Após a ampliação do quadro vacinal, com a entrada de mais faixas etárias na vacinação contra a covid-19, as médias de mortes pela doença caíram vertiginosamente, apesar de a quantidade de casos ter aumentado de forma considerável, o que atesta a eficácia das vacinas. Esse é um dos resultados de um estudo, efetuado pela professora Mariana Urbano, do Departamento de Estatística da Universidade Estadual de Londrina (UEL) em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Londrina (SMS) e com outros pesquisadores da UEL, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Albert Einstein School of Medicine, dos Estados Unidos.
O estudo, pioneiro na área, faz um cruzamento entre os dados fornecidos pela Secretaria de Saúde de Londrina, que abastecem o projeto “BR Data – Brasil em Dados” desde 2020, sobre casos confirmados de covid-19, índices de mortalidade, entre outros indicadores. O artigo científico feito por Mariana e equipe saiu recentemente, em maio, no American Journal of Infection Control, e avaliou os dados referentes ao período de janeiro a outubro de 2021, quando a cobertura vacinal ainda não incluía a 3º dose para todos os adultos.
Os dados encontrados em 2021 atestam a necessidade da vacinação: 75% das mortes por covid-19 registradas em Londrina nos meses de janeiro a outubro de 2021 foram de pessoas não vacinadas: dos 1.687 óbitos provocados por covid-19, 1.269 foram de indivíduos não vacinados. Já entre as infecções, do total de 59.857 casos confirmados em dez meses, 48.217 foram de não imunizados, 7.207 em parcialmente imunizados e 4.429 em pacientes com esquema vacinal completo.
Os idosos não vacinados, um dos públicos mais vulneráveis à doença, morreram três vezes mais do que os imunizados. Entre os não vacinados e menores de 60 anos, o número de mortes foi 83 vezes maior. “Nossos achados reforçam que a vacinação é uma medida de saúde pública essencial para reduzir os índices de fatalidade por covid-19 em todas as faixas etárias”, afirma o artigo. O estudo também corrobora iniciativas globais que apontam que, a cada 10% de aumento de cobertura vacinal completa a toda a população, há uma redução de 7,6% nos índices de mortes pela doença.
Para ter acesso ao estudo na íntegra, em inglês, basta acessar o site do American Journal of Infection Control.
Terceira dose derrubou índice de mortalidade
A principal novidade em relação ao estudo, que trata de dados de 2021, é a cobertura vacinal da terceira dose à população maior de 18 anos, que foi ampliada a partir de janeiro deste ano. Segundo Mariana, essa ampliação reduziu comprovadamente a ocupação global de leitos em UTIs e enfermarias. “A média móvel mais elevada de casos ocorreu no mês de fevereiro deste ano: 1.079 casos. Porém, o pico de internações neste ano, em janeiro, foi com a ocupação de 26 leitos de UTI. No ano passado, a maior média móvel e também o pico de ocupação nas UTIs foram ambos em junho: 406 casos e uma média de 157 leitos ocupados”, explica. Ou seja, a média móvel mais do que dobrou, enquanto a ocupação de leitos caiu oito vezes.
Outros dados interessantes para comparação são os relacionados à cobertura vacinal total. Como era esperado pela comunidade médica e científica, a ampliação geral da vacinação reduz comprovadamente os níveis gerais de internações, complicações e mortes por covid-19. Em junho de 2021, 50,59% da população alvo (maior de 18 anos) haviam sido imunizados com a primeira dose, enquanto somente 19,26% tinham tomado a segunda.
Em janeiro, com a necessidade do retorno das aulas na rede básica e a ampliação da vacinação para crianças maiores de 5 anos e a manutenção do ritmo vacinal, a cobertura da primeira dose ampliou-se para 83,47% da população, com a segunda dose aplicada em 79,35% da população alvo. “O aumento da cobertura também contribuiu para a redução geral dos índices de complicações e mortes”, avaliou a pesquisadora.
Atualmente, segundo os dados coletados pelo projeto ‘BR Data’ com a Secretaria Municipal de Londrina, o pico de ocupação em leitos de UTI foi de 24 leitos, enquanto a média móvel de casos ficou em 326.
Equipe multidisciplinar
O grupo responsável pela produção do artigo é composto por Hisrael Passarelli-Araujo, Henrique Pott Junior, Aline Susuki, Andre Olak, Rodrigo Pescim, Maria Tomimatsu, Cilio Volce, Maria Neves, Fernanda Silva, Simone Narciso, Michael Aschner, Monica Paoliello, além de Mariana Urbano. Há profissionais de diversas áreas, como Estatística, Arquitetura, Medicina, Matemática e Geografia.
Futuramente, a equipe de pesquisadores do ‘BR Data’ deve elaborar um artigo similar, mas analisando a situação da cidade de Arapongas. “Temos, também, uma parceria com a Prefeitura de Arapongas e vamos utilizar os dados levantados por eles. Temos uma hipótese de que os resultados serão bastante parecidos”, analisou a professora.
Fonte: Portal Tem Londrina