Copom e Roberto Campos Neto ignoram entrega do arcabouço fiscal e pedidos de diversos setores pela redução da Selic
Não surpreende ninguém que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), tenha anunciado, nesta quarta-feira (3), que a taxa básica de juros, a taxa Selic, continuará em 13,75% ao ano (o maior valor desde 2016). Esta é a sexta vez consecutiva que a taxa fica neste patamar iniciado em agosto de 2022.
O informe do BC sobre a manutenção da taxa começa com: “O ambiente externo se mantém adverso”.
No comunicado é trazido que: “Os episódios envolvendo bancos no exterior têm elevado a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até o momento, requerendo contínuo monitoramento. Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente.”
Na reunião do Copom anterior, encerrada em 22 de março, as justificativas para a manutenção da taxa giraram em torno das “pressões inflacionárias globais” e “incerteza sobre o arcabouço fiscal [marco fiscal]”.
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que mede a prévia da inflação oficial, desacelerou para 0,57% em abril. No acumulado de 12 meses a inflação ficou em 4,16% no Brasil.
No entanto, mesmo com o andamento de medidas no campo fiscal e a inflação demonstrando estar sob controle, o Copom mantém a injustificada posição de “jogar contra” o Brasil.
Na alegação dessa quarta, o BC indica que “a reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal”. Apesar disso, os representantes do Copom acreditam que as medidas ainda não são suficientes, pois o “processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas”.
Como forma de “ameaça” – não se pode entender o contrário – o texto é encerrado com um indicativo de que a política monetária liderada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, ainda pode piorar. Isso porque o Copom diz que não se rogará em aumentar a Selic – caso julgue necessário – mesmo em um ambiente de desaceleração econômica.
“O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, finaliza o informe.
Brasil quer redução
Pesquisa Datafolha divulgada no início de abril mostrou que 80% da população concorda com a pressão que o presidente Lula (PT) faz ao Banco Central pela redução da taxa de juros. Ainda segundo a publicação, 71% dos entrevistados consideram que a Selic está mais alta do que deveria, sendo que 55% desse total acreditam que ela é muito mais alta e 16% que está um pouco mais alta.
Durante o evento do 1º de maio, realizado em São Paulo (SP), pelas Centrais Sindicais, o presidente Lula disse que a taxa de juros “não controla a inflação, ela controla o desemprego”.
Em texto crítico sobre a manutenção da taxa básica de juros, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) “considera equivocada a decisão” e “espera que, com a continuidade do movimento de desaceleração da inflação, o Copom inicie na próxima reunião o processo de redução da Selic”. Até mesmo o presidente da CNI, Robson Andrade, que é próximo do ex-presidente Bolsonaro, entende que a Selic está há mais de um ano em patamar alto o suficiente para contrair a atividade econômica e desacelerar a inflação.
No Twitter, a presidenta do PT e deputada federal, Gleise Hoffmann, criticou duramente a decisão: “Quanto já custou ao país o negacionismo econômico de Campos Neto? Quantos empregos, empresas falidas, famílias destruídas? A vacina sempre esteve ao alcance do Copom, mas insistem nos juros genocidas. Até quando ficarão impunes?“
A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 20 e 21 de junho. Confira o texto completo sobre a manutenção da Selic aqui.
Fonte: Portal Vermelho