Já proporção dos homens que apenas trabalhavam superou a de mulheres nesta situação
De acordo com levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no último ano, havia no país, 48,5 milhões de pessoas na faixa etária de 15 a 29 anos, sendo que 19,8% não estavam ocupadas e nem estudando.
Porém, ao considerar o recorte de gênero, constatamos algumas disparidades. Segundo a pesquisa, cerca de 25,6% das mulheres nesta idade não estavam trabalhando e nem se qualificando enquanto 14,2% dos homens estavam nessa condição.
Mesmo com a diferença, em 2023, uma quantidade maior de mulheres de 18 a 24 anos frequentava a escola (33,4%). Entre homens, o valor decrescia para 27,7%. Além disso, 25,1% delas eram estudantes de graduação e 5,1% tinham concluído este grau enquanto entre os homens, os percentuais foram, respectivamente, 18,3% e 3,5%.
Por outro lado, a proporção dos homens que apenas trabalhavam (47,3%) superava a das mulheres (31,3%) nesta situação.
A socióloga Carla Pedroso Almeida aponta que um dos fatores que historicamente tem afastado as mulheres das salas de aula e mercado de trabalho, sobretudo, concomitantemente, é o trabalho doméstico e de cuidado.
“O tempo dedicado por mulheres ao trabalho doméstico e cuidado de terceiros, sejam filhos, idosos, entre outros dependentes, tem aumentado e, portanto, a discrepância em comparação à carga horária destinada por homens as mesmas atividades, também tem crescido. Em um dos últimos mapeamentos do IPEA, observou-se que o fato de ser mulher leva a um aumento de 11 horas semanais voltadas ao trabalho doméstico. Com esta maior jornada, as possibilidades de ingressar no mercado de trabalho e dar sequência aos estudos tornam-se mais restritas”, avalia.
De acordo com a pesquisadora, esta desigualdade ainda está fundamentada na ideia de separação entre espaço público e privado. “Ainda caso certo espanto aqueles arranjos familiares em que o homem, pai fica em casa cuidando dos filhos enquanto a companheira sai para trabalhar, garantir o sustento da casa. Isto porque, no imaginário social dominante, a divisão sexual do trabalho, tende a destinar mulheres ao ambiente doméstico e os homens ao espaço público. Porém, esta visão além de machista, nem sempre condiz com a realidade, já que temos acompanhado o crescimento de lares chefiados por mulheres, mães solo”, acrescenta.
Entre as pessoas brancas, 18,4% trabalhavam e estudavam, percentual maior que o das pessoas negras (13,2%). Já o percentual de negros que não estudavam e não estavam ocupados (22,4%) foi bem superior ao dos brancos (15,8%).
Abandono escolar é maior entre homens negros
Ainda, com base no estudo, no grupo etário de 14 a 29 anos, aproximadamente 9 milhões não completaram o ensino médio no período, seja por terem abandonado a escola antes do término desta etapa ou por nunca terem frequentado. Destes, 58,1% eram homens e 41,9% eram mulheres. Considerando-se o pertencimento étnico-racial 27,4% eram brancos e 71,6% eram negros.
As maiores porcentagens de evadidos se deram nas faixas a partir dos 16 anos (16%) chegando a 21,1% aos 18 anos.
Como reflexo, o índice de pessoas brancas entre 18 e 24 anos que frequentavam o ensino superior no país, em 2023, atingiu 29,5% ao passo que entre pessoas negras a taxa cai para 16,4%, ou seja, 13,1 pontos percentuais de diferença.
A desigualdade, consequentemente, também é perceptível entre o número de concluintes. No período, o contingente de pessoas brancas da mesma faixa etária que concluíram o ensino superior alcançou 6,5%, diminuindo para 2,9% entre pessoas negras, isto é, menos da metade.
“A Meta 12 do PNE [Plano Nacional de Educação] é que a taxa de frequência escolar líquida no ensino superior para a população de 18 a 24 anos suba para 33% até 2024. Em 2023, no Brasil, essa meta havia sido alcançada somente entre as pessoas de cor branca, com taxa de 36,0%. O desafio do país será reduzir essas desigualdades, combatendo o atraso escolar e incentivando a permanência na escola”, observa Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.