Com o tema, “Favela não é carência, é potência”, evento busca romper com preconceitos e valorizar a cultura das quebradas
Entre os dias 4 e 8 de novembro de 2023, será realizada a “Semana da Favela Londrina”. O evento, que tem programação em diversas cidades do país, já é tradicional no calendário da Central Única das Favelas (CUFA). Fundada em 1998, no Rio de Janeiro, pelo produtor e ativista Celso Athayde em parceria com os rappers Nega Gizza e MV Bill, atualmente, a CUFA está presente em todos os estados brasileiros e em outros 15 países como Bolívia, Alemanha, Chile, Itália e Estados Unidos.
A CUFA promove atividades nas áreas da educação, lazer, esportes, cultura e cidadania, como oficinas de grafite, teatro, gastronomia, incentivo ao basquete de rua, literatura, entre outros projetos sociais. Também fomenta e distribui a cultura hip-hop pelo mundo. A equipe CUFA é composta, em grande parte, por jovens formados em oficinas de capacitação e profissionalização das bases da instituição, oriundos de camadas menos favorecidas da sociedade.
O desejo de valorizar camada expressiva da população brasileira que ocupa as bordas das diferentes cidades, suas experiências e lutas, é o que move a organização da Semana das Favelas, conforme explica Lua Gomes, coordenadora regional da CUFA no Paraná e fundadora do Conexões Londrina, coletivo parceiro que busca fortalecer as ações da organização transnacional a nível local.
“A Semana da Favela foi criada justamente para que nós pudéssemos fazer reflexões sobre a existência dos espaços periféricos como uma prova de resistência histórica, ancestral e, sobretudo, da potência das populações que estão nas áreas menos abastadas e com menos acesso à cidadania e direitos”, diz.
Lua ressalta que a intenção da CUFA com a comemoração do Dia da Favela (4 de novembro – data que marca o início da programação disponível abaixo) é instigar a justiça social, garantindo que a universalidade de políticas e serviços públicos – condição prevista em marcos internacionais e nacionais, a exemplo da Constituição Federal de 1988, seja efetiva, contemplando todas e todos. Ou seja, não se trata da desconstrução das favelas, ao contrário disso, é a valorização destes espaços como propulsores de vida.
Assim, o evento procura romper com preconceitos que tendem a associar as periferias à pobreza e violência somente, desconsiderando a cultura das quebradas bem como suas contribuições para o desenvolvimento econômico e social do país. “Quando a CUFA começa a fomentar essa data comemorativa, ela tem por objetivo valorizar as pessoas da favela por sua potência e contribuir para desestigmatização dos mais vulneráveis, pois como diz nosso mentor [Celso Athayde] ‘Favela não é carência. Favela é potência’, ressalta a liderança.
Além do Conexões Londrina, integra a organização, o corre. – aplicativo criado em Londrina durante a pandemia de Covid-19. Diferentemente de outras iniciativas que atuam em nichos específicos, a plataforma concentra uma cartela mais ampla de mercadorias e oportunidades. Nele, os usuários encontram oferta de comércios e serviços de diferentes ramos, também a divulgação de vagas de trabalho e atividades culturais (saiba mais aqui).
“O corre.social, que tem como missão “conectar todos a um futuro melhor”, atua como parceiro na co-realização dessa Semana, para potencializar a visão da líder [Lua Gomes] que tem tudo a ver com nossa proposta: gerar renda, gerar cultura e gerar cidadania. Estamos aqui para conectar todos a esse futuro melhor, mas não há dúvidas que nossa atuação tem prioridades, e essa é atender a parcela da nossa sociedade que mais precisa, os periféricos e favelados”, pontua João Pedro Carrilho, um dos fundadores do aplicativo.
Todos os anos a CUFA indica um homenageado com o objetivo de destacar seu legado para o Dia da Favela. Em 2023, o representante será o cantor e compositor brasileiro, Zeca Pagodinho. Com mais de 20 discos, Zeca é considerado um grande nome do samba. Começou sua carreira nas rodas dos bairros de Irajá e Del Castilho, subúrbio carioca.
O apoio institucional é da Prefeitura de Londrina. Já o patrocínio é do Banco24Horas, ecossistema de inclusão financeira presente na vida de mais de 153 milhões de brasileiros. Trata-se da maior rede independente de autoatendimento do mundo em volume de saques, contando com mais de 24 mil dispositivos em mais de 17 mil estabelecimentos distribuídos em mais de 1,1 mil municípios.
“O Banco24Horas tem uma relação com a favela de longa data. Isso porque mais de 60% dos nossos caixas eletrônicos estão posicionados em regiões com forte predominância das classes C, D e E. Ou seja, o Banco24Horas está presente nestas comunidades o ano inteiro, ajudando a movimentar a economia e promovendo a inclusão financeira. Este ano, nós estamos apoiando a Semana da Favela em Londrina justamente para celebrar o empreendedorismo, a força e a potência que vem das comunidades”, destaca Patrícia Oliveira, gerente de comunicação corporativa da TecBan, empresa responsável pela gestão do Banco24Horas.
A periferia é o centro
Esta é a 3ª edição do evento em Londrina. Neste ano, a programação inicia com um festival que visa reunir arte, cultura e empreendedorismo, por meio da valorização da economia criativa. Para isso, será ofertada uma feira, onde alimentos e bebidas serão comercializados, entre outros produtos e serviços desenvolvidos pelos trabalhadores das comunidades.
“O Brasil é um país que tem muita discriminação e distinção de gênero, raça e classe social em seu DNA e que teve a sua economia pautada historicamente no escravagismo, que faz com que as camadas mais pobres sejam menos valorizadas e mais assolados por reflexos do capitalismo. Pensar a sociedade de uma maneira ampliada é profundamente importante porque é nos espaços periféricos que estão os braços que movimentam a economia do país”, acrescenta Lua.
Em 2023, a Pesquisa Data Favela revelou que há mais de 10 mil favelas espalhadas pelo Brasil. Se somadas, formariam o terceiro maior estado em número de habitantes, com movimentações financeiras de mais de 200 bilhões de reais.
A aproximação entre a periferia e outras regiões da cidade, possibilitando trocas entre os moradores de todas as localidades também é um dos propósitos. “Ao contrário do que muitos pensam, as favelas e a desigualdade existem, e é espantoso a discrepância de realidades que se pode ter ao se deslocar pequenas distâncias em nossa cidade e qualquer cidade de nosso país. Com essa semana buscamos promover arte, educação, geração de renda, empreendedorismo e apoio social à essas pessoas, com música, cursos, feiras de escuta e serviço e, acima de tudo, todos esses elementos são pensados e trazidos deles para eles, e não do que muitas vezes outra parcela da população privilegiada faz de oferecer suas ideias em seu ponto de vista, sem nenhuma empatia”, salienta Carrilho.
Durante cinco dias, o público também poderá acompanhar oficinas variadas como fotografia, macramê e maquiagem. Atividades culturais, a exemplo de contação de histórias e batalhas de rima também estão previstas. Para encerrar a Semana, shows com artistas locais. Também compõe as atividades, a entrega do troféu Luiz Gama cujo objetivo é valorizar iniciativas e atores locais responsáveis pelo desenvolvimento de práticas emancipadoras, de empoderamento de pessoas e espaços vulneráveis. Ao todo, serão 20 homenageados distribuídos em 10 categorias.
“Executamos esta ação com muita alegria porque acreditamos de fato que apesar da ideia equivocada de que Londrina não tem favela, elas existem. Cabe ressaltar que favela não é necessariamente sobre ter ou não asfalto e saneamento, a favela é um espaço de resistência diante das desigualdades”, finaliza Lua.
Acompanhe programação completa:
Dia 4/11
14h – 22h – Festival Dia da Favela
Local: Praça da Juventude da zona sul
14h – Abertura da Pista de Skate
14h – Início da Feira CriaAtiva
Exposição e venda de produtos, serviços e itens da economia criativa; livre para intervenções artísticas no espaço aberto
14h30 – Roda de Samba
15h – Apresentação de dança
Projeto passos pro Futuro
Aulão aberto com Vasco Roverall
16h – Batalha de break – estilo livre
Mestres de Cerimônia TM e Pri
17h30 – Batalha de Rimas
Mestres de Cerimônia W Mc e Lulli Mc
19h – Roda de Samba
Homenagem a Zeca pagodinho
21h – Baile de Favela
Dj Dani Black, Dj Damião Milianos
OBS.: durante todo evento teremos inserções nas redes sociais com apresentação da Equipe @batalhadalestelondrina
Dia 5/11
14h – 18h30 – Lazer na Praça
Local: Praça Acquaville
Ação conjunta entre a Semana da Favela e @batalhadalestelondrina
– Contação de Histórias;
– Brincadeira de Rua;
– Apresentações musicais;
– Apresentação teatral;
– Oficina de Rimas: teia de ideias
– Batalha de Rimas;
– Arrecadação de Alimentos
Dia 6/11
Das 9h às 14h – Feira de Serviços
Local CAIC E. M. Zumbi dos Palmares
Rua João Alves da Rocha Loures, 3655 – União da Vitória
Local: o evento será realizado no bairro União da Vitória, a favela mais populosa da região sul da cidade, no espaço do Instituto União para a Vitória, entidade do terceiro setor de maior abrangência àquela população.
Objetivo: ofertar acesso a serviços e direitos oferecidos à população de maneira descentralizada, para que possam emitir documentos, solicitar informações jurídicas, serviços de saúde pública, socioassistenciais, educacionais, negociação de dívidas, atividades de extensão universitárias oferecidas ao território, informações sobre abertura e legalização de negócios, entre outras ofertas.
Dias 6, 7 e 8/11
Oficinas formativas, de qualificação e fomento à geração de renda
Horários: nos 3 turnos, com execução de oficinas e workshops com até 3h de duração
Objetivo: fomentar a autonomia econômica, despertar o desejo de empreender e apresentar caminhos para a formalização do negócio, precificação de produtos e serviços, estimular crescimento pessoal e fortalecimento da economia local.
Temáticas:
Workshop de fotografia para vendas: luz, celular e ação!
Dicas de apresentação de produto para vendas e como produzir conteúdos pessoais com uma boa imagem
Duração 3h
Datas: 6/11 a partir das 14h – zona norte e 8/11 a partir das 14h – zona sul
Oficina de tranças: estética, autoestima e o tecer de histórias
Duração 3h
Datas: 6/11 a partir das 14h – zona norte e 7/11 a partir das 14h – zona oeste
Oficina de maquiagem: autocuidado e a valorização das múltiplas belezas
Duração 3h
Datas: 7/11 a partir das 14h – zona leste e 8/11 a partir das 14h – zona norte
Workshop de artesanato: enquadrando ideias
Duração 3h
Datas: 6/11 a partir das 9h – zona norte e 7/11 a partir das 9h – zona leste
Faça e venda: salgados para festas
Duração 3h
Datas: 6/11 a partir das 9h – zona leste e 7/11 a partir das 9h – zona oeste
Workshop vendas online: como ofertar e receber
Duração 3h
Datas: 7/11 a partir das 19h – zona norte e 8/11 a partir das 19h – zona central
Workshop canva para redes sociais: crie identidade visual pro seu negócio e colha resultados
Duração 3h
Datas: 6/11 a partir das 19h – zona sul e 7/11 a partir das 14h – zona leste
Workshop de grafite: origem da arte e o stencil como técnica inicial
Duração 6h divididas em 2 oficinas de 3h
Datas: 7/11 a partir das 14h – Cense II e 8/11 a partir das 14h – Cense I
Faça e venda: doces para festas
Duração 3h
Datas: 7/11 a partir das 14h – zona sul e 8/11 a partir das 9h – zona leste
Dia 7/11
19h – Entrega Troféu Luiz Gama
Local: Salão Social do SESC Centro
Serão 20 homenageados nas seguintes categorias:
- Tradições e autoestima;
- Dignidade e coletividade;
- Corpos em movimento;
- Arte para todos;
- Estética e empoderamento;
- Artivismo e informação;
- Políticas públicas;
- Olhar humano;
- Esporte e transformação;
- Heróis sem capa: anônimos que movimentam a justiça social
Dia 8/11
Encerramento: Favela Vive!
Grupo de samba com tributo ao Zeca Pagodinho no Calçadão de Londrina
Serviço: Semana da Favela Londrina
Data: De 4 a 8 de novembro de 2023
Mais informações: (43) 99185-1976 (Elsa Caldeira) e (43) 99601-0264 (Franciele Rodrigues)
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.