Ocupação indígena estudantil Maloca completa um mês, metade do tempo sem luz
A ocupação indígena estudantil Maloca completou um mês, no dia 26 de junho, instalada no Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFPR.
Ao todo, 65 estudantes indígenas, em 20 cursos, demandam moradia estudantil, com valorização cultural. São de diferentes origens e etnias, estudando na instituição pública.
Porém, a administração da universidade, de acordo com as lideranças da ocupação, não tem oferecido saída para a pauta principal do movimento. Além disso, para piorar, a luz do espaço está cortada e o saneamento, precário. A estrutura do prédio apresenta vários problemas e a coordenação da ocupação já solicitou melhorias por meio de ofícios para a Superintendência de Inclusão, políticas afirmativas e diversidade da universidade (SIPAD). Grupo de Trabalho havia sido criado também junto à Reitoria da UFPR.
Nesta semana, houve reunião mediada pelo Ministério Público Federal e estadual, bem como do Caop de Direitos Humanos e Funai. A princípio, na avaliação das lideranças do movimento, o espaço não ofereceu saídas concretas.
No mês de junho, como se sabe, ocorreram diversas lutas de professores estaduais, servidores públicos e professores federais, áreas de ocupação urbanas, entre outras lutas. Porém, apenas a situação da ocupação Maloca não apresenta até agora solução, passado tanto tempo. Os estudantes seguem fazendo reuniões, atividades e cursos na ocupação, e afirmam que devem continuar no espaço: “Vamos ficar enquanto não houver solução”.
A pauta principal é a moradia indígena, que valorize um espaço cultural e também garanta, com isso, a permanência, contra a alta evasão do segmento na universidade. Gislaine Vieira, estudante kaingang, que cursa Nutrição, presidenta do Coletivo dos Acadêmicos Indígenas, aponta que o prédio do DCE seria ideal para uma instalação neste sentido. De acordo com ela, “O que está acontecendo é um abandono e uma violência. Queremos o espaço por conta da proximidade do Restaurante Universitário (RU), do centro da cidade. Nossa ideia é no mínimo que haja um memorial”, afirma.
Gislaine explica que, para o movimento, o espaço unificado é central, pela convivência, contato cultural, e pelo fato de que muitos estudantes vindos de outros estados chegam a ficar longe de casa por um ou dois anos. “Queremos estar juntos, em um espaço de troca intercultural. Nossa cultura, ao contrário dos não-índios, é de ver a todos como família, é a cultura do convívio”, explica.
Há mais 16 dias, a ocupação está completamente sem luz. A Reitoria, da sua parte, justifica que essa edificação, inaugurada em 1958, não foi projetada para fins residenciais e não atende às condições de infraestrutura para habitação.
Interditado em 2015 pelo Corpo de Bombeiros, em tese o prédio teria sido reinaugurado pelo reitor Ricardo Marcelo, três anos depois. Como se vê, a estrutura, porém, seguiu precária. Embora na ocasião a UFPR tenha afirmado que “O edifício, de cinco andares, foi totalmente modernizado no quesito segurança”, afirmou matéria da universidade, em 2018.
Para Gislaine, ao lado do tema da água, luz e saneamento, o problema da segurança da ocupação é gritante. Isso porque os ocupantes não têm acesso ao portão de entrada. “Chegamos a passar a noite sem segurança. Já fizemos ofício pedindo chave do cadeado, já que não temos a chave do espaço”, afirma.
Outro lado: Universidade oferece um andar do prédio para espaço cultural
A reportagem do BDF Paraná enviou, no dia de ontem (26), as seguintes questões para a assessoria de comunicação da UFPR. O espaço está aberto a respostas. Edit. Enviadas às 10h20 de hoje (27), publicamos as respostas da reitoria da UFPR abaixo:
1. Com um mês de ocupação e 14 dias sem luz, estudantes afirmam que reitoria não avança no que seria central na negociação, que seria destinar o próprio espaço do DCE no mínimo para um espaço cultural. Como a UFPR vê esta questão?
A UFPR já havia proposto que um andar deste prédio, geralmente utilizado para atividades da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), fosse transformado em um espaço cultural indígena.
2. Foi relatado que houve reunião recente com participação do Ministério Público. Há chance de com isso haver avanços nas negociações com a entrada desse órgão na mediação?
Aconteceu uma reunião com o Ministério Público e os estudantes indígenas continuam solicitando que o prédio seja destinado para moradia. No entanto, foi salientado que o edifício, construído em 1958 e tombado pelo patrimônio público, não foi planejado para ser um ambiente de moradia e não possui condições para essa finalidade. A UFPR ofereceu novamente um andar para a criação de um espaço cultural no próprio prédio e convidou os estudantes para colaborar na criação de uma política de permanência a ser encaminhada aos Conselhos Superiores da UFPR e aprovada por resolução. Além disso, foi oferecido um aumento no auxílio financeiro, mas a proposta não foi aceita pelos estudantes.
3. A UFPR tem alguma outra proposta para o espaço do DCE da UFPR e para aquele prédio?
A proposta da UFPR é manter o uso do prédio destinado para atividades do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), além de reservar um andar para a criação de um espaço cultural indígena.
4. Em vista da própria referência que o atual reitor tem em matéria de direitos humanos, a imagem da Universidade não fica abalada em vista dos estudantes indígenas não conseguirem avançar nas suas reivindicações?
Essa questão não teve resposta.
Fonte: Brasil de Fato