A liderança é a mais jovem parlamentar a ocupar uma das cadeiras na Casa
Ana Júlia Ribeiro, deputada estadual mais jovem eleita na história do Paraná, foi a terceira convidada do “Passando a Visão”, quadro de entrevistas do Portal Verdade. Escolhida por mais de 50 mil paranaenses, a parlamentar tem apenas 22 anos, e alcançou mais visibilidade ao ser uma das lideranças do movimento “Primavera Secundarista” em 2016. Na ocasião, estudantes ocuparam mais de 800 escolas no Paraná para protestar contra a reforma do ensino médio, proposta por Michel Temer (MDB).
A conversa ocorreu na última quarta-feira (19) e abordou assuntos como juventudes e política, direito à educação, igualdade de gênero, conservadorismo, religião e espaço público. A importância do engajamento na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República também foi levantada pela convidada. O segundo turno das eleições 2022, ocorre no próximo dia 30. Acompanhe abaixo algumas das falas da representante do Partido dos Trabalhadores (PT) durante entrevista ao Portal Verdade.
Juventudes e política
Ribeiro questiona a ideia de que os jovens não estão interessados na educação, trabalho ou participação política e ressalta que a ausência de perspectiva é de ordem macroestrutural, ou seja, para ela, o cenário de crise econômica que leva à dificuldade de ingressar no mercado de trabalho bem como as desigualdades que afetam acesso à direitos devem ser considerados antes de responsabilizar o indivíduo pela apatia.
“Muito triste quando a gente vê discursos que tentam colocar que a juventude não está interessada com nada e como se fosse culpa dela. Até existe um desinteresse de ordem individual. Mas quando é coletivo é porque há um problema maior como falta de infraestrutura, de um projeto crítico de educação que não prepare apenas para o mercado de trabalho, mas para o mundo”, sugere.
Ela lembra também que o número de jovens eleitores aumentou nestas eleições. De acordo com dados da Justiça Eleitoral do Paraná, em 2020, o estado possuía 36.725 jovens de 16 a 17 anos aptos a votar. Já em 2022, o contingente saltou para 86.128, representando um aumento de 134%.
Ribeiro também indica que, embora, a participação mais significativa de jovens na política lhe seja uma “pauta cara”, é necessário compreender “qual jovem está entrando na política”, isto porque, muitos são oriundos de famílias que já tem participação na vida pública, não alterando, assim, ciclos de poder. “Jovens na política sempre tiveram. Mas precisamos ver quem são eles. Porque jovens, assim como eu, que não vem de famílias com tradição política, não tem dinheiro, ainda é difícil, são poucos”, analisa.
Outro projeto de educação
A liderança declara que sua expectativa em relação aos primeiros meses do mandato na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) é obter mais informações sobre a organização da educação no estado. Também indica que buscará aumentar os recursos orçamentários e combater o movimento de militarização das escolas.
De acordo com balanço divulgado pela Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (SEED), em 2021, 186 colégios estaduais aderiram ao modelo cívico-militar, o que coloca o Paraná em primeiro lugar, com o maior número de escolas militarizadas entre as unidades federativas.
Ribeiro alerta também que tentará barrar processo de terceirização em curso na educação paranaense. Para a parlamentar, um dos problemas mais graves a ser enfrentado é o convênio firmado entre a gestão de Ratinho Júnior (PSD) e instituições de ensino superior privadas para que estas ofertem disciplinas no novo ensino médio. Os componentes curriculares são ofertados via aulas gravadas por monitores e exibidas em sala de aula.
Atualmente, a Unicesumar é responsável pela oferta. O serviço custou mais de R$ 38 milhões aos cofres públicos. “O problema não está apenas nos retrocessos, mas no modelo de educação empresarial em que apostam. A adoção de televisões em sala de aula em substituição aos professores é um absurdo por diversos motivos. Primeiro, porque é uma instituição privada assumindo a competência do estado. Depois, o que mais revolta, é que estas televisões roubam o direito à educação. O pilar da educação é o direito à dúvida e neste modelo isso não existe”, ela observa.
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Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.