Evento busca debater os impactos do racismo no acesso à saúde e planejar ações que garantam a equidade
No próximo dia 15 de fevereiro, das 12h30 às 17h30, o Conselho Municipal de Saúde promove a “Plenária da Saúde Integral da População Negra: Reconhecer, Desconstruir Mitos e Incluir”.
A atividade, que acontece no Anfiteatro Cyro Grossi, o “Pinicão”, localizado no CCB (Centro de Ciências Biológicas) da UEL (Universidade Estadual de Londrina) é uma idealização do Grupo de Trabalho da Saúde da População Negra e conta com o apoio da Aneps – Paraná (Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde) e PET-Saúde (Projeto de Educação pelo Trabalho para a Saúde – Equidade Londrina).
Laurito Porto Lira, diretor de Formação do Sindicato dos Bancários de Londrina e Região e um dos fundadores do Grupo de Trabalho da Saúde da População Negra, explica que a principal finalidade do evento é discutir as dificuldades que negras e negros enfrentam no acesso aos serviços de saúde e, ainda, discutir propostas que venham subsidiar a implementação da PNAIPN (Política Nacional de Saúde Integral da População Negra) no município.
As discussões também devem impactar a construção dos Planos Anuais e Plurianuais de Saúde de Londrina. As intenções são compreender as consequências do racismo no atendimento, planejar ações que visem romper com as desigualdades, melhorando a qualidade de vida desta parcela da população que constitui aproximadamente 26% dos londrinenses, segundos dados IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“O relatório final será encaminhado para o Conselho Municipal de Saúde para que possamos debatê-lo e buscar incluir no Plano Anual de Saúde e no Plano Plurianual de Saúde as propostas que auxiliaram na implantação e implementação da PNSIPN e melhorar o acesso ao SUS da população negra da cidade de Londrina”, ele assinala.
Ainda, de acordo com a liderança, o documento deverá ser enviado para a Secretária Municipal de Saúde, 24ª Promotoria do Ministério Público do Paraná e demais entidades que atuam na defesa no SUS (Sistema Único de Saúde) no estado.
O encontro é aberto a todos os interessados. Para se inscrever, é necessário preencher formulário disponível aqui. As vagas são limitadas.
Ao realizar a inscrição, os participantes podem incluir até 30 propostas a respeito dos assuntos a serem debatidos, sendo 10 em cada eixo. Essas propostas serão analisadas e selecionadas para serem votadas durante o evento.
Programação
Laurito pontua que o evento contará com uma mística inicial, seguida de uma palestra que irá introduzir o tema da saúde da população negra. Em um terceiro momento, acontecerá o debate das propostas, que devem contemplar três eixos: reconhecimento dos problemas e necessidades enfrentados pela população negra no acesso à saúde, desconstrução de mitos e o combate ao racismo estrutural e estratégias que incluam a população negra nas políticas públicas em saúde no município de Londrina.
“Esperamos ter um bom número de participantes e fazer um debate profundo, construindo propostas que nos traga uma imagem da atual situação enfrentada pela população negra em Londrina para acessar serviços de saúde e que esse grupo presente na plenária construa propostas que ajudem no combate ao racismo estrutural presente na saúde e que as propostas ajudem a iniciar um movimento capaz de no médio prazo implantar a PNSIPN em Londrina”, compartilha.
Levantamento realizado pelo IMDS (Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social) e pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) identificou que, no país, a população negra tem uma expectativa de vida menor do que a da branca devido às condições de vulnerabilidade a que são submetidas.
Com base no mapeamento, na década entre 2000 e 2009, as mulheres brancas viveram, em média, 76,6 anos, enquanto as negras viveram 72,5 anos. No caso dos homens, a diferença é ainda maior: 70,4 para os brancos ante 65,2 para os negros.
Na década seguinte, a expectativa de vida aumentou para as mulheres de ambas as raças e a diferença permaneceu praticamente inalterada, com 80 anos para as brancas e 76 para as negras.
Enquanto isso, o quadro piorou para os homens negros: a diferença entre eles e os brancos foi para 5,9 anos, com cada um chegando 74,5 e 68,6 anos, respectivamente.
Grupo de Trabalho da Saúde da População Negra
Conforme informado pelo Portal Verdade, criação do Grupo de Trabalho da Saúde da População Negra no Conselho Municipal de Saúde de Londrina marca um passo importante no combate ao racismo que permeia a sociedade brasileira e impacta diretamente a oferta de políticas públicas.
A iniciativa é fruto de articulações de membros do Coletivo de Sindicatos de Londrina e Região. Até a criação da frente, nenhuma ação voltada à aplicação do Programa Nacional de Saúde Integral da População Negra havia sido implementada em Londrina (relembre aqui).
“Londrina nos últimos anos tem tentado invisibilizar a existência da população negra na cidade, prova disso foi o fim do carnaval de rua na cidade e o desfile de escolas de samba. Esse evento vem mostrar para a cidade que a população negra esta presente na cidade de Londrina e que os gestores precisam olhar para ela e implementar as políticas públicas necessárias para essa população, trazendo mais dignidade, empatia, acolhimento e melhores condições de vida”, adverte Laurito.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.