Três mortes, cinco prisões e reforço de policiamento marcam retorno às aulas no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, nesta segunda-feira (26)
Após uma semana de paralisação, em decorrência do ataque a tiros cometido por um ex-aluno no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, as aulas na escola retornam hoje, segunda-feira (26) com novo protocolo de segurança. Para a volta das atividades, há reforço de segurança na frente do Colégio, com a presença de policiais militares. Seguranças terceirizados também foram contratados pela Instituição.
Em entrevista ao Portal G1, o diretor Paulo Dante, disse que as equipes ficarão na parte externa monitorando a entrada dos alunos. Ainda de acordo com ele, nos primeiros dias de retorno, não haverá atendimento presencial ao público externo – todas as demandas serão concentradas em atendimento telefônico e por e-mail.
O prefeito da cidade, Conrado Scheller (Democratas) entregou cartilha aos diretores com recomendações que devem ser seguidas no decorrer do ano letivo. Entre as instruções, é indicado que as equipes escolares orientem os pais a monitorar as atividades que seus os filhos executam no ambiente virtual, ou seja, quais sites eles visitam, com quem conversam, entre outras informações.
Márcio André Ribeiro, presidente da APP-Londrina, conta que na última sexta-feira (23), a deputada federal, Carol Dartora (PT), membra da Frente Parlamentar Mista de Educação e da Comissão de Segurança Pública da Câmara de Deputados, visitou o Colégio. A parlamentar foi acompanhada pela secretaria de Funcionários de Escola da APP-Sindicato, Elisabete de Almeida. O encontro teve o objetivo de prestar solidariedade à comunidade escolar e coletar informações para compor um protocolo nacional de segurança nas escolas.
“Toda equipe de professores e funcionários começou a ser recebida de forma muito gradativa com apoio de psicólogos que estão fazendo o acolhimento destas pessoas. Está sim sendo feito um trabalho junto a comunidade escolar, pais dos alunos, e nada será forçado neste primeiro momento. Nós da APP-Sindicato nos comprometemos em acompanhar a situação de perto, cobrar da SEED [Secretaria Estadual de Educação] que seja dado suporte profissional a toda comunidade escolar”, pontua.
Relembre o caso
Na última segunda-feira (19), um homem de 21 anos, invadiu a escola e fez duas vítimas: Karoline Verri Alves, de 17 anos, e Luan Augusto da Silva, 16 anos. A menina morreu na hora, já o garoto, baleado na cabeça, chegou a ser socorrido e levado para o Hospital Universitário (HU) de Londrina em estado gravíssimo, mas não resistiu e faleceu na madrugada de terça-feira (20). Segundo relatos de familiares, os jovens eram namorados.
Atirador também é encontrado morto
Também na terça-feira (20), o atirador foi encontrado morto em sua cela na Casa de Custódia de Londrina. O autor dos disparos compartilhava o espaço com outro homem, suspeito de ter auxiliado a planejar o atentado.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública não detalha as circunstâncias da morte. O órgão acrescenta que o Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná (DEPPEN) abriu sindicância para investigar o caso, que também é apurado pela Delegacia de Homicídios de Londrina.
Segundo Maurício Nakao, diretor-adjunto do Instituto Médico Legal (IML) de Londrina, o boletim de ocorrência indica que foi encontrado um artefato similar a uma corda na cela, contudo, a tese de que o atirador teria morrido enforcado, ainda está sendo averiguada. “Por questão de cautela e prudência nós não emitiremos qualquer parecer antes da conclusão do trabalho do perito”, afirma.
Crime premeditado desde 2020
Em depoimento à Polícia, o atirador declarou que não conhecia as vítimas e que o objetivo era matar o maior número de pessoas na escola e depois tirar a própria vida. Estudante da escola até 2014, indicou, ainda, que teria sofrido bullying à época e estaria arquitetando a vingança desde 2020.
Também confessou que guardou dinheiro, cerca de R$ 4.500 para viabilizar a compra da arma. O revólver de calibre 38 foi adquirido em Rolândia. O secretário de Segurança, Hudson Teixeira, indicou que um caderno foi apreendido durante buscas realizadas na casa do responsável pelo atentado, mas não informou o teor das anotações.
Novas prisões
Até o momento, cinco pessoas foram presas. Além do atirador capturado em flagrante, ainda na noite de segunda-feira, horas após o crime, a Polícia Civil prendeu, em Rolândia, o segundo suspeito do duplo assassinato, um homem de 21 anos.
De acordo com a polícia, ele foi preso por “ajudar a organizar o episódio” que terminou nas mortes de Karoline e Luan. Já na quarta-feira (21), as polícias do Paraná e Pernambuco prenderam o terceiro suspeito. A apreensão do homem de 18 anos ocorreu no município de Gravatá, localizado a 83 KM de Recife, após constatações de que ele mantinha conversas com o atirador via redes sociais. Uma das linhas de investigação é que o ataque foi coordenado de maneira virtual.
Na sexta-feira (23), um homem de 35 anos suspeito de envolvimento na morte dos dois adolescentes também foi preso em Rolândia. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná, informou que, neste momento, não dará mais detalhes da prisão.
Um adolescente de 13 anos também foi apreendido e liberado em seguida, suspeito de ajudar na organização do crime.
Homenagem na ALEP
Nesta segunda-feira (26), o prestador de serviços Joel de Oliveira, de 62 anos, será homenageado na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP). O trabalhador receberá menção honrosa por ter contido o atirador até a chegada das forças de segurança, evitando, assim, um maior número de vítimas.
Joel relatou ter ouvido barulhos de tiros assim que chegou na clínica de fisioterapia onde trabalha, perto da escola, e saiu para prestar socorro. De acordo com o governador Ratinho Júnior (PSD), quem teria conseguido imobilizar o ex-aluno foi um professor da escola, graças a um treinamento voltado para profissionais da rede estadual nos últimos meses, mas a informação foi desmentida por reportagem do jornal O Globo.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.