Leio, em toda mídia que acesso, detalhes de um relatório da polícia federal onde está apontado que sérgio moro, enquanto juiz federal da 13ª vara federal de Curitiba, entre 2005 e 2007, mandou interceptar o telefone do então presidente do Tribunal de Contas do Paraná, Heinz Georg Herwig. Evidentemente o ex-juiz e atual senador da república pelo Paraná jamais deteve competência para determinar tal medida – mas isso sempre foi um detalhe de somenos importância na vida pública (despida de ética e freio moral) de moro.
Chamado a falar sobre o fato o senador moro fez o que faz melhor: tentou negar as evidências mais que robustas. Quando viu que apenas os terraplanistas acreditam que a terra não é redonda, passou a atacar o governo Lula, se dizendo ‘vítima de perseguição’. Seria cômico não fosse trágico, na medida em que a partir da entrega de uma jurisdição de interesse, onde prostituiu o devido processo, moro não só prejudicou muitas e tantas pessoas (físicas e jurídicas) como pariu, em cópula com a imprensa familiar brasileira (frias + civita + mesquita + marinho), a cadela fascista.
Tarda, pois, o encontro de moro com sua história, naquilo que a tutela das liberdades não pode passar pano a um ribaldo que fez uso da toga para alcançar um projeto de poder pessoal, à custa da liberdade e do patrimônio de vários e diversos cidadãos. Suas viúvas não podem seguir acreditando na ficção absurda que obnubila os sentidos, de que ele enfrentou a corrupção e hoje paga a conta da própria bravura, na medida em que moro não é senão um ex-juiz corrupto – naquilo que corrompeu o devido processo.
Nessa medida a prova produzida no relatório da polícia federal (interceptação ilícita do telefone do então presidente do Tribunal de Contas do Paraná, Heinz Georg Herwig) segue o caminho aberto pelo empresário Toni Garcia, que afirmou à pleno pulmão ter sido usado e abusado por moro, em um piloto ilegal do que viria a ser a operação lava jato. Toni Garcia sustenta sua narrativa com racionalidade e a instrui com vários documentos comprobatórios.
O recente relatório da polícia federal comprova o viés de sua fala ao tempo em que levanta severa objurgação ao contraponto do ex-juiz, que não vai nunca além da nota única que reverbera – moro se vende enquanto vítima eterna de uma suposta retaliação de Lula. Insisto: seria cômico, não fosse trágico, naquilo que o sicofanta de Maringá está senador da república por conta única e exclusivamente de sua fake news eterna, onde ele (moro) cria a personagem que é cotidianamente desmentida por seus próprios atos.
Na medida em que o cenário político do Paraná de nossos dias a cada novo aventureiro que se levanta, mais e mais me entristece, fico a imaginar o papel de moro no mundo fantástico de Tim Burton, o extraordinário cineasta. Em o Estranho mundo de Jack, por exemplo, moro seria qual personagem? A película (maravilhosa) desenha a história de Jack Skellington, um morador da cidade de Halloween que se cansa da própria jornada – abastecer a cidade com suas abóboras para o dia das bruxas.
Assim entediado, em determinado momento Jack se afasta dos limites da cidade, atravessando com sua angústia o portal do Natal, onde conhece o espírito natalino e essa alegria o contagia. A felicidade não era um sentimento conhecido por Jack. Assim ele retorna à Halloween sem compreender o sentimento que experimentara e, na medida em que sua angústia existencial tornava a lhe lembrar quem ele era, Jack inicia o convencimento dos demais moradores para sequestrarem o papai Noel, em ordem a fazerem o seu próprio natal.
Noves fora a genialidade de Tim Burton, para mim moro sempre será o prefeito de Halloween, naquilo que o cartoon revela uma tentativa de líder entusiasmado que possui duas faces (alegria e tristeza) que se alteram a depender de seu humor. O prefeito jamais será o protagonista em Halloween, ainda que acredite sê-lo e faça de sua crença objeto de sua vivência. Entrementes, o que caracteriza o alcaide de Halloween é o fato de oscilar a personalidade conforme seu humor.
Trata-se, portanto, de uma personagem secundária ou terciária, cujo escopo é permitir uma crítica ao universo dos políticos, que Tim Burton retrata enquanto ambíguo e desprezível – e isso defini sérgio moro. Halloween à parte, o que preocupa é a insistência de moro em vender o personagem moro, ainda que o caractere desnude o mais irrelevante personagem político que ascendeu ao senado federal.
Outro tanto, o fruto amargo da maldade não pode ser relativizado, naquilo que o abjeto ex-juiz jamais se mostrou sequer arrependido de sua malvadeza institucional, uma vez que sua lascívia de extrema direita é a mãe que gestou o ovo da serpente. Seria altura de dizer: basta de justiceiros de toga que estes jamais libertam.
Para além disso, a fala de uma nota só de moro (perseguição políticas de Lula) é pouco ou nada inteligente (e isso não surpreende), uma vez que segue o mesmo roteiro fracassado de sua atuação conjunta aos procuradores revelados na operação spoofing, sobre a qual moro se limitou a dizer que seu telefone fora invadido e, portanto, não poderia atestar a veracidade das conversas via aplicativo (ele jamais negou, com ou sem veemência, as tais conversas).
Agora, ele diz que é perseguido político e que o crime de que lhe acusam estaria prescrito. Mas não nega o fato de ter ordenado a escuta ilícita em desfavor do presidente do Tribunal de Contas do Paraná – até porque o relatório da PF é exauriente e junta a decisão do próprio moro onde ele ordena o grampo ilícito. Pena de você, moro. Quase me emociono – só que não…
Deveras, enquanto Advogado eu sempre soube o que você fez ao longo de sua atividade judicante, onde o ideário que a Toga lhe acenava tornava em uso privado da jurisdição (que é pública em sua essência), parindo um arremedo que corrompia o conceito de justiça, ao tempo em que inaugurava (por aqui) a era do medo e das sombras. Passou que a luz se fez e você não tem tamanho para enfrentar a verdade.
Digo mais, parafraseando Tobias Barreto: você é a rameira que não tem coragem de acender a luz vermelha durante o dia e, à noite, se vale da escuridão para entrar na própria casa. Precisamos conhecer a história para não sermos usados pelos encantadores de gado que, ao som do berrante, seguem arregimentando os que desconhecem, justamente porque o conhecimento liberta enquanto a ignorância oprime!
Moro não é senão vítima da própria opção egoística e criminosa de, enquanto juiz, colocar-se acima da lei, para alcançar um projeto pessoal. Tristes trópicos onde cafajestes lutam para estabelecer a própria narrativa acima dos fatos.
João dos Santos Gomes Filho para o Canto do Locco
João Locco
João dos Santos Gomes Filho, mais conhecido pelo apelido João Locco. Advogado, corintiano, com interesse extraordinário em conhecer mais a alma e menos a calma.