Procurada pela reportagem, a direção do Hospital informou que o aparelho será instalado após reforma, cuja conclusão prevista é março de 2023
Durante a Pré-Conferência de Saúde, sediada no Sindicato dos Bancários de Londrina e Região, em 28 de janeiro, além das discussões das demandas voltadas à saúde do trabalhador (saiba mais aqui), outro assunto foi levantado: a demora na instalação de um tomógrafo doado pelo coletivo ao Hospital Universitário (HU) da cidade, em junho de 2022. O instrumento é utilizado para criar imagens detalhadas de variados tecidos do corpo humano, ajudando a identificar, portanto, doenças graves.
De acordo com Laurito Porto de Lira Filho, secretário de formação do Sindicato dos Bancários e integrante do Conselho Municipal de Saúde, a entidade não direcionou o aparelho propriamente, mas o valor aproximado de R$ 2 milhões para o Hospital a fim da aquisição. A verba foi viabilizada após o Sindicato vencer um processo trabalhista contra o banco Santander. Na ocasião, a instituição financeira foi condenada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) a pagar indenização por cobranças abusivas de metas, assédio moral e adoecimento mental de seus funcionários.
“Existe um programa dentro do Ministério Público do Trabalho e Justiça do Trabalho, que recebe o valor de uma multa e projetos são escolhidos para serem desenvolvidos. Na época, foi determinado a ação “Os amigos do HU”, e ele previa a aquisição de um tomógrafo. Ele foi beneficiado com este recurso e para nós o que causou estranheza que quando fomos anunciar que havíamos ganho o processo às partes envolvidas, o HU pediu para que não fizéssemos a divulgação da vitória e reversão da multa para o projeto porque isto poderia atrapalhar as negociações para aquisição do aparelho, poderiam elevar o preço”, explica.
Ainda, segundo Filho, desde a liberação da quantia para compra do tomógrafo, o Sindicato tem enfrentado dificuldades para obter mais informações junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e HU sobre a aquisição e instalação, chegando a tomar conhecimento só mais tarde de que a Unidade de saúde não dispunha de estrutura física adequada para alocar o aparelho.
“Não fomos informados pelo Ministério Público do Trabalho e nem pelo próprio HU quando foi feita a aquisição, também não ficamos sabendo quando receberam o aparelho e só depois avisaram que não existe local para instalação do aparelho”, indica.
A liderança relata que as tentativas de diálogo não avançaram e que ao buscarem a diretoria do HU e representantes da associação “Amigos do HU” foram destratados. “Tentamos interlocução com a Associação e com Hospital e fomos muito mal-recebidos. Por ligação, fomos muito mal atendidos pela direção do HU. Parecia que eles estavam escondendo alguma coisa, mas que deve ser o fato de não ter o local para instalar e há os prazos legais que precisam ser cumpridos com o Ministério Público”, sugere.
Filho destaca que a situação tem causado grande desconforto na categoria, visto que a demora em resolver o impasse tem atrasado a chegada do serviço à população. Ademais, ele aponta a preocupação com a assistência técnica do aparelho.
“Quanto mais tempo passa, temos medo de que o aparelho seja danificado, questões como a garantia seja perdida, já que ele está parado. O Sindicato dos Bancários de Londrina é cidadão, então, através das lutas da categoria, ele tenta fazer com que melhorias sejam revertidas para todos os trabalhadores da cidade, uma vez que a gente sabe das dificuldades que o SUS [Sistema Único de Saúde] tem para fazer o atendimento das pessoas quanto à necessidade de exames, principalmente, mais complexos”, ele observa.
Dirceu Quinelato, secretário geral do Sindicato, argumenta que é frustrante acompanhar a falta de destreza dos poderes públicos a fim de garantir melhorias na qualidade dos serviços ofertados à sociedade, principalmente, a segmentos mais vulneráveis.
“Quando o mercado financeiro é condenado e é possível reverter recurso para a população carente, inclusão social e não vemos contrapartida do poder público. Na minha opinião, eles fazem corpo mole na implementação dos processos, e a população nas periferias precisando de aparelho, atendimento, o recurso existindo e parado, isto nos deixa chateadíssimos”, avalia.
Filho conta que o Sindicato buscou a Comissão de Seguridade Social da Câmara Municipal de Londrina com o intuito de resolver o impasse o mais breve possível. Lenir de Assis, vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e presidenta da Pasta, informou que que o assunto está sendo averiguado e com a retomada das atividades na Câmara Municipal irá solicitar a instalação imediata ou transferência para outro espaço a fim de que o serviço seja disponibilizado com urgência.
“Já entramos em contato diversas vezes, a informação é que o HU recebeu este aparelho de tomografia na casa de R$ 2 milhões e que ainda não foi instalado justamente por falta de condições de adequação do espaço físico e contratação de profissionais. Mas isto, de fato, é algo que faz falta para a população. Sabemos que há pessoas que esperam por meses por este serviço”, pontua.
Tomógrafo quebrado
De acordo com informações compartilhadas pela Folha de Londrina, em agosto de 2022, o tomógrafo do HU estava quebrado há aproximadamente um mês. Com isso, pacientes que requeriam o exame, em caráter de emergência, estavam sendo encaminhados para o LabImagem, empresa contratada pelo Hospital para terceirizar o serviço. À época, o novo aparelho já havia sido doado pelo Sindicato há cerca de dois meses.
O que diz o HU
Procurada pela reportagem, a Diretora Administrativa do HU, Daiane Cardoso, informou que o tomógrafo será alocado após reforma em curso no prédio. “Como o HU é um hospital público, foi necessário fazer um processo de licitação antes do início das obras, a mesma está em fase de conclusão com a indicação de término para março de 2023”, declarou.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.