudo, a maior parte dos trabalhadores desconhece qualquer canal interno do banco para tratar de demandas relacionadas ao teletrabalho (54%).
“Apesar de termos acordos com Bradesco, Banco do Brasil e Itaú Unibanco a questão do auxílio e fornecimento de equipamentos não vem sendo cumprido integralmente pelos bancos, através do comando nacional e das comissões de empregados junto à essas instituições financeiras esse problema vem sendo relatado, inclusive, para a questão dos problemas de adoecimento psicológico da categoria. O Banco do Brasil desde o ano passado tem um programa para atendimento psicológico e que recentemente teve mudanças que trouxeram dificuldade para a realização e a continuidade de tratamento”, observa Filho.
Jornada de trabalho
A percepção de que a jornada foi estendida em alguma medida no teletrabalho ocorre para 43% dos trabalhadores. “A análise estratificada por banco torna claro que os bancos que realizaram controle de jornada – notadamente o registro eletrônico de ponto – apresentaram menos problemas com relação a aumento de horas trabalhadas, falta de anotação com relação a horas extras e desrespeito aos períodos de desconexão (fora do horário de expediente, finais de semana, folgas, feriados, intervalos, horário de almoço). Por outro lado, nos bancos onde não houve controle de jornada, todos estes problemas tiveram incidência muito maior, gerando transtornos aos bancários”, indica documento.
Auxílio home office
Entre os funcionários, a maioria apontou aumento de gastos com energia elétrica (86%); supermercado (73%) e água (55%) com o estabelecimento das atividades em casa. Por outro lado, as despesas administrativas dos bancos caíram no mesmo período. Os valores pagos pelas instituições para contas de água e luz diminuíram, em média, 17%.
Mesmo com o aumento dos custos para os trabalhadores e a economia gerada para os bancos, a partir da adoção do trabalho remoto, apenas 13% dos respondentes apontaram estar recebendo “auxílio home office”.
Saúde do trabalhador
A sensação de insegurança também aumentou entre a categoria: 23% das bancárias e bancários disseram que passaram a “sentir medo de ser esquecido, perder oportunidades ou ser dispensado” após a doação do trabalho remoto. Esta situação predominou, principalmente, entre funcionários de instituições financeiras privadas.
“Outra coisa que também está em debate são cursos para que os gestores possam lidar melhor com o grupo de trabalhadores e trabalhadoras em home office para diminuir casos de assédio moral e a melhorar a comunicação entre quem está em home office e os demais setores do banco, diminuindo a sensação de esquecimento e o medo da demissão que essa condição traz”, ressalta a liderança.
Ainda com base na investigação, em 2021, cresceram os percentuais de bancários e bancárias com vontade de chorar sem motivo aparente (13%). Em 2020, o índice era de 10%. No mesmo período, saltou o contingente de trabalhadores desmotivados ou sem vontade de trabalhar: 18% frente a 14%.
No que diz respeito à saúde física, dores musculares são queixas recorrentes entre os trabalhadores do segmento. Cerca de 22% dos trabalhadores afirmaram que começaram a apresentar este diagnóstico após adoção do teletrabalho.
Sequelas da Covid-19
Até julho de 2021, aproximadamente 26% dos participantes do estudo declararam ter contraído Covid-19. Dos 3.421 diagnosticados com a infecção, 31% disseram que não observaram problemas posteriores ao contágio, enquanto 68% apontaram que tiveram uma ou mais sequelas.
Os principais problemas associados à Covid-19 apontados pelos bancários foram: cansaço (36%); dor de cabeça (26%); perda de memória (24%); fraqueza muscular (24%); perda de cabelo (23%); dificuldade de atenção (23%).
“Quanto às sequelas da Covid-19, isso é um grande problema, inclusive, para a saúde pública, pois muitos casos não foram registrados com a abertura da CAT [Comunicação de Acidente de Trabalho]. Assim conseguir apoio diante das dificuldades que os sequelados têm em realizar as tarefas é difícil. E diante do que debatemos no Conselho Municipal da Saúde não é uma questão que está só na categoria bancária, ela se estende para outras categorias profissionais”, ressalva.
Filho também destaca que no Sindicato dos Bancários de Londrina e Região, a secretária de Saúde Eunice Tieko Myiamoto, buscou orientar os trabalhadores ao longo da pandemia para que eles buscassem informações. “O devido registro dos problemas de saúde, incluindo a Covid-19, o que poderia resultar até mesmo em abertura de CAT. Para que pudéssemos identificar essas necessidades e fazer o diálogo quando necessário com os bancos e auxiliar os bancários diante das necessidades de adaptação”, complementa o sindicalista.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.