Brasil investiga casos de transmissão vertical e de possível relação com microcefalia. Organização aconselha países a reforçarem a vigilância
A Organização Pan-Americana emitiu nesta quinta-feira (18/7) um alerta para os Estados Membros sobre a investigação no Brasil de casos de transmissão vertical (da gestante para o feto) de Febre Oropouche. No comunicado de sete páginas, a Opas aconselha que autoridades sanitárias dos países fiquem alertas para ocorrência de casos semelhantes.
Pede, ainda, que países com transmissão comprovada de Febre Oropouche intensifiquem a vigilância em gestantes e notifiquem a ocorrência de aborto espontâneo ou óbito fetal associado à infecção provocada pelo vírus causador da doença. A recomendação se estende também para aumento de malformações congênitas em recém-nascidos que não possam ser explicadas por uma causa conhecida.
Ao JOTA, a Opas informou estar acompanhando as investigações realizadas no país. Em nota, a organização defendeu a intensificação da vigilância, de forma a garantir a detecção rápida de casos e também para caracterizar eventuais casos de transmissão vertical. Até agora, não havia registros comprovados de casos de transmissão do vírus durante a gestação, apenas transmissão pela picada de insetos infectados.
A investigação de autoridades sanitárias, de acordo com a nota, é relevante também para identificar eventuais consequências da nova forma de transmissão. A Opas destacou ainda a necessidade de atualizar os profissionais de saúde sobre a detecção e o manejo adequado dos casos.
Ao JOTA, a Opas afirmou ainda ser essencial que as autoridades de saúde mantenham a população informada sobre os riscos e as medidas de prevenção e controle.
Como o JOTA informou, o Ministério da Saúde estuda a realização de uma campanha de esclarecimentos sobre o tema.
De acordo com a OPAS, todos os países e territórios da Região das Américas também foram informados sobre a investigação em curso no Brasil. A organização classifica os relatos do Brasil como suspeitos de transmissão vertical.
Dois casos suspeitos em Pernambuco
No alerta aos países, a Opas traz detalhes dos casos em investigação. O primeiro seria de uma gestante, moradora da cidade de Rio Formoso, em Pernambuco. No fim de maio, ela apresentou sintomas de arbovirose e testes positivos para dengue e chikungunya.
Adicionalmente, exames identificaram o vírus Oropouche (OROV) na placenta. Dias depois, foi constatado o óbito fetal. Amostras foram enviadas para o Instituto Evandro Chagas, que identificou a presença do vírus em órgãos do feto.
Dias depois, um segundo caso suspeito foi identificado na cidade de Jaqueira, também em Pernambuco. No início de junho uma gestante apresentou sintomas de arbovirose. Em 27 de junho, ocorreu aborto. A paciente teve resultado positivo para Febre Oropouche. Não foi possível realizar o teste no feto.
A Opas relatou ainda casos identificados no Instituto Evandro Chagas, com bebês com microcefalia. Foram quatro casos.
Mosquito
Informações reunidas mostram que nos últimos dez anos surtos do vírus Oropouche (OROV) ocorreram principalmente na região amazônica. Casos foram descritos em comunidades rurais e urbanas no Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Panamá, Peru e Trinidade e Tobago.
O OROV é transmitido ao ser humano principalmente por meio da picada de insetos como o Culicoides paraensis, popularmente conhecido como maruim, que está presente na Região das Américas, mas também pode ser transmitido pelo Culex quinquefasciatus.
Brasil reúne maior número de casos nas Américas
Até 16 de julho de 2024, 7.688 casos confirmados de Oropouche foram notificados em cinco países das Américas. O Brasil apresenta o maior número de casos: 6.976, seguido por Bolívia (313), Peru (287), Cuba (74) e Colômbia (38).
No Brasil, a maioria dos casos foi registrada em municípios dos estados do Norte. A região amazônica, considerada endêmica, concentra 78% dos casos notificados no país: Amazonas (3.228), Rondônia (1.713), Acre (263), Pará (74), Roraima (191) e Amapá (1). Além disso, a transmissão autóctone foi documentada em nove estados não amazônicos, alguns dos quais não haviam reportado casos anteriormente: Bahia (790), Espírito Santo (374), Santa Catarina (135), Minas Gerais (83), Mato Grosso (83), Rio de Janeiro (58), Piauí (19), Pernambuco (9) e Maranhão (3).
Fonte: Jota Info