Curadores desta edição, destacam importância da representatividade
O Festival Internacional de Londrina (FILO) 2023 começou no último sábado (17). Com o Cine Teatro Ouro Verde lotado, o pernambucano Magiluth foi o primeiro a subir no palco, trazendo para a cidade o espetáculo “Estudo Nº 1: Morte e Vida”. A apresentação ocorreu logo após cerimônia de abertura que contou com a presença de autoridades como o vice-reitor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), professor Airton Petris e do vice-prefeito, João Mendonça.
A 55ª edição do FILO foi dedicada ao fotógrafo Celso Pacheco, que faleceu no último dia 10, após uma queda enquanto trabalhava. Além da passagem por diversos veículos da cidade, o profissional registrou momentos do FILO e do Festival de Música de Londrina em anos anteriores.
Diversidades sobem ao palco
Em entrevista concedida pela comissão organizadora do Festival, realizada na manhã da última quinta-feira (15), a equipe destacou que o olhar para as múltiplas diversidades existentes na sociedade brasileira (gênero, pertencimento étnico-racial, religiosa, classe, geográfica) guiou a definição das 40 apresentações que chegam ao público nos próximos 16 dias.
“A questão do recorte representativo parte da necessidade de se reconhecer e incluir o trabalho de grupos e artistas que trazem as discussões identitárias, não só na linguagem do trabalho, mas na própria existência. Temos uma presença nesta edição de artistas com diferentes recortes dentro da identidade negra, indígena, de gênero. Não para que isso soe com um totem ou alguma questão pré-estabelecida, até porque são artistas que têm uma bagagem e qualidade artística, estética, poética e política muito potente”, explica o curador Eddie Mansan.
Eddie traz o exemplo do grupo Baquetá, de Curitiba, que há 13 anos tem se dedicado a produções com a temática afro-indígena. Para ele, a presença destes coletivos é fundamental a fim de desconstruir visões estigmatizadas e elitistas sobre a cultura produzida no país. “A gente vê este movimento de um tempo pra cá tomando forma. Existem estas potências dentro dos campos das artes da cena e que precisam estar nestes lugares, compor as programações dos festivais e tratar de temas que são muito recorrentes não só no presente, mas o tempo todo. A necessidade de falar, se manifestar e denunciar questões muito urgentes e enaltecer o protagonismo destes grupos e artistas que tem um trabalho fantástico”, ressalta.
Até o dia 2 de julho, serão ofertados 23 espetáculos e performances para todas as idades e com assuntos diversos que dialogam com questões atuais não apenas do Brasil, a exemplo da violência contra a mulher. Entre as atrações, o FILO terá 11 apresentações gratuitas que acontecem nas praças Tomi Nakagawa e Marechal Floriano Peixoto, no Calçadão e Terminal Central, Zerão e na rua em frente ao Sesc Cadeião (além da apresentação gratuita da leitura dramática “Carne Viva”, cujos ingressos já estão esgotados).
Encruzilhadas
A artista, produtora cultural e doutoranda em Artes Cênicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Amanda Ferreira Marcondes, conta que a palavra “encruzilhada” é o que cria e crava o eixo curatorial desta edição. “Após o processo curatorial que chegamos a um recorte, tema que preferimos chamar desta encruzilhada, deste encontro de espetáculos e abordagens, onde o que chamou os nossos olhos e permeia nossos corpos, pesquisas e produções artísticas, são as questões identitárias já se refletem no trabalho de muitos artistas de todo o mundo, mas com forte presença no contexto latino-americano”.
Amanda compartilha que ao ser convidada para compor a curadoria do FILO 2023, pensou: “Mas para quem é este Festival? Como é entrar no palco e poder se ver, saber que você também pode ocupar este espaço? Estes trabalhos têm esta relevância que, muitas vezes por um recorte muito eurocentrado acabam sendo eximados, considerados como menos artísticos”, alerta.
Ela indica que a arte, enquanto abordagem estética e política, deve contribuir para desnaturalização de preconceitos ao mesmo tempo em que chama atenção para as pluralidades. “O que eu acho que atravessam estes espetáculos e ações performativas é inclusive evidenciar os corpos que não são vistos, neste regime de reconhecimento. Lembrar que foram subalternizadas e não que são. Então, acho que esta edição chega neste lugar de representatividade no sentido de dar a ver o que já está, reconhecer o que é artístico o que também é, isso são responsabilidades nossas, compromisso ético com a nossa própria área de olhar para as artes da cena”, reforça.
Imaginar mundos outros
O FILO 2023 terá representantes de cinco países: México, Holanda (artista brasileira residente em Amsterdã), República Democrática do Congo (artista congolês que mora no Brasil), uma coprodução Brasil-Canadá. E também grupos e artistas de dez cidades de oito estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.
“Tem uma frase que sempre me salta aos olhos desta curadoria que é de uma pesquisadora chamada Claudia Pain, ela fala que as práticas de intervenções na América Latina, se nas décadas de 1960, 1970 tinham o principio de morrer por uma causa, hoje temos o principio de viver e de gozar dos nossos direitos de existência e de fruição, porque não imaginar futuros e nos projetarmos nestes futuros?”, questiona Amanda.
Além de Eddie e Amanda, neste ano, o FILO também possui a curadoria de Carin Louro:
Onde comprar ingressos
Os ingressos para os espetáculos do FILO 2023 podem ser comprados pelos links disponíveis no site www.filo.art.br e na plataforma online www.sympla.com.br. Valores: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada). Vale destacar que o FILO concede benefícios de meia-entrada estabelecidos por lei e descontos proporcionados pelas parcerias.
Realizado pela Associação dos Profissionais de Arte de Londrina, o FILO 2023 tem patrocínio da Prefeitura de Londrina, por meio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic).
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.