Nesta semana, a Volkswagen enfrentou uma forte resistência de seus trabalhadores ao anunciar o plano de fechar algumas de suas fábricas na Alemanha. Cerca de 25 mil trabalhadores reunidos na sede da montadora em Wolfsburg protestaram veementemente, gritando “Nós somos a Volkswagen — vocês não são”, em repúdio à decisão.
Desafios sob a Liderança de Oliver Blume
Desde que Oliver Blume assumiu a liderança da Volkswagen há dois anos, a maior montadora da Europa tem enfrentado uma série de dificuldades. A demanda interna por veículos elétricos caiu drasticamente, enquanto a concorrência no mercado chinês, principalmente de outras montadoras alemãs, se intensificou.
Blume tomou uma decisão histórica e polêmica ao quebrar uma promessa feita há três décadas sobre a segurança no emprego, propondo o fechamento de fábricas pela primeira vez nos 87 anos de história da montadora. Essa medida, embora vista como necessária pela diretoria, foi recebida com grande insatisfação pelos funcionários.
Sindicato busca negociar e se mobiliza
O programa de austeridade na Volkswagen está se intensificando cada vez mais e levando a um conflito aberto entre a diretoria da VW, o conselho geral dos trabalhadores e o sindicato IG Metall.
A diretoria, liderada pelo chefe de marca Thomas Schäfer, anunciou na segunda-feira, em uma reunião com executivos, que o programa iniciado em 2023 para melhorar os resultados continua insuficiente. Serão necessárias economias adicionais na casa dos bilhões para evitar que a marca principal entre na zona de prejuízo, afirmou a gestão.
O conselho de trabalhadores da Volkswagen, que tem metade dos assentos no conselho de supervisão, tem um aliado importante: o estado da Baixa Saxônia, que detém 20% dos direitos de voto e prioriza a manutenção de empregos. Em 2022, a montadora anunciou que reduziria custos em US$ 11,09 bilhões até 2026, por meio de programas de aposentadoria antecipada e demissões voluntárias, mas até o momento não conseguiu atingir essa meta.
Como resultado, agora estão sendo questionados os locais de produção na Alemanha, o acordo salarial interno da VW e a garantia de emprego vigente até o final de 2029. Este último acordo, mantido por mais de 30 anos, está nos planos da empresa para ser rescindido.
Horsten Gröger, representante distrital da IG Metall e negociador do acordo coletivo da empresa VW, criticou duramente: “Hoje o conselho apresentou um plano irresponsável que abala os alicerces da Volkswagen e ameaça massivamente empregos e locais. Este caminho não é apenas míope, mas extremamente perigoso – corre o risco de destruir o coração da Volkswagen.
Tal atitude seria inaceitável e encontrará resistência determinada. Lutaremos com todas as nossas forças, se necessário em conflitos graves, para preservar todos os locais e os empregos dos nossos colegas! Não toleraremos planos que a empresa faça às custas da força de trabalho e que destruam massivamente as regiões do nosso país,” afirmou o dirigente sindical.
Transição Difícil para Veículos Elétricos
A Volkswagen, indústria automotiva alemã, tem enfrentado grandes obstáculos durante a transição para os veículos elétricos. A Volkswagen, assim como outras empresas do setor, tem investido pesadamente na produção de baterias, mas enfrenta custos crescentes e uma demanda menor do que o esperado.
Fabricantes como Bosch, Continental e ZF Friedrichshafen, alguns dos maiores fornecedores do mundo, também têm adotado medidas drásticas, como cortes de empregos em larga escala, em resposta à queda nas margens de lucro. A Volkswagen, por sua vez, não conseguiu reduzir significativamente sua força de trabalho, comprometendo seu fluxo de caixa.
Desafios no Mercado Global
A Volkswagen, que já foi a maior montadora do mundo, agora tem um valor de mercado equivalente a pouco mais da metade da chinesa BYD. Segundo analistas do setor, o fechamento de fábricas na Alemanha seria uma “revolução” para a montadora.
Ferdinand Dudenhöffer, da Universidade de Duisburg-Essen, afirmou que a montadora enfrenta problemas com altos custos, ineficiências e rígidas regulamentações governamentais. “A Volkswagen está em uma situação em que parece não poder mudar nada, quase como uma empresa estatal”, afirmou o especialista.
Concorrência e o Mercado Chinês
As dificuldades da Volkswagen não são exclusivas. Montadoras rivais, como a Renault e a Stellantis, também enfrentam queda na demanda e desafios relacionados à rápida transformação da indústria automotiva. O CEO da Renault, Luca de Meo, classificou o setor como “radicalmente volátil e imprevisível”, destacando a necessidade de maior cooperação entre as montadoras europeias.
Além disso, a Volkswagen tem perdido participação de mercado na China, sua região mais lucrativa. As marcas chinesas de veículos elétricos, como a BYD, estão expandindo sua presença na Europa, representando mais um desafio para a montadora alemã.
A Volkswagen, portanto, enfrenta um cenário incerto, com decisões difíceis pela frente e resistência interna crescente. O futuro da indústria automobilística na Europa e o papel da montadora nesse contexto permanecem em aberto.
Fonte: Rádio Peão Brasil