Presidente da Assembleia Legislativa do Paraná diz que deputado negro precisa parar “de ser vítima de tudo”
O presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano (PSD), afirmou na sessão desta quarta (19) que Renato Freitas (PT), um dos poucos deputados estaduais negros da atual legislatura, “se vitimiza o tempo todo”. Os dois acabaram batendo boca em plenário, mas Traiano cortou o microfone do petista e chamou o corregedor para falar com ele em reservado, dando a entender que irá abrir um procedimento no Conselho de Ética contra o deputado.
A história começou porque Renato vem travando uma intensa disputa com um membro da ultradireita evangélica na Assembleia, o Missionário Ricardo Arruda (PL). Na sessão desta quarta, de novo os dois trocaram acusações. Mas ao contrário do que acontece em geral em situações desse gênero, Traiano decidiu que a Presidência deveria tomar lado – no caso, tomar as dores de Ricardo Arruda.
Renato Freitas, um dos principais líderes do movimento antirracista no estado, tinha rebatido Arruda, afirmando que sentia orgulho das vezes em que foi abordado pela polícia, uma vez que nunca teria cometido crime e sempre foi parado ou por racismo ou por se recusar a aceitar de cabeça baixa ordens autoritárias.
Traiano começou seu discurso dizendo que Renato “é um vencedor” por ter conseguido se eleger. Mas logo em seguida disse que o deputado precisa “parar de se vitimizar”, afirmando inclusive que Renato usaria “a estratégia da vitimização” para se manter na imprensa o tempo todo. Renato, que já não estava na tribuna, pediu respeito. “O senhor me respeite!”. Traiano disse que dedicava a ele o “respeito que ele merecia”. E cortou seu microfone.
Renato Freitas, com dedo em riste, continuou exigindo compostura do presidente, lembrando que ele não poderia ser julgado ali, já que se tratava do plenário, e não do Conselho de Ética. Traiano, irritado, chamou o corregedor Artagão Júnior PSD) para falar com ele em reservado e suspendeu a sessão. Depois, anunciou que medidas serão tomadas “para os dois lados”.
Leia a nota divulgada por Renato Freitas
Na sessão plenária do dia 19 de abril de 2023, o deputado estadual Renato Freitas fez uma fala na Tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) destacando a necessidade de preservar a verdade dentro dos espaços políticos.
Em seu discurso, o parlamentar combateu três mentiras do deputado Ricardo Arruda, o qual alega reiteradamente que: I) os atos golpistas no dia 08 de janeiro foram uma conspiração do partido dos trabalhadores; II) o Ministro da Justiça, Flávio Dino, responde à mais de 200 processos; e III) o adolescente Caio José, executado pela Guarda Municipal de Curitiba, estava com uma faca de 25 cm ameaçando policiais e moradores.
Isso foi suficiente para o deputado de extrema-direita elevar o tom e atacar o deputado Renato Freitas com afirmações caluniosas. Em tom exaltado e agressivo, o bolsonarista afirmou que Freitas seria envolvido com homicidas e integrantes do PCC, o que é falso. Ademais, o ofendeu alegando que não sabe se portar como deputado, sendo, em suas palavras, “uma pessoa que gosta de ouvir funk e fumar maconha”, também continuou difamando o deputado referindo-se a ele como “esse menino, que não é menino, tem quase quarenta anos, mas tem mentalidade de criança”.
Registra-se que as falas de Arruda denotam a forma clássica de como o racismo opera: a criminalização do sujeito em função de sua raça e origem social, a infantilização e o questionamento de suas faculdades mentais, com o objetivo de inferiorizá-lo.
Freitas pediu novamente a palavra e, de forma amena e concisa, rebateu as acusações de Arruda, esclarecendo algumas situações em que foi vítima de abuso de autoridade e de violência física por parte das forças de segurança do estado que, sem provas, tentaram incriminá-lo.
Após manifestação do deputado, o presidente da Alep, Ademar Traiano, ignorou completamente a agressividade e as mentiras de Arruda e passou a acusar Freitas de “vitimismo”. Com isso, o parlamentar solicitou questão de ordem, por entender que, conforme o art. 29 do Regimento Interno, que prevê as prerrogativas do presidente da Casa, não cabe a ele formular juízos de valor sobre parlamentares.
Nesse sentido, destaca-se que as prerrogativas da presidência da Alep não incluem ser juiz de um tribunal de exceção e que não é adequado que o presidente utilize sua posição para julgar os parlamentares, sem o devido procedimento previsto no Regimento Interno.
Vale lembrar ainda que, como é de conhecimento público, o deputado Ricardo Arruda vem constantemente tentando forjar situações em que se coloca como vítima de Freitas. Tal postura culminou até mesmo em um registro de boletim de ocorrência em que Arruda, de forma caluniosa, acusa Freitas de tê-lo ameaçado de morte em plenário. Nesse sentido, nos causa estranhamento que Arruda também não tenha sido acusado de “vitimismo” pelo presidente da Alep.
Por fim, o deputado Renato Freitas reitera seu compromisso com a democracia, com as instituições e com a verdade, o que perpassa o combate às mentiras e fake news que parecem ser pacificamente toleradas na tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná.
Fonte: Jornal Plural