O Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira (25) a estratégia de vacinação nacional contra a dengue, principal doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e que mata centenas de pessoas todos os anos no país. A imunização, no entanto, não será para todos: nesse primeiro momento, a campanha de imunização irá focar em adolescentes que vivem em regiões onde a doença é endêmica.
Desde que foi anunciada a aprovação da vacina pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), questionamentos sobre a eficácia e segurança do imunizante passaram a circular nas redes. Aos Fatos explica, em quatro pontos, as principais dúvidas sobre a nova campanha:
Qual a situação da dengue no Brasil?
A dengue é uma virose causada pelo vírus DENV e transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Como o ciclo de reprodução do inseto necessita de água parada, é comum que o número de casos da doença aumentem nos meses mais chuvosos de cada região. A dengue costuma ser mais perigosa para idosos e pessoas com doenças crônicas, como diabetes, mas todas as faixas etárias estão suscetíveis à infecção.
Contrair e se curar da infecção garante imunidade vitalícia contra o sorotipo adquirido — existem quatro circulando no Brasil. É importante ressaltar, no entanto, que infecções subsequentes de outros sorotipos tendem a aumentar o risco de desenvolvimento de casos graves.
De acordo com os números da OMS (Organização Mundial da Saúde), foram confirmados 1,9 milhão de casos de dengue em todo o mundo em 2023 e 2.284 mortes pela infecção. A organização ressalta que a incidência da doença tem crescido rapidamente nas últimas décadas e atinge principalmente países com clima tropical.
A dengue é considerada, no Brasil, um sério problema de saúde pública: o país tem registrado um aumento significativo de casos prováveis na última década (veja gráfico abaixo). As unidades da federação com maior incidência da doença são Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Goiás, Santa Catarina e Paraná.
No ano passado, o Brasil bateu o recorde histórico de mortes causadas pela dengue: foram 1.094, número levemente superior ao maior registro anterior, 1.053 óbitos em 2022. Em 2024, já foram registrados 122 óbitos decorrentes da doença e 259 mil casos prováveis de dengue no país.
Quem pode tomar a vacina da dengue?
Há, no momento, duas vacinas aprovadas pela Anvisa para uso no Brasil:
Ambas as vacinas são indicadas para pessoas de 4 a 60 anos de idade e contraindicadas para gestantes, pessoas que estão amamentando e imunodeficientes.
A campanha do Ministério da Saúde usa a QDenga, incorporada ao SUS (Sistema Único de Saúde) em dezembro do ano passado. Como o imunizante é novo, a farmacêutica disponibilizou um número restrito de doses: a previsão do governo federal é que sejam entregues 5 milhões em 2024 e mais 9 milhões em 2025.
Por causa da limitação do número de doses e da falta de estudos que garantam a segurança e eficácia em maiores de 60 anos, a estratégia federal irá focar em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos que residam em cidades que registram grande número de casos. Essa é a parcela da população com maior número de hospitalizações depois dos idosos. O Ministério da Saúde divulgou nesta quinta-feira (25) a lista de municípios que receberão o imunizante.
O setor privado, no entanto, também está oferecendo doses da QDenga para quem quiser se vacinar contra a dengue. Nesses casos, podem se vacinar pessoas entre 4 e 60 anos. De acordo com levantamento da Folha de S.Paulo, as doses variam entre R$ 400 e R$ 500, sendo que o esquema vacinal completo compreende duas doses.
Como a Dengvaxia só pode ser administrada em pessoas que já tiveram a doença, ela não foi incorporada ao SUS e só pode ser adquirida em clínicas privadas. Segundo o CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), o preço da dose varia entre R$ 133 e R$ 264.
Em grupos antivacina, um dos argumentos contra o imunizante é o de que a letalidade da dengue não seria alta o suficiente para justificar uma campanha vacinal. De fato, a taxa no Brasil está, em média, 0,07%. Esse número, no entanto, não reflete particularidades como idade e reinfecções, que costumam agravar os quadros da doença.
Nancy Bellei, consultora do Ministério da Saúde e infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), explicou ao Aos Fatos que o primeiro objetivo de uma vacina é sempre reduzir o impacto na saúde pública: “A ideia é diminuir a hospitalização e, dentre os [pacientes] hospitalizados, diminuir a letalidade, a taxa de óbitos”.
Fonte: Aos Fatos