Após denúncias de assédio, abuso de menor, humilhações e estupro, Gabriel Monteiro é cassado no Rio de Janeiro por 48 votos a favor e dois contra – um deles sendo do próprio Monteiro. Vereador que votou contra é amigo de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz e do presidente Jair Bolsonaro
A Câmara Municipal do Rio de Janeiro determinou a cassação, nesta quinta-feira (18), do mandato do vereador Gabriel Monteiro (PL, partido do presidente Jair Bolsonaro) por quebra de decoro parlamentar. Foram 48 votos pela cassação e apenas dois contrários, sem nenhuma abstenção.
Para aprovação, eram necessários dois terços dos votos, ou 34 de um total de 50, já que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) está de licença para ajudar o pai na campanha eleitoral. Com 28 anos, nascido em Niterói, Gabriel Monteiro é youtuber e ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL). Também foi soldado da PM.
Além do próprio Gabriel, o outro voto contra a cassação foi de Chagas Bola (UB) — sargento da Polícia Militar, casado, pai de três filhos e, segundo ele, cristão.
Chagas Bola foi eleito o primeiro suplente do PSL na última eleição e assumiu em abril o lugar do ex-vereador Rogério Amorim (PSL-RJ). É amigo do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz (PTB-RJ), ambos suspeitos de envolvimento em um esquema de “rachadinhas” na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro).
Após denúncias de assédio, abuso de menor, humilhações e estupro, Gabriel Monteiro é cassado no Rio de Janeiro por 48 votos a favor e dois contra – um deles sendo do próprio Monteiro. Vereador que votou contra é amigo de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz e do presidente Jair Bolsonaro
Desde 2016, o sargento da PM vem tentando vingar na política. Na primeira tentativa, como candidato a vereador pelo PSC, conseguiu somente 3.537 votos e não foi eleito. Em 2018, ao tentar uma vaga de deputado federal pelo PSL, foram 28.135 votos, o que lhe garantiu a segunda suplência do partido.
Nas campanhas, o PM sempre contou com o apoio da família Bolsonaro. Em 2020, o próprio presidente gravou vídeos pedindo votos para o sargento. (Assista ao vídeo abaixo) Para as eleições deste ano, Chagas Bola já declarou o seu voto para o atual governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), e Bolsonaro para presidente.
Violações
Mesmo após a cassação, Gabriel Monteiro ainda pode ser candidato a deputado federal pelo PL. Isso porque a decisão da Câmara ocorreu depois de o bolsonarista ter registrado sua candidatura, dentro do prazo legal. O Tribunal Regional Eleitoral tem até 12 de setembro para analisar o caso.
“O conjunto probatório, testemunhal, é muito robusto e muito grave, é muito chocante“, afirmou na sessão o relator na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar, Chico Alencar (Psol). O relator ressaltou que o colega teve direito pleno de defesa, mas que a comissão aprovou o parecer por unanimidade. “Ficou absolutamente claro, não apenas para este relator, que as ofensas à ética, ao decoro parlamentar, o abuso contra crianças, a violência contra mulher, a agressão e ameaça a morador de rua, são conjunto mais que suficiente para que esse mandato seja interrompido pelo voto livre, corajoso, consciente, da maioria”.
Chico Alencar afirma no documento que os fatos narrados na denúncia, como violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), incluindo crimes sexuais, constituem motivo para a cassação de Gabriel Monteiro. Entre os crimes apontados, estão filmagem de vídeo de relação sexual com adolescente, exposição vexatória de criança em rede social, assédio moral e sexual contra assessores e perseguição a outros vereadores.
Fonte: Pragmatismo Político