Racismo restringe acesso aos serviços de saúde
28 de maio marca o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional da Redução da Mortalidade Materna. Dados preliminares do Observatório Obstétrico Brasileiro apontam que o Brasil teve 1.252 mortes maternas em 2022. Os números vêm crescendo nos últimos anos, visto que mulheres grávidas foram um dos principais grupos atingidos pela pandemia de Covid-19.
Segundo a entidade, em 2021, ao menos 1.518 gestantes morreram em decorrência do novo coronavírus no país. Neste período, os estados com índices mais altos de mortalidade materna foram: Roraima, Tocantins e Rondônia. As causas mais recorrentes dos óbitos foram: hipertensão, seguida por hemorragia e infecção. De acordo com o estudo, nove em cada dez mortes poderiam ser evitadas, ou seja, 90%.
Ainda, com base na investigação, mulheres negras e indígenas estão ainda mais expostas ao risco de morrer por complicações durante o parto. Dossiê desenvolvido pela ONG Criola, identificou que, em 2019, dos 1.576 óbitos registrados 1.039 eram de mulheres negras, representando 65% da mortalidade materna em território nacional. O levantamento completo pode ser acompanhado aqui.
Mulheres negras sofrem mais violência obstétrica
Segundo estudo publicado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), nomeado “A cor da dor”, a chance de uma mulher negra não receber anestesia durante o parto, é 50% maior em relação às brancas. Também mulheres negras também têm maior risco de ter um pré-natal inadequado, realizando menos consultas do que o indicado, são impedidas mais vezes te ter um acompanhante na hora do parto (o que é um direito garantido pela Lei nº 11.108) e peregrinam mais em busca de atendimento em hospitais e maternidades.
“Uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência no momento do parto, este número muito provavelmente está subnotificado, porque muitas ainda não identificam e associam que a proibição de alimentação, água, alguns procedimentos evasivos como episiotomia, são vistas como normais, mas na verdade, são violências. E no pós-parto imediato ainda tem as violências neonatais como separação precoce de mãe e bebê, procedimentos não necessários na criança, prejudicando o estabelecimento do vínculo e da amamentação. Tudo isso contribui para que uma mulher que já está em um quadro de vulnerabilidade, venha desenvolver transtorno de estresse pós-traumático, depressão pós-parto”, alerta a educadora parental Melina Caldani.
A profissional salienta a necessidade de um olhar que considere todas as diversidades, desnaturalizando as múltiplas desigualdades que perpassam a vida das mulheres. “Se ela for negra, as questões de violência de parto, pós-parto ou ao filho desta mulher estão aumentados. A mulher que mais sofre violência no parto, que mais tem negado acesso a anestesia, por exemplo, é a mulher negra. Além de toda estrutura racista, tem o mito de que ela seja mais resistente a dor, sendo totalmente desumanizada”, acrescenta.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.