Proposta visa contribuir para recuperação da autoestima e reinserção social
“Contribuir para reintegração social através do cuidado com a saúde bucal” este é o objetivo do projeto de extensão “Um novo sorriso”, desenvolvido pelo professor Ricardo Sérgio Couto de Almeida do Departamento de Microbiologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). A medida oferta assistência odontológica a mulheres em situação de vulnerabilidade social e dependentes químicas.
O docente, que também é responsável pela coluna “Escovação” na Rádio UEL FM, explica que o gatilho para desenvolvimento de trabalhos voluntários surgiu após um pedido de ajuda da cunhada para uma mulher, a espera de atendimento na Santa Casa de Londrina. A paciente necessitava de tratamento bucal, mas não tinha condições financeiras de pagar pelo serviço. Atualmente, ele também desenvolve o projeto “Acamados UEL”, que presta serviços de higiene bucal à instituição beneficente Acamados Mais Amados de Cambé, na região metropolitana de Londrina.
Segundo Almeida, o estabelecimento de parcerias tem sido fundamental para a realização do projeto. Ele pontua que conta com o apoio de empresas do ramo como AF do Brasil Produtos Odontológicos, Biodinâmica Química e Farmacêutica, FGM Dental Group e a multinacional Angelus Odontologia. A expectativa é que mais marcas também possa contribuir.
“A gente não faz nada sozinho, é unindo forças que a gente consegue. A iniciativa privada juntamente com a pública para atender estas pessoas tão carentes que precisam. E refazer um sorriso é algo mais importante do que a gente pensa por que se você não consegue sorrir, não consegue interagir, arrumar emprego, não consegue se relacionar, envolve todas as esferas humanas e sociais”, observa.
Ainda, de acordo com Almeida, inicialmente, as pacientes do “Um novo sorriso” têm sido selecionadas junto a programas desenvolvidos pela Primeira Igreja Presbiteriana Independente de Londrina como o “Água Pura”, destinado à recuperação de usuários de drogas. Mas o pesquisador ressalta que esta é apenas uma “fonte de captação” e, portanto, a perspectiva é ampliar o público do projeto. Atualmente, estão sendo atendidas seis mulheres por semana.
Ensino, pesquisa e extensão
O professor salienta que, além da contribuição social, o projeto coopera para o fortalecimento do tripé que sustenta as universidades: ensino, pesquisa e extensão, pois os estudantes da UEL poderão realizar procedimentos inovadores, não tão usuais nos estágios obrigatórios e disciplinas curriculares. Além disso, serão desenvolvidos estudos com as pacientes a fim de identificar melhorias na saúde bucal após a assistência.
“A gente vai captar estas mulheres de programas sociais e trazer para Universidade para os alunos atenderem. E os alunos vão realizar procedimentos que normalmente eles não têm na Universidade, vamos fazer endodontia, ou seja, canal mecanizado, que é uma técnica mais avançada que não veem na faculdade, a não ser em projetos, pino de fibra de vidro e restaurações estéticas. Vamos ter alunos aprendendo procedimentos de ponta, estas mulheres recebendo estes tratamentos para poderem sorrir de novo. Além disso, [incentivo] à pesquisa porque vou estudar a saliva destas mulheres para ver a mudança das bactérias antes e depois do tratamento”, completa.
A iniciativa foi selecionada em edital da Fundação Araucária, entidade voltada ao desenvolvimento científico e tecnológico no estado. Em 2022, a agência buscou por ações que priorizavam o empoderamento feminino no Paraná. O projeto tem a duração prevista de quatro anos. Saiba mais sobre as atividades realizadas na página do Instagram @novosorriso.uel, disponível aqui.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.