Entre 2021 e 2023 foram mais de 15 mil mortes violentas de crianças e adolescentes no País
Nos últimos três anos, mais de 15 mil crianças e adolescentes com até 19 anos de idade foram mortos no Brasil de forma violenta. Só no Paraná, foram mais de 600 jovens vitimados pela violência. É o que revela a segunda edição do relatório Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil, divulgado ontem pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Conforme o levantamento, foram registradas 4.803 mortes violentas intencionais de crianças e adolescentes no país em 2021, 5.354 em 2022 e 4.944 em 2023. Com isso, totalizam-se 15.101 ocorrências.
No Paraná, por outro lado, houve 643 mortes causadas por violência de crianças e adolescentes no período. Foram 190 registros em 2021, 267 em 2022 e 186 em 2023.
“É um cenário estarrecedor. É realmente um absurdo que a gente perca 15 mil vidas de crianças e adolescentes em três anos”, define a oficial de Proteção contra Violências do Unicef, Ana Carolina Fonseca, em publicação na Agência Brasil.
O levantamento traz dados de registros criminais por violência como homicídio doloso (quando há intenção de matar), feminicídio, latrocínio (roubo seguido de morte), lesão corporal seguida de morte e mortes decorrente de intervenção policial – esteja ou não o agente em serviço.
Violência: 23 vítimas tinham entre 0 e 9 anos de idade no Paraná
No caso paranaense, 23 das vítimas de mortes violentas intencionais registradas entre 2021 e 2023 eram crianças que tinham entre 0 e 9 anos de idade. Os outros 620 jovens mortos, por outro lado, tinham entre 10 e 19 anos, sendo que 116 dessas mortes foram decorrentes de intervenção policial.
Fator cor na violência
De acordo com o levantamento, a taxa de mortes violentas para cada grupo de 100 mil negros até 19 anos é de 18,2, enquanto entre brancos a taxa é de 4,1. Isso equivale dizer que o risco de um adolescente negro, do sexo masculino, ser assassinado no Brasil é 4,4 vezes superior ao de um adolescente branco.
A oficial de Proteção contra Violências do Unicef aponta o racismo como “ponto importante” por trás desses dados. “A gente está falando de uma população que é não é protegida como a branca. Existe uma ideia de que essa vida vale menos que outras”, critica Ana Carolina.
O relatório indica que, entre os jovens com mais de 15 anos, as mortes totais no país são atreladas a características que sugerem envolvimento com violência armada urbana.
Em outro recorte, de crianças até 9 anos, o perfil da violência letal é mais associado a contexto de maus-tratos e de violência doméstica.
Importância do estudo
Os analistas do Unicef e do FNSP fazem recomendações de políticas de segurança que podem ajudar o país a combater a violência contra a criança e o adolescente. Entre as orientações estão o controle do uso da força pelas polícias, controle do uso de armamento bélico por civis, enfrentamento do racismo estrutural e melhoria nos sistemas de monitoramento e registros de casos de violência.
“A importância de estudos como esse é conseguir entender a dinâmica da violência contra cada grupo e entender que cada vida importa. A gente precisa ser capaz de construir uma resposta efetiva que enxergue cada menino e cada menina”, avalia a representante do Unicef.
Para os pesquisadores, esse conjunto de dados é um indicador mais completo para tratar de violência letal a partir dos parâmetros da segurança pública.
Fonte: Bem Paraná