Funcionária relata que o deputado se comprometeu, na ocasião, a levar o caso ao conhecimento do presidente. Ele nega que tenha levado
No final de 2020, uma funcionária graduada da Caixa Econômica Federal pediu uma conversa particular com um dos vice-líderes do governo Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Queria falar pessoalmente sobre um assunto sensível relacionado ao banco.
O encontro foi marcado em um café na Asa Sul de Brasília. Lá, o deputado federal pelo Rio Grande do Sul Ubiratan Sanderson, do mesmo PL do presidente Jair Bolsonaro, ouviu a funcionária dizer que fora assediada sexualmente pelo então presidente da Caixa, Pedro Guimarães.
Ao parlamentar, ela afirmou que Guimarães teria se aproximado com toques indesejados durante uma viagem de trabalho ao Amapá e, depois, teria mandado recados estranhos durante outra viagem, desta vez à Paraíba.
A funcionária disse que rejeitou todas as tentativas, e que por isso passou a ser perseguida dentro do banco, apesar de sua ficha funcional ser repleta de elogios e bons indicadores.
A partir de então, imaginando que alguma providência poderia ser adotada, ela resolveu falar sobre os episódios de assédio com o vice-líder do governo, com quem tinha contato.
A iniciativa de fazer a denúncia ao deputado foi levada ao conhecimento, depois, de outras funcionárias da Caixa e chegou a ser relatada, recentemente, a autoridades que acompanham as investigações sobre as denúncias de assédio contra Pedro Guimarães.
Sobre as situações em que se sentiu assediada, a funcionária prestou depoimento nas apurações internas em curso na Caixa e na investigação conduzida pelo Ministério Público Federal, que poderá resultar em um processo criminal contra Guimarães.
A coluna falou com pessoas que conhecem de perto o episódio e obteve registros que confirmam o contato com o vice-líder do governo.
Deputado disse que falaria com Bolsonaro, afirma funcionária
Em uma conversa recente, a funcionária da Caixa afirmou que o deputado se mostrou sensibilizado com o relato feito por ela e prometeu levar o assunto ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno Ribeiro, responsável pela área de inteligência do governo.
“Ele me disse que falaria com o presidente Bolsonaro e com o general Heleno”, afirmou a funcionária, cuja identidade será preservada aqui por razões de segurança.
Vice-líder confirma que recebeu a denúncia
Procurado pela coluna, o vice-líder do governo confirmou ter conversado com a empregada da Caixa e ouvido o relato de assédio. Ele negou, porém, que tenha levado as informações ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro Augusto Heleno.
O deputado gaúcho sustenta que ficou esperando a funcionária retornar com provas, o que, segundo ele, não aconteceu – o parlamentar desconsidera o fato, relevante para o caso, de que ela própria dizia ter sido vítima de assédio.
“Ela falou comigo porque sou um deputado da base, sou vice-líder do governo… Eu disse: pois é, você tem algum caso concreto? Tu traz que eu levo adiante. Ela disse que iria procurar e trazer, mas nunca mais me procurou”, disse o deputado.
Vice-líder se elegeu na maré bolsonarista
Policial federal, Sanderson foi eleito deputado na onda bolsonarista de 2018 e está no fim de seu primeiro mandato.
“Eu falei para a menina: ‘Se tiver algum fato concreto me traz que eu encaminho a quem de direito’. Ela não trouxe. Eu precisava de algo concreto. Como eu vou levar um boato ao presidente da República? Jamais”, diz ele.
Indagado se, como deputado e vice-líder do governo, não teria a obrigação de adotar providências a partir de uma denúncia tão grave, Ubiratan Sanderson afirmou que não é corregedor da Caixa nem integrante do Ministério Público e que, envolvido com outros assuntos do mandato, também não buscou outras informações.
“Só depois eu vi, acompanhei pela imprensa, as notícias (sobre os casos de assédio na Caixa). Como não sou corregedor da Caixa nem agente do Ministério Público… Minha função de deputado também faz com que eu tenha uma capacidade de fiscalização, mas eu pedi fatos concretos e ela não me trouxe. (…) Eu faria o encaminhamento se tivesse alguma coisa concreta. Mas passou o tempo, eu (fiquei) envolvido com o mandato e não tive mais nenhuma notícia”, afirma o deputado.
Investigações estão em fase final
As investigações sobre o assédio na Caixa estão em estágio adiantado no Ministério Público Federal e no Ministério Público do Trabalho. As apurações internas realizadas pelo banco também estão perto de serem concluídas. Os casos, que resultaram na queda de Pedro Guimarães, um dos integrantes do governo mais próximos do presidente Jair Bolsonaro, foram revelados em reportagens publicadas em junho pela coluna.
Fonte: Redação Metrópoles