Os servidores afirmam que se sentem abandonados pelo atual governo e sem previsão de uma futura negociação
Matéria: Mayala Fernandes/Brasil de Fato – PR
O total de técnicos-administrativos em educação (TAEs) que atuam na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) representa apenas 3% do número de estudantes matriculados na instituição, sem contar os alunos dos cursos de pós-graduação. A UTFPR tem a pior correlação do país entre o número de técnicos, docentes e estudantes.
Atualmente, são 1.091 TAEs responsáveis por planejar, organizar, executar ou avaliar atividades de cerca de 36 mil estudantes. São mais de 110 cursos de graduação em 13 cidades do estado, além de 77 cursos de mestrado e doutorado.
Áurea Melo, técnica-administrativa e integrante do Comando Estadual de Greve, comenta que o momento de interiorização da UTFPR não foi acompanhado pela contratação de servidores para suprir as novas demandas. “Temos que lembrar também que somos uma instituição centenária, muitas pessoas estão próximas da aposentadoria e cargos já foram extintos. Quando eles se aposentam não são repostos e a universidade fica com uma lacuna, outro funcionário precisa acumular aquele trabalho”, diz ela.
Diante deste cenário, a categoria dos técnicos se encontra extremamente sobrecarregada e com inúmeros casos de adoecimento. A sobrecarga destes servidores impacta diretamente no funcionamento da universidade, porém a categoria se sente invisibilizada.
“Para que a sala de aula funcione existe toda uma estrutura por trás, somos nós que fazemos a ‘máquina rodar’, seja através do trabalho nas coordenações de curso, na área de Recursos Humanos, no T.I. ou mesmo na gestão dos auxílios estudantis”, afirma Thasiana da Luz, técnica-administrativa em educação. “Mas somos invisíveis dentro da universidade, as pessoas nem sabem que a categoria existe”.
Reivindicações
A remuneração dos técnicos-administrativos em educação é a mais baixa do Executivo Federal. Dados divulgados pela Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnicos-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra), mostram a diferença de remuneração entre a universidade e outros órgãos.
Os TAEs da UTFPR de nível intermediário recebem uma remuneração inicial de R$ 2.446,96 e os de nível superior de R$ 4.180,00. Já os servidores do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit), por exemplo, recebem R$ 5.689,77 no nível médio e R$10.823,03 para nível superior.
“Para se ter uma noção, se um estudante ingressar na universidade com esse salário ele será considerado aluno em risco de evasão. Com esse valor, considera-se a pessoa que está em situação de vulnerabilidade e pode receber bolsa”, conta Thiago Herek, técnico e membro do Comando Estadual de Greve. “É curioso que o governo ofereça um salário para a categoria que seja considerada vulnerável para estudar na própria instituição”.
A categoria ficou de 2017 a 2022 sem reajuste anual no salário. Em 2023, receberam 9%. Contudo, os servidores afirmam que o que foi oferecido no ano passado e no próximo ano — o governo ofereceu 9% em 2025 —, não recompõe sequer a inflação acumulada durante o período sem reajuste.
“Estamos tentando resgatar e recuperar o poder aquisitivo que foi esfacelado durante esses anos. No período da pandemia, a inflação subiu muito e nós estávamos com o mesmo salário de 2017”, fala Thiago. “Isso é insustentável e a gente percebe literalmente no nosso bolso”, afirma.
Além da pauta de reajuste, uma das principais demandas dos TAE’s é o Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação (PCCTAE), um plano composto por 322 cargos, dos quais ao menos 56 estão extintos e 37 com vedação para abertura de novos concursos.
Os 1.091 TAEs estão ativos nos 13 campis da universidade. Destes, 191 já estão no último nível de progressão. Outros 211 em pouco tempo também chegarão neste mesmo ponto. Ou seja, 37% poderão ficar estagnados na carreira nos próximos anos. Além disso, o quadro da UTFPR tem 124 técnicos ativos em cargos extintos.
O cenário evidente de precarização faz com que as instituições de ensino públicas tenham uma crescente taxa de desligamento na carreira. Em apenas três anos, entre 2020 e 2023, o percentual de TAE que não permaneceu na carreira passou de 38% para 75%. Isso significa que 7 em cada 10 servidores pedem exoneração no período médio de um ano, os dados são do Painel Estratégico de Pessoal, produzido pela Fasubra.
No mesmo período, em outras carreiras do Executivo Federal, o índice de pedido de exoneração se manteve entre 6% e 10%.
“Não estamos conseguindo que os aprovados nos concursos assumam os cargos e os que possuem mais experiência se aposentam, a categoria não consegue se desenvolver. Estamos sobrecarregados e assim se constrói um cenário de precarização e desvalorização da universidade pública”, diz Áurea Melo.
Adoecimento e saúde mental
Os casos de adoecimentos e transtornos mentais no ambiente de trabalho, como ansiedade e síndrome de Burnout, têm se tornado mais comuns no cotidiano dos servidores. Tais condições podem ser causadas pelo acúmulo de funções, de serviço e longas horas de jornada.
“Quando a pessoa adoece é porque ela chegou no extremo, antes disso ela dá diversos sinais. Às vezes parece que a pessoa está aguentando muito, mas a gente não sabe a medicação que ela está tomando ou se está conseguindo dormir”, diz Áurea Melo. “Até chegar ao adoecimento existe um longo percurso e a universidade está fechando os olhos para isso”, afirma.
Todos os 13 campis da UTFPR contam com apenas um engenheiro de segurança do trabalho, para avaliar a periculosidade ocupacional e segurança dos servidores, e um médico para fazer as perícias.
“Depois que a pessoa adoece, ela vira descartável para a instituição, mas não entendem os motivos para esse adoecimento. É toda uma construção de precarização e dificuldade que chega a um momento em que os técnicos já não aguentam”, diz Áurea.
Negociação com o governo
A categoria deflagrou greve há 45 dias e afirmam que até o momento não houve negociações significativas com o governo.
“O retorno que o governo apresentou foi uma reestruturação bastante anêmica, de 22 pontos, atenderam 5 totalmente e outros 4 de forma bastante frágil. Uma proposta bastante anêmica do que estávamos esperando”, afirma Thiago Herek, membro do Comando Estadual de Greve.
Os TAE’s rejeitaram a última proposta de reajuste de reestruturação de carreira apresentada pelo governo na última mesa de negociação, realizada no dia 19 de abril. A proposta era de 0% de reajuste neste ano, 9% em 2025 e 3,5% em 2026.
A Fasubra, que representa a categoria nacionalmente, reivindica 10,34% de reajuste neste ano, 10,34% no ano que vem e 10,34% em 2026. Enquanto as demandas não forem atendidas, a greve segue por tempo indeterminado e tem indicativo de caravana à Brasília em maio.