Sindicato aponta que faltando apenas dez dias para a interrupção das atividades, trabalhadores permanecem sem saber para onde vão
Poucos dias antes de 2024 acabar, em 27 de dezembro, os Correios anunciaram que vão fechar 38 agências conhecidas como CEM (Correios Empresa) a partir de fevereiro de 2025. Além disso, a estatal também pretende reduzir o tamanho de outras 19 das 49 unidades que continuarão ativas.
Essas agências são responsáveis pelo atendimento a empresas, oferecendo diversos serviços personalizados. Além da preparação, coleta e envio de produtos em territórios nacional e internacional, os estabelecimentos também fornecem linhas de crédito, por exemplo.
No Paraná, quatro unidades localizadas em Curitiba, Ponta Grossa, Arapongas e Londrina foram selecionadas para interromper as atividades a partir do próximo mês. A estimativa é que aproximadamente 30 trabalhadores sejam afetados (confira listagem completa das agências impactadas aqui).
Ainda, a circular informa que a decisão foi baseada em um estudo interno realizado em outubro último. A conclusão, aponta o documento, é que essas agências teriam baixa viabilidade econômica. A expectativa do Palácio do Planalto é economizar cerca de R$ 8 milhões.
Porém, para Elisabete Ortiz, agente de Correios, presidenta do Sintcom-PR (Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Paraná) e diretora da pasta de Mulheres da FENTECT (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares), o fechamento das agências trará mais ainda prejuízos e não apenas financeiro, visto que os estabelecimentos também atendem a população em geral, que poderá ficar desassistida, principalmente, em regiões mais distantes.
“Na nossa análise, como representantes dos trabalhadores, a perda é imensamente maior que a economia, uma vez que tais clientes dessas unidades são de grandes contratos e garante a unidade superavitária. Além do atendimento a esses clientes de grandes postagens no Paraná, as unidades em pontos estratégicos que serão fechadas, atendem também postagens da comunidade, facilitando para a população do entorno o uso de uma unidade próxima para postagens de cliente pessoa física. Dessa forma, o fechamento dessas unidades impacta negativamente a população, o município e os trabalhadores”, diz.
Trabalhadores largados a própria sorte
Também de acordo com a liderança, até o momento, os trabalhadores apenas foram comunicados do fechamento das agências, sem mais informações sobre os destinos que deverão tomar.
“Até o momento, os trabalhadores não sabem para onde vão e nem exatamente o dia. A informação e comunicação por parte da empresa aos trabalhadores e representações é extremante falha. Os trabalhadores ficam sabendo através de informações noticiadas pelas mídias”, adverte.
Além da insegurança, Ortiz avalia que com o fim das unidades, os funcionários serão prejudicados de várias formas. Uma das principais preocupações são as transferências compulsórias para agências com quadros deficitários, levando a possíveis aumentos do tempo e custo de deslocamento.
Ela destaca que a categoria não recebe auxílio-transporte. Também, segundo a sindicalista, em algumas situações, trabalhadores chegam a dedicar em torno de 5 horas diárias, entre ida e volta, para cumprir o expediente.
Ainda, Ortiz pontua o receio dos funcionários em perder gratificações como o adicional de atendimento. Em 2008, os Correios criaram o Adicional de Atendimento em Guichê em Agências dos Correios (AAG), que garante o valor fixo de R$ 260.
“Com o sistema de redimensionamento das agências realizado frequentemente, as unidades estipulam uma quantidade de efetivo necessária para o atendimento e quem vem de fora fica sem esse adicional”, indica.
Como reflexos da sobrecarga decorrente de maiores deslocamentos, da pressão em face das transferências compulsórias, reduções nos salários e perda da função, a dirigente também alerta para o adoecimento físico e psicológico da base.
Privatização
Ortiz analisa que, embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tenha retirado os Correios do PND (Programa Nacional de Desestatização), a terceirização nas chamadas “atividade meio” como serviços de limpeza e linhas de transporte, já é realidade.
Ela também evidencia a dificuldade do Palácio do Planalto em defender a estatal mediante o Congresso Nacional.
“Vencemos a privatização com a chegada do presidente Lula, mas a ameaça continua com a terceirização. O Congresso está sentado em cima da privatização e todos sabemos dos interesses do centrão e extrema direita em vender a empresa Correios. O governo de frente amplíssima encontra dificuldade dentro dos Correios também. Com isso, uma gama muito grande de chefes com interesses políticos trabalham pra sucatear a empresa e soltam noticias mentirosas na tentativa de trazer opinião negativa da população muitas vezes mal informada”, assinala.
Ortiz compartilha que a Federação e seus respectivos sindicatos estão trabalhando contra o desmonte e em prol da permanência nas agências.