“De acordo com a pesquisa origem/destino, quase 46% dos deslocamentos na cidade são feitos por automóveis
O debate sobre mobilidade urbana deve ser central na eleição de Curitiba e de muitos municípios.
Tarifa Zero, ônibus elétricos, custo por passageiro, integração no transporte são os focos principais. Mas não só isso. O Seminário Mobilidade Urbana em Curitiba realizado na Câmara Municipal apontou problemas e soluções para o assunto.
O evento, organizado pela Federação Brasil da Esperança (PT, PV e PCdoB), contou com a participação de Tainá Bittencourt – doutora em engenharia de transporte, Mariana Auler, advogada e doutora em políticas públicas, e Yasmim Reck – mestre em Planejamento Urbano.
A vereadora Professora Josete, uma das proponentes da discussão, abordou o Sistema Único de Mobilidade Urbana. Segundo ela, a ideia é de que “nós tenhamos um sistema nacional para que nós possamos ter uma ação conjunta de estados e municípios para
realmente avançar nessa pauta. Então o SUM propõe o que a gente chama de Triplo Zero: Zero tarifa, Zero emissão de poluentes e Zero mortes no trânsito”, enumera a vereadora.
Uma das palestrantes foi Tainá Bittencourt, que é doutora em engenharia de transporte pela Universidade de São Paulo e engenheira civil pela Universidade Federal do Paraná, com período sanduíche no Instituto Nacional de Ciências Aplicadas de Lyon, na França. É pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM).
De acordo com a especialista, o maior paradoxo da mobilidade urbana de Curitiba, é que ela é reconhecida aí como uma referência em mobilidade urbana no país, tem muitos méritos, e conseguiu produzir muitas coisas inovadoras e coisas que são importantes e de fato referência para outros municípios.
“Mas, ao mesmo tempo, Curitiba tem uma uma divisão modal que é predominantemente composta por viagens por automóvel, indo na contramão do que se preconiza enquanto uma mobilidade urbana sustentável, que de fato é referência para o mundo”, sublinha a engenheira, que complementa: “De acordo com a pesquisa origem/destino, quase 46% dos deslocamentos na cidade são feitos por automóveis e suspeito que esses números aumentam devido a redução do uso do transporte público”.
Segundo Tainá, as pessoas têm sido afastadas do transporte por causa do tempo de espera e viagem, o custo das passagens ser caro, e a lotação. A especialista pesquisa o deslocamento fazendo o recorte por renda e raça.
“Quando a gente olha para classe social e raça, em Curitiba, se percebe que a classe alta e branca, tem uma facilidade de acessar oportunidade de emprego três vezes maior do que a população de classe baixa de menor renda e negra. Isso não é uma coincidência que as pessoas da periferia demoram três vezes mais para acessar o mesmo mesmo número de oportunidades ou que as pessoas de classe baixa/negra tem uma dificuldade três vezes maior para acessar o mesmo número de oportunidades que classes altas brancas. Justamente porque quando a gente olha para o mapa da cidade, os brancos e de alta renda moram próximos onde estão os melhores empregos”, compara.
Gráfico
Para piorar, essas regiões são as que possuem as piores condições de calçadas e serviços públicos. E isso é uma escolha da gestão pública. Em 12 anos, o Caximba, por exemplo, recebeu R$ 20 reais em investimentos públicos. Comparado ao Batel, esse bairro recebeu dez vezes mais (R$ 205) que os habitantes do extremo da cidade.
Para Tainá, o vencimento da licitação é uma oportunidade para reduzir as desigualdades promovidas pelo transporte público. “Vai ter uma nova concessão do transporte público coletivo. Então queria trazer alguns elementos muito pragmáticos: é fundamental a gente ter em mente quando a gente vai discutir essa nova licitação pensando aí em termos e concretos. O que que a gente pode fazer é dar sementinha das inovações. Tornar o transporte público menos caro no horizonte de Tarifa Zero e mais e de mais qualidade para para todo mundo”, conclui.
Justiça Social e mobilidade
O debate sobre mobilidade urbana deve ser central na eleição de Curitiba e de muitos municípios. Tarifa Zero, ônibus elétricos, custo por passageiro, integração no transporte são os focos principais. Mas não só isso. O Seminário Mobilidade Urbana em Curitiba realizado na Câmara Municipal apontou problemas e soluções para o assunto. Principalmente com relação a discriminação de pessoas de baixa renda e negra. O recorte social revela que essas pessoas têm mais dificuldade de conseguir e se deslocar ao emprego.
Fonte: Brasil de Fato