Índice de 5,79, anunciado por Ratinho Júnior, desagradou o funcionalismo público que enfrenta defasagem de 42%
Nesta terça-feira (4), técnicos-administrativos da Universidade Estadual de Londrina (UEL) realizaram assembleia para avaliar proposta de reajuste salarial anunciada por Ratinho Júnior (PSD) na última sexta-feira (31). Além do pagamento, alterações no plano de carreira também integraram a pauta. O primeiro encontro ocorreu de manhã, no Anfiteatro Maior do Centro de Letras e Ciências Humanas (CLCH). À tarde, os trabalhadores se reuniram no Hospital Universitário (HU).
Sem diálogo com o funcionalismo público, o governador comunicou reposição de 5,79% a cerca de 271 mil servidores ativos e inativos no estado. A porcentagem considera a inflação acumulada nos últimos 12 meses. O índice causou indignação da categoria que está sem reposição desde 2016. Em maio, período de vencimento da data-base, a dívida do Palácio do Iguaçu com os servidores atinge 42%.
Marcelo Seabra, presidente do Sindicato dos Técnicos-Administrativos da UEL (ASSUEL) conta que a taxa gerou grande insatisfação, pois é sete vezes inferior à reposição que os trabalhadores têm direito. Além disso, o valor foi estabelecido de modo autoritário pelo mandatário que, a despeito de promessas de campanha, não estabeleceu nenhuma mesa de negociação com as lideranças sindicais.
“Não agradou a categoria, nós estamos já há quase sete anos sem reposição salarial, as perdas já alcançam 42% e o governo, neste momento, apresentar uma proposta que repõe a inflação do ano passado, de 5,79% não é suficiente. Nós esperávamos uma política salarial na qual ao longo dos próximos quatro anos, pudéssemos ir recuperando o poder de compra do trabalhador”, avalia.
Como informado pelo Portal Verdade, em fevereiro, representantes das mais de 20 associações que compõem o Fórum das Entidades Sindicais (FES) entregaram ao Palácio do Iguaçu, documento com as solicitações dos servidores estaduais. Além das perdas salariais, os trabalhadores cobram mudanças na contribuição de aposentados e pensionistas ao ParanáPrevidência, aumentando a isenção para seis salários-mínimos. Também reivindicam realização de concursos públicos, revogação da Lei Geral das Universidades (LGU) e melhorias no Sistema de Assistência à Saúde (SAS), canal disponibilizado pelo governo do Paraná aos servidores estaduais para assistência médica (relembre aqui).
O documento foi encaminhado ao líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), deputado Hussein Bakri (PSD). Juntamente às demandas, a equipe econômica do coletivo encaminhou levantamento no qual demonstra que há dinheiro em caixa para atender as solicitações da categoria. Contudo, até o momento, não houve nenhuma resposta por parte da gestão de Ratinho Júnior.
Seabra explica também que mudanças no plano de carreira dos técnico-administrativos estão sendo debatidos junto a Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI). Porém, ele evidencia que possíveis modificações não dispensam a necessidade de que a diferença salarial acumulada seja acrescentada no contracheque dos servidores.
“Foi constituído um novo grupo de trabalho que entregou uma proposta ao secretário, Aldo Bona, ele deverá entregar para o governo e a partir disso, vamos acompanhar qual será o desenrolar. Se o plano for implementado vai atenuar um pouco estas perdas que os trabalhos têm tido, mas não substitui a reposição salarial. Planos de carreira e salários é para melhorar a situação do trabalhador, para que tenha perspectivas, inclusive, de se qualificar e não pode ser confundido com reajuste salarial”, assinala.
Greve não é descartada
Seabra também pondera que, caso o percentual não seja revisto, a tendência é que o funcionalismo público do Paraná inicie greve a partir de maio. “A insatisfação é grande, há a possibilidade de que não sendo alterada a proposta do governo, a gente entre em greve. Vamos nos reunir com o Fórum das Entidades Sindicais para estabelecer os próximos passos da mobilização, muito provavelmente faremos algum ato em Curitiba”, indica.
A suspensão das atividades também é o caminho sugerido pela servidora Rosângela Peruzzi com a finalidade de que a categoria receba atenção do governador e apresente uma nova proposta que seja “mais respeitosa”. Ela ressalta que o reajuste insuficiente é uma das facetas da negligência do chefe do poder Executivo estadual com os servidores. Com a falta de concursos públicos e quadros reduzidos, funcionários de muitos setores têm suas condições de trabalho cada vez mais precarizadas, a exemplo de jornadas que extrapolam a carga horária contratada a fim de que atendam todas as demandas.
“Mais uma vez, o governo não valoriza os funcionários que tem. Nos dedicamos demais à Universidade e novamente estamos sendo desvalorizados por um governo que nunca olha para os trabalhadores. É um índice irrisório, não contempla a categoria, estamos decepcionados com o governo, e acho que no futuro a única forma de tentarmos uma reposição um pouco mais digna seria uma greve”, afirma.
Há mais de 20 anos prestando serviços à Universidade, Rogério Martins, relata que tem encontrado dificuldade para fechar as contas. O servidor, lotado na Fazenda Escola, laboratório para estudantes dos cursos de Agronomia, Veterinária e Zootecnia, destaca o salário não tem acompanhado o custo de vida cada vez mais alto. Em média, os trabalhadores têm perdido cinco salários ao ano.
“Me sinto injustiçado. Ele [Ratinho Júnior] vem empurrando com a barriga faz tempo, coloca a proposta que ele quer, diz que não tem dinheiro em caixa, mas sabemos que tem, pois pagamos impostos todos os dias. Acho um absurdo para nós funcionários a forma como estamos sendo tratados. Mercado, combustível sobe, só nosso salário que não”, desabafa.
Docentes aprovam paralisação
Na tarde desta quarta-feira (5), foi a vez dos docentes da UEL realizarem assembleia para discutir a proposta de reajuste comunicada por Ratinho Júnior. Os professores aprovaram, por unanimidade, paralisação para o próximo dia 11 de abril. Também foi agendada nova assembleia na terça-feira, dia da suspensão das atividades, a fim de votar um indicativo de greve para a primeira semana de maio.
No dia 11 de abril, também serão realizadas panfletagens, às 7h e 13h, nas entradas do campus da UEL e HU. A mobilização está sendo organizada pelo Sindiprol/Aduel – seção sindical do ANDES-SN, que representa docentes da UEL e da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP).
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.